Marido de Maria João Abreu abre coração e conta tudo em emotiva conversa

João Soares esteve à conversa com Júlia Pinheiro. 

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© Instagram - mariajoaoabreuoficial

Notícias ao Minuto
13/07/2021 19:26 ‧ 13/07/2021 por Notícias ao Minuto

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João Soares

Precisamente dois meses depois da morte de Maria João Abreu, foi transmitida a entrevista do marido, João Soares, no programa ‘Júlia’, esta terça-feira, 13 de julho. 

Foi no bar ‘Templários’ que decorreu este momento, um lugar “especial” onde João Soares tocou várias vezes e Maria João Abreu o ouvi-a, e também cantava. Com uma vida dividida entre a gestão e a música, começou por lembrar o momento em que conheceu Maria João Abreu.  

O músico fez parte do musical 'Jesus Cristo Super Star' de Filipe La Féria nos espetáculos em Lisboa, onde tocava, e não sabia quem era a atriz. Apesar de se terem cruzado várias vezes, só num encontro com um amigo em comum, no final do espetáculo de estreia no Portimão Arena, é que falaram pela primeira vez. 

“Um amigo meu disse para irmos falar com a Maria João Abreu. Perguntei quem era, ele disse-me que tinha sido casada com o José Raposo, e eu por vergonha disse que já sabia quem era. Depois chegámos perto dela e falámos”, recordou. 

Entretanto, houve duas festas onde ambos estiveram e depois destes encontros voltaram a ver-se na praia, novamente através do amigo em comum. “Estava a fazer mais ou menos um ano desde a separação do Zé e estava a bater-lhe um bocadinho mais forte, e eu limpei-lhe uma lágrima”, contou o músico. Depois deste episódio chegou o primeiro beijo, mas só cerca de duas a três semanas depois. 

Juntar-se à família de Maria João Abreu “não foi fácil”. “Eu não sabia quem é que eles eram, quando passo a saber, há um peso pelo facto de serem figuras públicas que, não sei porquê, existe”, confessou.

“Assustou um bocadinho. Nunca dei parte fraca, mas obriga uma pessoa a pensar e a reposicionar-se um bocadinho perante muita coisa. Apesar de tudo, com ela era fácil por fazer aquilo que ela fazia. Ela tratava toda a gente de forma igual. Com um carinho e o amor que era só ela que conseguia fazer. Fosse onde fosse, podia não conhecer ninguém, mas sentia-me sempre acompanhado por ela”, lembrou.

O dia em que casou com Maria João Abreu

Casaram-se no ano em que o filho mais novo da atriz, Ricardo Raposo, deu o nó com Rita. E foi precisamente no dia em que faziam quatro anos de relação, 1 de setembro de 2012, na praia de São João da Caparica, depois de João ter pedido a atriz em casamento no casamento de uma prima.

“Ela estava linda”, disse, referindo que ambos ajudaram a preparar a cerimónia. “Passamos essa fase toda para no final da tarde irmos preparar-nos para a festa. E ela apareceu linda de vestido branco, claro”, acrescentou.

Ter um filho com Maria João Abreu?

A questão de terem um filho esteve em cima da mesa. “Tentámos, mas não foi possível”, contou, frisando que este não foi um “problema”. “Não quer dizer que não gostava de ter sido pai, mas gostava mais dela”, explicou.

No entanto, acha que a atriz “sofria” um bocadinho com esta questão: “Acho que sentia um bocadinho de culpa. Sempre que se falava sobre isso eu dizia que para mim [não era um problema]. Aliás, eu neste momento já não queria ser pai, já sou avô e tenho muito orgulho e muito amor nisso”.

Os últimos meses antes da partida

Apesar de ser uma pessoa muito alegre, Maria João Abreu estava a viver uma fase menos boa. “Para já com esta história da pandemia e do confinamento, ela ficou muito preocupada com toda a gente que conhecia e com o mundo. Depois quando fomos todos apanhados pela Covid e o pai dela não resiste, ela nunca chegou a recuperar totalmente do luto do pai. Ele morreu em novembro de 2020 e ela só no dia 14 de abril, quando fez anos, é que me disse que tinha de dar ‘uma volta a isto’", contou o músico.

