"Não podem existir portugueses de segunda e nós, atores, somos há anos"

Quase a completar 41 anos de carreira, celebrados este sábado, 24 de abril, Noémia Costa abriu o seu coração em entrevista ao Fama ao Minuto para falar do amor pela arte de representar, sem deixar de fora o seu lado ativista e solidário. O que também não ficou esquecido foi o nascimento do neto, o pequeno Lucas, fruto do casamento da filha, Joana França, com Nuno Pires.

Notícia

© Ricardo Santos

Marina Gonçalves
23/04/2021 10:15 ‧ 23/04/2021 por Marina Gonçalves

Fama

Noémia Costa

No conforto do seu lar, à distância de um ecrã, Noémia Costa começou por recordar em conversa com o Fama ao Minuto os primeiros passos nos palcos. Aos 16 anos entrou no mundo do espetáculo “de uma forma simples”.

Participou no ‘À Procura de Novos Valores’ e pensava que ia apenas cantar uma canção, não esperava que fosse ouvida no Coliseu dos Recreios. Não saiu vencedora do concurso promovido pelo Siarte (Sindicato das Artes e Espectáculos), no entanto, não deixou de receber um grande 'prémio': o convite para ir em digressão pelos Estados Unidos e Canadá.

“Pensei que era um sonho que estava a viver naquela noite”, recordou a atriz, contando que correu muito feliz para junto do pai para partilhar a novidade e pedir autorização para embarcar nesta grande aventura. Inicialmente, a resposta foi “não”, mas depois, com a força da mãe, o pai acabou por "entender" e autorizar a sua ida naquele que foi o início da carreira nas artes. “Foi uma aventura que faz no dia 24 de abril 41 anos”.

A partir desse momento pensou logo que era este caminho que queria seguir? Nunca ponderou uma outra profissão?

Quando era miúda, na escola primária – se bem que desde pequenina que animava as festas lá em casa -, a minha mãe foi chamada à escola e a professora disse-lhe que havia duas profissões que achava que eu tinha hipóteses de seguir. Uma delas era advogada, porque disse que eu era uma defensora de causas – e estava a falar de uma miúda de sete anos –, a outra era atriz.

O meu pai foi cantor, deixou de cantar quando eu nasci porque - já existiam os meus irmãos mais velhos e depois mais tarde veio o Luís – ele entendeu que a vida só da música não podia fazer o sustento da família que ele queria. Ele não queria que a minha mãe trabalhasse, queria que ela acompanhasse os filhos. A minha mãe era extremamente criativa e animava os serões lá em casa. Penso que fui buscar um bocadinho deles os dois.

Estreou-se em televisão a convite de Nicolau Breyner em ‘Era uma Vez 83’, em 1983… Que memórias guarda com o Nico (como era carinhosamente tratado) e o que mais aprendeu?

Que o representar, o falar a verdade a mentir, no fundo, o vestir a pele de outra pessoa, é acreditar o mais possível naquilo que estamos a fazer. Temos de nos despir de nós próprios e vestir a pele da personagem, e convictamente acreditar que somos aquela pessoa com a maior naturalidade do mundo. Quer em drama, quer em comédia. Até hoje é aquilo que sigo e penso que não me tem saído mal.

Esta pandemia foi um bocado o chamado de 'tu não podes e tu não controlas absolutamente nada'

Está agora a fazer a sitcom ‘Patrões Fora’ e percebe-se que se diverte muito com este projeto.

Muito, o que é muito bom. É uma bênção porque além de fazer aquilo que gosto, estamos a viver uma época extremamente difícil e estar a trabalhar quando muitos colegas estão sem trabalho, a passar dificuldades - e eu sei o que é passar dificuldades… Estou a falar relativamente às artes que são, sem dúvida, muito maltratadas neste país, nem sequer são reconhecidas. Embora tenha consciência que existe uma população imensa a passar dificuldades, mas como estamos a falar nas artes, refiro-me aos meus colegas.

