Governo avisa bancos que crédito fácil pode "pôr em causa" recuperação

O secretário de Estado adjunto e das Finanças advertiu hoje que um aumento do crédito sem uma correta avaliação do risco pode "pôr em causa" a estabilização financeira conseguida pelos bancos, "também com o esforço dos portugueses".

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Lusa
29/11/2017 14:52 ‧ 29/11/2017 por Lusa

Economia

Secretário de Estado

No discurso de encerramento do Fórum Banca, que se realizou hoje em Lisboa, Ricardo Mourinho Félix considerou que o sistema financeiro está estabilizado e que a plataforma do crédito malparado é um "contributo imprescindível" para a resolução do problema, considerando que "cabe agora ao setor bancário canalizar os recursos financeiros para as empresas mais produtivas e que geram mais emprego, avaliando o risco" associado.

O secretário de Estado avisou que o aumento do crédito imobiliário e ao consumo "sem avaliação de risco adequada não só não representaria uma estratégia de futuro, como seria um desperdício de uma oportunidade única de reorientação do negócio bancário em Portugal, pondo em causa tudo o que foi conseguido pelos bancos, mas também com o esforço de todos os portugueses".

Anteriormente, num painel com líderes de alguns dos principais bancos portugueses, o presidente do Crédito Agrícola, Licínio Pina, alertou para o facto de haver bancos que começam a "cometer erros do passado", considerando que há instituições que para ganhar quota de mercado estão a "comprar dinheiro mais caro e a vender mais caro".

"Obviamente que quando se perde quota e quer-se ganhar paga-se acima, mas isto tem custos e custos enormes", avisou.

Mourinho Félix defendeu também que "ao supervisor cumpre que as estratégias definidas pelos bancos não consubstanciem uma acumulação do risco sistémico, utilizando todos os instrumentos que tem ao seu dispor - micro e macro prudenciais -- para assegurar a preservação da estabilidade financeira".

O governante recordou que o enquadramento regulatório do setor bancário a nível europeu tem sofrido alterações, considerando que isso significa um desafio aos bancos, mas defendeu que "é essencial reconhecer que um mercado mais transparente, mais bem regulado e supervisionado traduz também um mercado mais equilibrado, mais atrativo para a poupança de investidores a quem a crise roubou a confiança".

Sobre a nova diretiva dos sistemas de pagamentos, Mourinho Félix disse que ficam sujeitos a regulação novos operadores, passando a "estar ao alcance das empresas Fintech [empresas tecnológicas de serviços financeiros] aquilo que antes era exclusivo do setor bancário, assegurando-se simultaneamente o reforço do enquadramento regulatório".

O secretário de Estado disse ainda que o Governo conta submeter à Assembleia da República os diplomas que transpõem estas diretivas europeias "muito brevemente".

Também a nova tecnologia Blockchain, que regista todas as transações das cripto moedas, "constitui um desafio", considerou Mourinho Félix.

"Esta nova tecnologia representa oportunidade, mas também um risco para as instituições financeiras, na medida em que põe em causa a forma como desempenham as suas funções tradicionais, mas também um desafio aos bancos centrais pela forma como pode vir a interferir de forma visível na política monetária", afirmou Mourinho Félix.

Para secretário de Estado, o futuro da moeda virtual "deve ser algo de reflexão e de ação coordenada à escala global para assegurar que, desta inovação tecnológica, resulta o bem-estar dos povos à escala global".

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