“Ela estava muito cansada também. O ‘Golpe de Sorte’ foi um período que a consumiu muito, obviamente, também teve muito prazer a fazer. Depois começou logo a gravar ‘A Serra’ e a questão do pai… Não houve aqui uma grande recuperação”, acrescentou. “De repente, ela própria sentiu a necessidade de recuperar a alegria”, continuou.

Sobre o estado de saúde da atriz, explicou: “A João queixava-se de dores de cabeça, mas desde que a conheço que tinha dores de cabeça. Podia ser um sintoma ou não. Ela não se cuidava tanto como devia. Ela cuidava primeiro dos outros e depois, se tivesse tempo, cuidava dela”.

Estas dores de cabeça ‘inquietavam-na’, “mas não o suficiente para ter feito alguma coisa mais cedo”.

Após insistência de João Soares para a atriz ser vista por um profissional de saúde, Maria João Abreu acabou por ir ao médico e fazer uma TAC, na terça-feira antes de se ter sentido mal. Recorde-se que a artista foi internada no hospital na sexta-feira, 30 de abril.

“Consegui depois ver a TAC e não tinha contribuído para nenhuma informação”, disse, aproveitando também para referir que o facto de Maria João Abreu estar mais “magrinha não era por uma questão de saúde”.

“Ela tinha fibromialgia e ao retirar o açúcar e o glúten, fez com que o corpo dela desincha-se, muito, e quando começas a comer comida mais saudável, o corpo acaba-se por se adaptar”, destacou ainda.

O dia em que Maria João Abreu se sentiu mal

Como já tinha sido revelado por João de Carvalho, foi no camarim, quando estava a gravar a novela ‘A Serra’, da SIC, que a atriz se sentiu mal. Teve “uma dor que dizem que é do outro mundo, que é quando o aneurisma rebenta”. “É tão grande que as pessoas desmaiam, que foi o que aconteceu com ela”, detalhou João Soares.

Nesse momento, a artista estava com os colegas José Mata e Carla Andrino, que foram os primeiros a socorrê-la. “Toca o telefone, era o número da João e quando atendo era a voz do Mata. Disse-me que a João se tinha sentido mal, que tinha tido uma convulsão, que tinha desmaiado, mas que já tinha voltado a si e que o INEM estava a caminho”, lembrou.

“Muitas vezes, quando os aneurismas rebentam as pessoas ficam logo afetadas de alguma maneira. A João não. Rebenta o aneurisma, ela volta a si, plena das suas funções. Quando cheguei ao hospital ela ainda não tinha ido à triagem, estava à espera, mas estava numa maca acompanhada pelos dois bombeiros. Estive com ela, falei com ela. Ela estava muito sonolenta nessa altura, e com frio. Ela é que deu todas as indicações ao médico da triagem, explicou tudo o que se tinha passado, os medicamentos que tomava… Depois entrou e eu não a pude acompanhar por causa da Covid”, contou.

“Naquela altura [não senti perigo]. Ao final do dia chamam-me, entregam-me a roupa dela e dizem que ela ia ficar em observação e que provavelmente iria ser transferida para outro hospital. Aí senti [dúvidas]. Fico meio desnorteado nestas situações e não sei muito bem o que me disseram, mas recordo que me disseram qualquer coisa de acidente vascular”, lembrou.

Os dias em que esteve internada no hospital

Entretanto, no dia 30 de abril, João Soares foi para casa e quando chegou foi informado pelo hospital que Maria João Abreu ia ser transferida para outra unidade hospitalar, o Hospital Garcia de Orta. 

“No dia seguinte liga-me uma médica, que é quando tenho, pela primeira vez, a noção da gravidade da situação, quando ela me diz que nestes casos existe 50% de probabilidade da pessoa sobreviver. Quando é 50% de probabilidade de ganhar a lotaria parece que é pouco, quando é de sobrevivência é muito”, partilhou.

Maria João Abreu foi depois operada. “E aí corre bem, no sentido que ela fica bem, mas não conseguem tratar do aneurisma, não conseguem lá chegar”.

“Ela acorda dessa operação, ao início da noite falei com ela ao telefone. Sonolenta, mas consciente. Estava sob o efeito da anestesia, não estava assustada. Entretanto, um outro médico que ia fazer o cateterismo ligou-me e disse-me para estar no domingo de manhã, às 9h, no hospital que podia ir vê-la. Às 8h já lá estava. Dormi pouco ou nada, e estive com ela, falei com ela, fiz uma videochamada para a mãe e para a irmã, ela pediu. O médico depois disse-me que tinha corrido tudo bem, que ela estava bem e que também este era um processo que era de minuto a minuto”, recordou.

