A eleição de Tsipras na Grécia trouxe ondas de choque à escala global, nomeadamente no enfoque dado aos temas económicos. Nesse sentido, muito se tem falado na possibilidade de os gregos renegociaram, novamente, a sua dívida, e nesse sentido Portugal poderia aproveitar para fazer o mesmo.
Medina Carreira, porém, na TVI24, diz não partilhar deste ‘entusiasmo’, considerando que “o Governo tem estado a fazer o que deve fazer”, ou seja, “vai alargando maturidades [da dívida], dividindo os juros”, tudo porque neste momento “há dinheiro mais barato e mais facilidades”. Porém, o antigo governante considera que apesar da situação positiva, “isto não significa que daqui a três ou quatro anos não se tenha de pedir mais tempo” para pagar as dívidas.
Num segundo ponto, comentando a descida das taxas de juro para Portugal, Medina Carreira considerou a situação muito favorável, mas não afasta a hipótese de o país ter de continuar a tomar medidas de austeridade para equilibrar as contas públicas. Nesse sentido, elenca dois inimigos do Governo.
“O Governo confrontou-se com dois inimigos. Eu diria que a austeridade praticada não terá sido a melhor, mas teve dois inimigos fatais: o tempo e o Tribunal Constitucional. Dificilmente algum Governo neste país consegue fazer alguma coisa da política orçamental enquanto permanecerem estes dois elementos”, referiu sobre o tema.
As questões europeias e a escolha do modelo vigente
Num segundo tema, Medina Carreira fez questão de lembrar que a altura em que o modelo europeu foi desenhado a realidade era outra e, na altura, pensou-se que as economias europeias iriam comportar-se de outra forma. Por isso, face à crise atual, o antigo ministro defende que é preciso voltar a pensar a Europa.
“O problema da Europa é muito claro: Criou-se um modelo que não é sustentável, de grandes economias, com demografias equilibradas e sem Estados endividados, era uma festa governar. Isto mudou. Podia ter mudado só três anos, podia ser só um ciclo. [Mas], o modelo que criámos nos anos 50,60 e 70, não se vai sustentar”, afirmou o comentador da TVI.
Por fim, referindo ao Estado Social, de que se diz “grande apreciador”, e comentando o que se passa lá fora, mas também em Portugal, Carreira defende que “aquilo que se está a fazer, sustentar o Estado Social com dívida, é um crime. Para pagar agora umas pensões vai se pedir emprestado e depois tem de se pagar juros. Este ciclo se não for interrompido é muito mais complicado”, conclui.