"Na altura do Desculpa Lá trabalhava. Acabava o turno e ia dar concertos"
Diana Lucas, a cantora que marcou a geração 'Morangos com Açúcar', é a entrevistada de hoje do Fama Ao Minuto.
© Reprodução Instagram/ Diana Lucas
Fama Diana Lucas
Diana Lucas nasceu numa família de músicos, não foi por isso de estranhar que ainda criança desse espetáculos onde quer que fosse. Não tardou até que o talento lhe fosse reconhecido e aos nove anos conseguiu a proeza de lançar o primeiro disco.
Nos anos 2000, ainda adolescente, viveu o auge da sua carreira. Entre os que fizeram parte da geração 'Morangos com Açúcar' não há quem não se lembre de temas como 'Diz Bye Bye', 'Ohh! Desaparece' ou o tão popular 'Desculpa Lá'.
O que muitos não sabem é que Diana Lucas, irmã mais velha do também cantor e ator Ivo Lucas, dividia o tempo entre concertos e o estágio num hotel, emprego que não quis perder depois de terminar o curso na área do Turismo.
Depois de um interregno em que pouco ouvimos falar dela, Diana Lucas encheu-se de coragem e há quatro anos reapareceu no programa 'The Voice'. Hoje, com a voz incrível de sempre e com mais força do que nunca para continuar a brilhar no mundo da música, Diana Lucas conta-nos a sua história em entrevista ao Fama Ao Minuto.
Aos nove anos lança o primeiro disco. Como é que este sonho se tornou possível tão cedo?
Sempre gostei de cantar e toda a família me incentivava a cantar mas sem que isso fosse uma obrigação. Na escola fizeram o mesmo, brincava com as outras crianças mas tinha horas para ensaiar. Entrei num mundo mais de adultos, de artistas, mas os meus pais sempre me deixaram à vontade para fazê-lo ou não.
E a Diana queria muito estar nesse mundo?
Eu queria muito, gostava muito de cantar e levei a música muito a sério. Comecei a ter aulas de canto, ainda hoje tenho. Era algo que gostava mesmo, mesmo muito, mas não foi algo que me foi incutido, foi algo que foi surgindo.
Quando surgiu o 'Ídolos', era uma programa que ia ter muito impacto, era novo, e eu arrisqueiA sua família já tinha ligações à música?
Da parte materna os meus avôs, primos eram todos músicos. Alguns foram artistas, o meu avô, pai da minha mãe, foi uma grande estrela do rock nos anos 70 em Portugal, Vítor Gomes da banda Gatos Negros. Acho que pelo facto de termos sempre música à nossa volta, eu cantava de manhã à noite. Às vezes, até me diziam para estar calada, porque estava a cantar muito alto ou porque não devia estar a cantar ali. A minha mãe diz que eu estava sempre a fazer espetáculo, onde quer que estivesse.
O público teve, mais tarde, oportunidade de ver o seu talento em vários concursos de talentos. A Diana chegou a entrar no 'Ídolos', por exemplo.
Quis viver um bocadinho mais a primeira fase da minha adolescência, fui fazendo várias coisinhas. Ia a vários programas de televisão, mas sempre tudo muito esporádico. Cheguei a uma altura em que desliguei um bocadinho. Quando surgiu o 'Ídolos', era uma programa que ia ter muito impacto, era novo, e eu arrisquei e quis participar. É uma experiência que guardo até hoje, fiz amigos que mantenho ainda, como por exemplo o Rui Andrade.
Ainda hoje, quando algumas pessoas falam de mim é a Diana do 'Desculpa Lá'E pouco depois dessa experiência, passa a fazer parte da geração 'Morangos Com Açúcar' ao dar voz a algumas das músicas de maior sucesso da série juvenil.
Depois do ‘Ídolos’ ainda fiz um musical, que correu super bem, e aí decidi que queria mesmo fazer um álbum do estilo que eu gostava, que era R&B em português. Não havia ainda nada do género em Portugal. Fomos ter com o Gutto e o Boss AC para falar sobre este projeto, eles aceitaram logo e começámos a gravar. As coisas correram bem, todos os temas, como eram muito joviais, apanharam uma faixa etária que é a tal geração 'Morangos'. Eu tinha as músicas a tocar nos 'Morangos Com Açúcar' e em outras novelas na TVI, isso foi de facto um grande impulso para mim. Ainda hoje o 'Diz Bye Bye' ou o 'Ohh! Desaparece', que são músicas que para mim já não fazem grande sentido, as pessoas pedem-me para as cantar. As pessoas gostam de reviver a adolescência com estas músicas.