Mas é, de facto, uma bênção enorme fazer aquilo que amamos, sermos pagos por isso e ainda por cima nos divertirmos. Todos nós temos alturas de desespero, no fundo. Esta pandemia foi um bocado o chamado de ‘tu não podes e tu não controlas absolutamente nada’. Embora acho que existem muitas pessoas que acham que são imortais e que controlam tudo, mas nós não controlamos nada.

Sente que este trabalho acaba por ser uma lufada de ar fresco na sua vida e carreira?

Sim. Acabei de fazer ‘Terra Brava’, que foi um projeto intenso, duro, e ao mesmo tempo de uma bênção maior também. Foi-me dada uma personagem fantástica, trabalhei muito para ela, mas em ‘Terra Brava’ perdi a minha mãe, iniciou-se uma pandemia, não nos podíamos sequer chegar perto um dos outros, nós atores que vivemos do toque e dos afetos…

‘Bem-Vindos a Beirais’ foi um êxito que acho que não faria sentido algum voltar a ser feito porque todas as coisas têm o seu tempo 

E era tudo desconhecido ainda…

Sim, era tudo desconhecido... A seguir a isso devo também, obviamente, ao convite do Daniel Oliveira para fazer não só a ‘Máscara’, como também participar no ‘Olhó Baião’ e depois vem o ‘Patrões Fora’. Sou uma pessoa muito grata a todos aqueles que me ajudam na vida. Sou-lhe eternamente grata, assim como sou ao Nicolau. Nós precisamos todos uns dos outros - da ajuda, do amor -, de uma forma muito mais forte do que às vezes as pessoas acham que não faz diferença.

Este ‘Patrões Fora’, essencialmente nós temos presente que durante esta pandemia temos que levar alegria às pessoas, isso nós conseguimos fazer. É uma equipa extraordinária. Ainda bem que o João Baião criou a dona Odete - que foi criada muito tempo antes, mas no fundo a dona Odete é que nos traz até aqui com uma ideia fantástica da Vera Sacramento.

‘Bem-Vindos a Beirais’ foi um dos muitos projetos de destaque na sua carreira. O que ficou deste trabalho?

É daquelas coisas que não se explica porque quando se está a fazer um projeto quase três anos… Era uma família, e ainda hoje é uma família e temos um grupo onde nos falamos. Transformo tudo o que é bom em bênçãos e, portanto, ‘Bem-Vindos a Beirais’ foi um êxito que acho que não faria sentido algum voltar a ser feito porque todas as coisas têm o seu tempo.

‘Bem-Vindos a Beirais’ teve o tempo que deveria ter, vivemos muita coisa. Assim que finalizou, ao início de 2016, perdemos o José Boavida, que fazia de meu marido e com quem tinha uma ligação muito grande. O Zé era um colega extraordinário, toda a gente sabe isso. Iniciei o ano de 2016 a perder um colega e um amigo, e finalizei a perder o meu pai. Portanto, 2016 é para [deixar de lado].

A Noémia tem feito questão de manter viva a memória do José Boavida, sobretudo nas redes sociais. Esta é a melhor homenagem que se pode fazer a um artista, recordá-lo?

Claro que sim! Estou a recordar, obviamente, o José Boavida como ator, mas estou a recordá-lo como amigo. É bom que as pessoas percebam uma coisa - pelo menos nesta altura acho que a pandemia traz isso -, se partires agora, com muita sorte vais conseguir ir vestido. Se partires com a Covid-19 vais nu como vieste ao mundo. As pessoas têm de ter consciência que tudo isto é passageiro. A única coisa que faz diferença no meio de tudo isto é o amor e a honestidade. E dou por mim a achar que todas as homenagens que possamos fazer, quer a colegas ou a familiares, é recordá-los com todo o amor do mundo.

