No Relatório de Estabilidade Financeira divulgado hoje, o BdP conclui que houve uma intensificação para a materialização dos riscos à estabilidade financeira, destacando, entre eles "um aumento da volatilidade dos mercados" relacionada com "o processo de consolidação orçamental em curso".
Para o banco central, "os desenvolvimentos de mercado refletiram uma maior incerteza dos investidores relativamente à continuação da consolidação orçamental e à prossecução das reformas estruturais em Portugal. Esta incerteza foi expressa por diversas organizações internacionais, tendo sido atenuada após a aprovação do Orçamento do Estado para 2016".
Nesse sentido, afirma a instituição liderada por Carlos Costa, para manter a confiança dos investidores internacionais na sustentabilidade da dívida é necessário que "o processo de consolidação orçamental prossiga e que continue a ser acompanhado pela implementação de reformas estruturais".
"Esta orientação é também fundamental para criar condições para o aumento do crescimento potencial e o reforço da competitividade externa da economia portuguesa", afirma o BdP.
Nesse sentido, o banco central considera que o aumento da exposição dos bancos a títulos de dívida soberana durante a crise económica e financeira deve ser revertido, numa altura também em que se perspetivam alterações regulamentares nesta área.
Outro risco que se intensificou desde a divulgação do último relatório de estabilidade financeira, em novembro, foi a manutenção das taxas de juro baixas - ou mesmo negativas - por "um período prolongado", o que pode "afetar particularmente" a rendibilidade do setor bancário em Portugal.
"Estes fatores dificultam a recuperação da rendibilidade sustentada pelo aumento do produto bancário, reforçando, assim, a necessidade de uma significativa redução de custos operacionais, num contexto em que os indicadores de eficiência operacional do sistema bancário português comparam desfavoravelmente com os de outros países da área do euro", salienta.
No que diz respeito apenas às taxas de juro reduzidas, o BdP admite que, no curto prazo, "este contexto pode ser favorável para a economia portuguesa, tendo em atenção a sua posição devedora, mas constitui um fator de pressão sobre a margem financeira do sistema bancário".
Embora se tenham observado a intensificação destes riscos, a maioria dos fatores de alerta para estabilidade financeira em Portugal, identificados no Relatório de Estabilidade Financeira anterior (divulgado em novembro de 2015), mantiveram-se, designadamente "o nível elevado de endividamento dos setores público e privado, a baixa rendibilidade no sistema financeiro e a elevada concentração no ativo do sistema a determinados setores, classes de ativos e geografias".
Quanto à concentração por geografias, o banco central salienta "a exposição direta e indireta a Angola", lembrando que a economia angolana enfrenta "desafios económicos e financeiros que poderão repercutir-se num aumento do crédito em risco e de imparidades no balanço dos bancos portugueses".
O endividamento do setor público e do setor privado "subsiste muito elevado, apesar da desalavancagem observada nos últimos anos", o que "confere à economia e, em particular, ao sistema financeiro, uma posição mais vulnerável a desenvolvimentos adversos na atividade económica e à perceção de risco dos investidores".
Isso poderá "traduzir-se em maiores níveis de incumprimento, por parte das empresas e das famílias, custos de financiamento mais elevados e/ou em dificuldades acrescidas no acesso dos emitentes nacionais a financiamento de mercado, com impacto negativo na atividade económica e na rendibilidade do sistema financeiro", alerta o BdP.