Esses anos foram a época de maior êxito na sua carreira?
Foram, logo a seguir gravei o álbum do 'Desculpa Lá' e aí sim foi um grande sucesso. Teve mesmo muito sucesso, ainda hoje, quando algumas pessoas falam de mim é a Diana do 'Desculpa Lá'. Esse tema ficou mesmo marcado na minha carreira. Os artistas têm sempre um tema que é um hit e o meu foi esse. Independentemente de tudo o que eu lance, as pessoas lembram-se de mim pelo 'Desculpa Lá'.
Na altura do 'Desculpa Lá' tinha acabado a faculdade e comecei a trabalhar. Acabava o turno, saía, e ia apanhar ao avião para ir dar concertos aos AçoresEsse sucesso era algo que ansiava muito ou acabou por acontecer sem dar conta?
Aconteceu sem eu dar conta. Era um tema que passava nos 'Morangos com Açúcar' e tinha o apoio da Cidade FM. Fiz muitos concertos com esse tema, fiz coisas muito grandes nessa altura.
Nessa altura a Diana era ainda muito novinha, como foi lidar com toda a azáfama que se gerou à sua volta?
Sou muito tranquila e tive uma educação em que é muito importante termos os pés na terra. Quem me conhece sabe que sempre fui a mesma pessoa, tenho valores e há coisas que para mim são muito importantes. Trabalho com paixão, mas quem me segue e quem me conhece acaba por gostar de mim não só pelo que canto mas por manter sempre os pés assentes a terra. Olhei sempre com naturalidade para a minha carreira, nunca disse que não faria isto ou aquilo.
Na altura do 'Desculpa Lá' eu tinha acabado a faculdade, o curso de turismo, e comecei a trabalhar numa unidade hoteleira. Acabava o turno onde estava e ia apanhar ao avião para ir dar concertos aos Açores... E dois dias depois já estava a trabalhar às 07h00 da manhã. Gostava de trabalhar e gostava de cantar, achei sempre que conseguia fazer tudo ao mesmo tempo mas chegou a uma altura em que deixei de conseguir, daí o interregno que vem depois do 'Desculpa Lá'.
Achei que o 'The Voice' seria a oportunidade de dizer que ainda cá estou. Não foi fácil, depois de todo o sucesso que já tinha tidoO turismo era o plano B para o caso de a música não correr bem?
Os meu pais sempre me disseram que, além da música, era importante ter um plano B, e eu própria queria isso para ter a estabilidade de vida que ambicionava e atingir certos objetivos. Dediquei-me bastante ao meu trabalho nessa unidade hoteleira, fui promovida para outro cargo e sem dar por isso comecei a desligar-me um bocadinho da música. Aí sim, comecei a recusar alguns trabalhos que iam surgindo.
Então, no fundo, a pausa que existiu na sua carreira foi uma escolha?
Não lhe chamo escolha, acho que aconteceu sem me aperceber. Achava que podia dedicar-me ao meu trabalho e depois regressar e gravar alguns singles. Só que nesta área, se tens sucesso tens de fazer algo logo a seguir para manter, se não vais ficando para trás, vão aparecendo outras pessoas. Foi isso que senti. Continuei a gravar, continuei a ter projetos, só que não conseguia ter a exposição que queria.
Quando em 2017 participa no 'The Voice' foi por ter decidido que aquela era a altura certa para voltar a apostar na música?
Sim, achei que o 'The Voice' seria a oportunidade de dizer que ainda cá estou, que ainda canto e que tenho coisas para fazer. Não foi fácil, depois de todo o sucesso que já tinha tido, dos palcos que já tinha pisado. Foi uma decisão que levou algum tempo. Tinha muito receio do que poderiam pensar colegas meus, do que os fãs poderiam pensar. 'Então esta já tem uma carreira e vem tirar lugar a outro?'. Às vezes, as pessoas pensam assim. Mas no fundo eu não estava em lado nenhum, não tinha nada de música em lado nenhum, as pessoas não me estavam a seguir, então era importante dar um passo... aquele era o passo que estava à mão, e eu dei. Mas não foi nada fácil. Na minha prestação tremi como nunca tinha tremido. Aquela prova cega valeu-me o programa todo e é algo que marca a minha vida.
Apesar de todos os medos, o feedback acabou por ser positivo?
Foi muito positivo, a reação dos jurados também foi muito boa. A Áurea, nós já tínhamos partilhado palco muitas vezes, para ela também foi um momento de emoção.