“Fui com ela até ao quarto, passado um bocadinho acordou, o Miguel e o Ricardo [filhos de Maria João Abreu em comum com José Raposo] foram ter comigo, falámos com ela. Ela mexia tudo, articulava bem... Depois mandaram-nos embora para ela repousar. Por volta das 19h/20h, ligaram-me a dizer que ela tinha tido uma hemorragia e a partir daí [nada a fazer]”, acrescentou.

João Soares destacou o trabalho incrível dos médicos e enfermeiros que acompanharam a mulher, confessando também que, apesar de tudo, houve sempre um pouco de esperança.

“Às vezes saíam notícias a dizer que ela estava melhor, e nós a saber que isso era mentira e que as coisas não eram nada assim”, disse, destacando que nesta fase a família se uniu e estiveram sempre ao lado uns dos outros a apoiarem-se neste momento difícil, incluindo José Raposo, ex-marido da atriz.

O dia em que Maria João Abreu partiu

O dia 13 de maio acabou por ficar marcado com a partida da atriz. Já com a noção de que “a situação era irreversível”, João Soares pediu autorização para levar uma guitarra para o hospital para tocar para a atriz.

“Nesse dia de manhã, como em todas as manhãs nesses três dias antes, eu já estava preparado às 7h da manhã mas só ia para o hospital por volta das 10h, porque antes disso não nos deixavam entrar. Estava preparado quando uma das médicas me ligou a dizer se podia ir para lá porque ela estava a respirar com alguma dificuldade”, lembrou, falando do dia em que a mulher morreu.

“Fui a voar até ao hospital, no caminho fiz os telefonemas para os filhos e para o Zé, e um ou dois amigos mais chegados, para a irmã, e quando lá cheguei entrei dentro do quarto. Ainda consegui tocar duas músicas para ela, depois chegou o Ricardo [filho da atriz] e a Rita [mulher de Ricardo]. O Ricardo declamou-lhe um poema, perguntou-me se eu sabia tocar uma musica dos Pearl Jam que ela amava [o tema ‘Black’], tocámos e no último acorde ela deu o último suspiro”, partilhou.

O dia do funeral e a vida depois da despedida 

João Soares sabia que a mulher era muito acarinhada, mas nunca tinha tido tanto essa noção como no dia do funeral. “Ela teria ficado feliz. Qualquer artista, saber que é acarinhado da forma que ela era e foi, é um motivo de orgulho e satisfação. E isto deve-se não só pelo facto de ela ser a profissional que era, mas por ser, acima de tudo, a pessoas que era”, disse. Nesse dia, João Soares abraçou todo os que conseguiu.

Neste momento, o músico está a tentar superar a grande perda. “ A João deixa uma marca em mim que é imensa. Mas sei que a primaria coisa que quererá é que retome a minha vida, que recupere, e estou a fazer um esforço grande nesse sentido”, salientou.

Durante a entrevista com Júlia Pinheiro, João Soares lembrou ainda as palavras de uma médica, a quem deixa um agradecimento especial.

“Ela disse-me: ‘João, você agora tem de reaprender a viver, fazer as coisas que fazia sem a pessoa com quem estava habituado a fazer. Até que vem uma vida nova, uma rotina nova”, partilhou.

Palavras que guarda na sua memória, especialmente depois de ter “batido no fundo”. “Em cima de tudo isto caiem-nos burocracias que nos complicam a vida, coisas que têm de ser feitas porque funciona assim e é na prior altura da vida que temos de tratar de bancos e certidões… E houve um dia que parecia que estava tudo a desabar e em que pensei: não tenho vontade de continuar com isto. Foi o momento mais baixo que tive, acho”, confessou.

Momento que coincidiu também com o regresso à música depois de ter perdido o amor da sua vida. “Agarrei-me a essas coisas e disse que tinha que superar isto porque era o que a João queria. E haverá uma rotina nova…”, desabafou.

Leia Também: "Guitarra numa mão, netos na outra". João Soares mostra carinhoso momento

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