"Continuamos numa forte tensão negocial, num jogo de chantagem. É uma roleta russa, mas está lá uma bala dentro", alertou o antigo ministro, à margem do 1.º Fórum da União de Exportadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Para Luís Amado, só na segunda-feira se vai perceber quais as consequências deste jogo:
"Vamos ver na segunda-feira feira, quando os mercados reabrem, como é que o BCE vai reagir e qual a decisão que vai tomar em relação à situação do sistema bancário grego. Não acredito que a banca grega resista a esta situação sem uma forte ajuda do Banco Central Europeu [BCE] e não vejo como é que o BCE pode garantir o consenso necessário para manter essa ajuda", disse, lembrando que o sistema bancário tem estado a ser alimentado diariamente por injeções de liquidez do BCE.
"Se isso acabar, haverá uma forte convulsão social na Grécia e a pressão interna sobre o Governo será muito grande", vaticinou.
Luís Amado considerou que a decisão do Governo grego de convocar um referendo para questionar o povo sobre a proposta dos credores, sem consultar os seus parceiros, "precipitou uma crise na relação entre a Grécia e o Eurogrupo", entrando-se agora em território desconhecido.
"Há risco para a União Europeia se a Grécia sair. O euro, desde logo, e a União Europeia entram numa nova fase com dinâmicas desconhecidas e cujos resultados serão imprevisíveis", admitiu, considerando que Portugal e outros países poderão ficar sujeitos "a uma forte especulação dos mercados", na sequência de uma "leitura diferente em relação à estabilidade da zona euro".
Afastou, no entanto, a possibilidade de um eventual incumprimento grego ter um impacto significativo na banca portuguesa.
"A dívida pública grega, hoje, está parqueada sobretudo nas instituições públicas, o setor privado tem uma dimensão residual na dívida grega", adiantou.
Durante o painel em que participou, Luís Amado salientou que se vive atualmente um processo de reconfiguração da geopolítica internacional e definiu a CPLP como "um instrumento fundamental para a as economias nacionais [dos nove países que integram a comunidade] se inserirem na economia global".