Para mim as redes sociais são relativas, mas todos vivemos as redes sociais hoje em dia, e quando aparece uma memória com o José Boavida, e porque eu não me esqueço dos dias, acompanhei isso, fui eu e o José Raposo que fomos logo diretamente para o hospital… Portanto, é sempre uma homenagem. Mas lembro-me do Zé frequentemente, lembro-me de ‘Bem-Vindos a Beirais’, está muito presente e vai estar sempre presente na minha vida. O que não me esqueço são das pessoas que marcaram a minha vida. E as pessoas que marcaram a minha vida, como o Zé, o Nico e tantos outros colegas que já partiram, e pessoas anónimas, obviamente, sou tão grata. Não as vou esquecer, eu lembro-as.

Estou extremamente realizada, mesmo quando não tive trabalho. Primeiro não é o trabalho que nos define, mas estava tão grata ao longo deste tempo todo, e estou, por ser atriz, que isso é o culminar de tudo

Já participou em várias novelas e sitcoms com papéis mais cómicos, mas já disse que gostava de fazer uma vilã...

A Prazeres em ‘Terra Brava’ trouxe-me todos os registos. Ela tanto nos levava às lágrimas, como à raiva, à tristeza, à alegria, foi um gráfico fantástico de emoções. Queria fazer a vilã sabendo à partida que às vilãs não são amadas por ninguém. É um desafio que gostava de fazer como atriz, e acredito que se tiver que acontecer, acontece, não é uma coisa com a qual vivo obcecada. Mas gostava de ver o outro lado da história, ver o outro lado da mente de gente maldosa, perversa, que também traz muito agora ao cimo aquilo que se passa nas redes sociais, o destilar do ódio, da maldade, do rancor… São pessoas que acho que nem se conseguem olhar ao espelho.

Hoje vive-se os extremos. De pessoas que são gratas e que transmitem o amor a pessoas que são péssimas, que falam do que não sabem nem sonham, a pessoas mentirosas… Queria fazer uma vilã absorvendo tudo aquilo que tenho assistido nos últimos dois anos da minha vida, se bem que de há um ano para cá tem sido mais proeminente… Mas gostava de fazer esse papel por isso, sabendo que se conseguisse fazer essa vilã e fosse odiada, então tinha feito um bom trabalho.

Quando esteve à conversa com Júlia Pinheiro, no ano passado, disse que “um ator nunca está satisfeito”. Mas consegue sentir-se realizado?

Estou extremamente realizada, mesmo quando não tive trabalho. Primeiro não é o trabalho que nos define, mas estava tão grata ao longo deste tempo todo, e estou, por ser atriz, que isso é o culminar de tudo. O ser criativo nunca está satisfeito. E satisfeito não é sinónimo de ingratidão, nem de insatisfação. O que quer dizer é que não estamos satisfeitos porque queremos fazer mais, fazer coisas. Um criativo está sempre a pensar, a criar, a ver novas coisas… nós absorvemos tudo. E acredito que não são só os atores. Além disso, acho que o ser humano nunca está satisfeito.

Ainda hoje não entendo porque é que tive de passar pelo deserto porque tenho a certeza e a plena consciência que nunca fiz mal a ninguém, nunca desejei mal a ninguém

No fundo também é isso que nos faz viver, porque se acharmos que já está tudo feito…

Sim, é isso. Nós temos de estar sempre com o buscar mais, o querer fazer melhor. É isso que acho que os atores têm. O querer fazer mais e melhor, atingir a perfeição que nunca vamos atingir... Mas isso é transversal no mundo inteiro, qualquer ator dirá isso.

Já falou várias vezes da fase em que esteve parada na representação e que a levou a fazer as malas e a partir para Inglaterra, onde cuidou de doentes com demência. Certamente viveu coisas que nunca pensava que iria viver… De que forma é que esta fase mudou a sua vida, ou a maneira de ver a vida?

Ainda hoje não entendo porque é que tive de passar pelo deserto porque tenho a certeza e a plena consciência que nunca fiz mal a ninguém, nunca desejei mal a ninguém. Portanto, não entendo. Acredito é que os propósitos que Deus tem para nós, nós não os vamos entender. E isto vai desde o crente ao ateu. Tinha de fazer aquela travessia.

A mim trouxe-me o maior conhecimento pelo ser humano e uma forma de estar na vida muito mais suave. Aprendi a relativizar a maldade. Não dou a mínima para a maldade, relativizo-a. Não dou importância a quem não merece, a coisas que nunca trazem nada. E tudo aquilo que não me traz nada de bom não me faz falta, deito fora, vai para a reciclagem e fica lá. Conheci pessoas e situações que nunca imaginei vir a passar na minha vida, consegui amar pessoas que não me eram nada e elas conseguiram dar-me amor na passagem pelo deserto. E estou muito grata a Deus por isso. Eu consegui.

Se voltasse a ficar afastada das artes voltaria a partir para outro país à procura de um novo emprego, ou seja, voltaria a fazer essa aventura?

Voltaria a fazer tudo aquilo que Deus permitisse que eu tinha que fazer. Para já porque não é uma profissão que me define enquanto ser humano, depois porque nunca me coloquei nem nunca me irei pôr em pedestal nenhum. Sou um ser humano igual a todos os seres humanos com uma profissão apenas diferente que está mais exposta. De resto, não sou diferente de ninguém. Todos têm toda a importância neste mundo.

Não podem existir portugueses de segunda e nós, atores, somos portugueses de segunda há muitos anos

Mas sente, de certa forma, que para trabalhar nas artes em Portugal também é preciso ter a consciência de que pode ser preciso arregaçar as mangas e fazer outra coisa completamente diferente?

Claro que sim. Penso que a nossa falta de união de classe é tão grande que os políticos se aproveitaram disso para não nos reconhecerem sequer. Acho que deveríamos definir e não criar vários movimentos. Devíamos fazer a união total, conscientemente que aquilo que estou a dizer é uma utopia. A não ser que passem todos por uma crise tão grande como alguns estão a passar que entendam que a união faz toda a diferença. Quando nós nos unirmos, de uma vez por todas deixam de brincar connosco.

Mas acha que todas estas manifestações que têm vindo a ser feitas - que já não são de agora, mas que agora se têm intensificado com a pandemia - podem dar fruto?

Acho que sim! Só que quando digo os vários movimentos falo logo em desunião de classe. É como ser do Benfica, do Sporting, do Porto… Temos de ter em foco a carteira profissional e direitos dos artistas, tabela salarial. Não é mais nada. Isso tem de se fazer e ser feito, da minha perspetiva, apartidariamente. Nós não somos portugueses de segunda, não podem existir portugueses de segunda, e nós atores somos portugueses de segunda há muitos anos. Retiraram-nos a carteira profissional homologada pelo Ministério do Trabalho, como era, tiráramos a caixa que nós descontávamos, passaram-nos para a Segurança Social… Então que venham trazer-nos a carteira profissional, o reconhecimento, os direitos a que temos direito. Nós neste momento só temos deveres.

A solidão é uma coisa que dói bastante e mais deve doer àqueles que se deixam ser usados por ela. Eu não deixo que a solidão me use

Quando ingressou nesta profissão já tinha esta noção de que é instável, ou quando começou não havia esta realidade da instabilidade?

Aos 16 anos não temos noção de nada. A única coisa que temos no foco é de seguir o sonho. À medida que fui crescendo na profissão e tive a honra de trabalhar com grandes nomes, vi-os dizer que se não existir união de classe isto ia trazer graves problemas à minha geração e às gerações seguintes, e foi o que aconteceu. A brincar, a brincar, dia 24 de abril faço 41 anos de profissão e as coisas não melhoraram. Estão piores agora. Existem vários movimentos de apoio aos colegas que estão a passar por situações difíceis que o desemprego traz, desde não ter como pagar as contas. São períodos angustiantes, já passei por eles e não foi no meio de uma pandemia. Não quer dizer que o facto de não ser agora comigo eu não me importe com eles.

Voltando a recordar a entrevista no programa ‘Júlia’, houve outra frase que me despertou a atenção. “Não deixo que a solidão me use, eu é que uso a solidão”. Estando agora num momento em que muitas pessoas estão sós… De que forma é que se pode contornar a solidão?

Não deixo que a solidão me use porque não deprimo com o facto de estar sozinha. Primeiro o amor não se procura, o amor chega. Não posso ir à procura de uma pessoa só porque estou sozinha. Tenho imensa coisa para fazer, tenho amigos com quem falar, tenho saúde, tenho trabalho, tenho um teto… A solidão é uma coisa que dói bastante e mais deve doer àqueles que se deixam ser usados por ela. Eu não deixo que a solidão me use. Faço o meu tempo e consigo gerir o meu tempo conforme determino. Há dias em que faço durante 24 horas mil e uma coisa, e há dias em que não me apetece fazer nada, e não faço. Há dias em que me apetece estar a ver séries na Netflix e fico a ver, não faço mais nada, porque me apetece.

Acha que aprendermos a estar connosco é a melhor arma?

Completamente. Aprender a aceitar-me, a aceitar como somos e, sobretudo, não fingir nunca que somos outra pessoa. Para já não iria permitir isso em mim. Sou aquilo que sou, sou transparente, não sou melhor nem pior que ninguém, sou eu própria. Se gostarem, gostam, se não gostarem eu não tenho nada a ver com isso. Deus não agradou a todos e ainda hoje não continua a agradar. Quem sou eu para agradar a todos, e não estou minimamente interessada nisso. Nem sequer penso nisso. Tenho é que ser um ser humano cada vez melhor para os outros.

Não vivo só para aqueles que amo e que me amam, vivo para ser um ser melhor para toda a gente que se chega ao pé de mim e eu poder dar uma palavra de esperança, de amor, porque para bater já basta a vida. Acredito que Deus é amor, portanto, ele não é um Deus que castiga. Não vou bater em ninguém, as pessoas precisam de errar para o crescimento que têm de ter como seres humanos. Precisam da passagem pelo deserto para crescerem.

Fico é com muita pena com aqueles - sinto isto mesmo de coração - que tristemente são podres como seres humanos, e não digo isto com raiva, digo com muita tristeza. Existem pessoas que só estão bem a falar mal, a fazer mal, porque são maus, não gostam deles próprios. São pessoas que não se aceitam sequer e transmitem todo esse ódio, toda essa carga para qualquer pessoa. Nós atores estamos mais expostos e às vezes vejo [isso].

Utilizo muito o Instagram e às vezes fico completamente atónita com comentários que leio. Não nas minhas páginas porque elas funcionam como a minha casa. Não preciso que cheguem lá e dejetem, portanto, são logo bloqueados. Mas vejo comentários de raiva, de rancor, e pergunto o que é isto, onde é que esta gente está? São pessoas que estão na escuridão. Isto é um bocado aquela história da serpente que quer comer o pirilampo, e o pirilampo pergunta-lhe porque é que ela o quer comer, e ela responde: porque tu tens luz. Toda a árvore tem fruta boa e fruta má, e só a fruta boa é que poderá dar novos galhos e novos frutos, os outros ficarão pelo caminho.

Como a Joana casou muito cedo com o Nuno, achei que ia ser avó logo a seguir. Mas isso não aconteceu porque eles tinham outros objetivos. Portanto, esperei pelo Lucas, esperei ser avó durante 15 anos 

E depois destes meses atribulados, especialmente por causa da pandemia, o que é que gostava de viver ou ver nestes próximos tempos?

Saúde para a humanidade. Gostava de poder ver notícias, que ultimamente não vejo, recuso-me. Precisamente porque não quero sentimentos menos bons dentro de mim. Não é falta de informação porque a informação temos todos os dias e por várias formas. Existem coisas que é como ter uma ferida aberta e estar a carregar. Mete-me um nojo terrível, portanto, escuso-me a isso. Mas gostava de ver, e acredito nisso, um noticiário a dizer: a humanidade está curada, especialmente deste vírus.

O mundo já bateu no fundo há muito tempo, mas o que prevalece aqui são as pessoas de bem. Queria muito ligar a televisão e ver: conseguimos dissipar este vírus. E tudo aquilo que de mau é feito. Tudo aquilo que se está a passar em Moçambique que é gravíssimo, e é incrível porque acho que o silêncio é quase tão grave como os que estão a matar as pessoas. O silêncio é quando tu permites que o mal continue a ser feito. Há aqui muita coisa envolvida e o Homem, sem dúvida alguma, às vezes dá jeito falar e outra vezes dá jeito ficar calado. 

No início desta pandemia muitas pessoas diziam que acreditavam que as coisas iam mudar no sentido da entreajuda, mas há também quem acredite que isso não está a acontecer. O que é que a Noémia sente?

O ser humano que é bom vai continuar intrinsecamente bom e cada vez melhor. As pessoas que são más vão continuar cada vez pior. E acho que é isso que está a acontecer. Acredito que o ser humano bom continua a fazer coisas boas, e existe realmente gente que se preocupa com o outro, gente que se uniu para levar refeições às famílias que não têm. Gente que se uniu através desta ou daquele organização para dar roupa, dar os bens essenciais. E isso continua a ser feito. Existe gente que continua a marimbar-se, mas a vida também é um ciclo. Da mesma medida que as pessoas julgam, da mesma medida vão ser julgados, portanto, é preciso nem sequer julgar. É preciso intervir e ajudar, esta é a minha forma de estar na vida. Não quero ganhar nada com isto e que digam que sou muito boazinha, não, eu sou assim. Não estou à espera de medalhas de ninguém, nem as quero.

Falando de fases muito felizes… Foi avó no ano passado... Este foi o segundo dia mais feliz da sua vida?

O primeiro, obviamente, que foi ser mãe. Também fui mãe muito cedo, só me separam 21 anos de diferença da Joana. O Lucas, quando soube da gravidez, eu já estava de volta a Portugal a gravar a ‘Terra Brava’ e estava a assistir ao final da minha mãe. Quando a Joana me deu a notícia foi um chorar de alegria como eu já não sentia há muitos anos. E fiquei à espera da chegada do Lucas, acompanhei tudo isto.

Também ninguém pensava que iria acontecer uma pandemia, ninguém pensava que durante meses não iria poder abraçar a minha filha para que não lhe transmitisse absolutamente nada, ficarmos fechadas em casa e falarmos através do FaceTime... Acho que ela e todas as mães do mundo inteiro foram umas guerreiras, todas aquelas que continuam a dar à luz fruto do amor que é essencial à vida. Como a Joana se casou muito cedo com o Nuno, achei que ia ser avó logo a seguir. Mas isso não aconteceu porque eles tinham outros objetivos. Portanto, esperei pelo Lucas, esperei ser avó durante 15 anos.

E como é ser avó?

Às vezes olho para ele e fico em silêncio a adorá-lo. Ter netos é a sobremesa da vida. Deus já nos deu o doce com o facto de sermos mães e pais. É uma bênção tão grande ter os filhos perfeitos e saudáveis, é motivo para louvar a Deus todos os dias. E depois ver um neto como o Lucas, ele é um menino extraordinário, é mesmo especial em tudo.

Leia Também: "A minha vida passará sempre pela comunicação e pela televisão"

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