Foi uma experiência muito boa, mudou em mim muita coisa. Fez-me voltar a pensar que eu conseguia, de repente comecei a ter um feedback do público brutal. 'Onde é que andavas?', perguntavam-me.
As pessoas tinham saudades de a ouvir?
Aquilo que sinto é que, afinal, quase 10 anos depois as pessoas ainda se lembram de mim, ainda gostam de me ouvir cantar. Afinal, eu ainda sei cantar… são coisas que colocamos em questão quando não estamos a conseguir. O 'The Voice' ajudou-me a lutar mais e a pensar: não, não vou desistir, não vou parar.
Tenho uma clínica de estética, sou cantora e depois ainda tenho a agência de management & bookingA participação no 'The Voice' mudou o rumo da sua carreira?
Completamente, comecei a gravar, senti-me mais confiante, senti que as pessoas estavam à espera de algo e agora tenho vindo a lançar os meus singles. Infelizmente, 2020 era um ano importante de concertos e foi tudo cancelado, este ano ia participar num festival importante e foi cancelado. Tudo cancelado... Mas se não dá os concertos, vamos produzir e fabricar coisas novas. Tenho uma agencia de management & booking e produção, a MUSIC BIZZ, ajudo os artistas a lançarem-se. Estou a fazer coisas na área.
No fundo, a Diana continua a estar na área mesmo quando não está a cantar.
Claro, se vivo música, em quanto mais áreas eu conseguir rentabilizar aquilo que tenho para oferecer e aquilo que faço, melhor.
A Diana chegou a fazer alguns trabalhos em representação, tal como o musical que referiu. Esta área também é uma das suas paixões?
Gosto imenso, adoro. Adoro aquele stress, adoro espetáculos todos os dias, adoro mesmo. Neste momento não tenho tempo, mas é algo de que gosto muito.
Mas além da música e da representação há outras áreas de que gosto muito. Tenho uma clínica de estética, a 'Di Corpo', que montei há alguns anos, sou cantora e depois ainda tenho a agência de management & booking.
É, portanto, a mulher dos sete ofícios.
Estou sempre com ideias de fazer várias coisas. Às vezes a minha mãe até me diz: 'Filha, tu já não tens tempo'. É porque eu também sou mãe e, embora tenha o meu marido, que é um grande pai, e os meus pais, que também me ajudam muito, é necessário ter tempo para tudo. Bem, e outras vezes a minha filha também me acompanha. Ela adora o mundo da música e adora beleza.
E a Mia também já canta?
Ela canta, mas diz-me sempre: Oh mãe, não quero cantar ao pé das pessoas porque fico muito nervosa. Ela representa e dança muito, isso ela não tem vergonha. Vive num mundo Disney, é fã das histórias das princesas.
Diana com o marido e a filha de ambos, Mia© Reprodução Instagram/ Diana Lucas
Há uma fotografia com o seu pai na sua página de Instagram onde a Diana diz que "muitas vezes é ele a segurar o barco". Esta fase está relacionada também com o seu percurso no mundo da música?
Sim, com tudo. Nós temos sempre alguém na família que quando parece que tudo está ao contrário arranja sempre maneira de singrarmos de alguma forma. Esse é o papel que o meu pai teve naturalmente na nossa família. Não dou um passo na vida sem falar com os meus pais. Estou com os meus pais todos os dias, são os meus melhores amigos e temos uma relação muito, muito amiga.
Tal como a Diana dizia há pouco, o 'Desculpa Lá' surgiu numa altura em que não existia muita música portuguesa do género R&B em Portugal. Considera que dessa época até ao presente os temas cantados em português passaram a ter mais aceitação entre o público?
Completamente, sou muito sincera, neste momento, no meu Spotify, 50% da música que eu oiço é portuguesa. Hoje em dia há música portuguesa de todos os estilos e com todo o tipo de letras. Oiço muito música portuguesa e estou muito satisfeita com o papel que ela tem neste momento no nosso país. Até as rádios já passam de tudo, algo que não acontecia.
É mais fácil ser cantor em Portugal e cantar em português nos dias de hoje?
Neste momento é muito mais fácil, dá-se muito mais importância aquilo que se escreve em português. Os fãs identificam-se com as letras e identificam as letras com o artista.
Neste momento sinto que as pessoas reconhecem o meu trabalho e gostam das minhas músicas, mas ainda me falta um tema que marque tanto como o 'Desculpa Lá'E no caso da Diana, os seus fãs ainda são os mesmos, ainda são a geração 'Morangos com Açúcar'?
Tenho ainda muitos fãs da geração 'Morangos', muitos, e depois tenho muitos novos. A exposição que tive no programa 'All Together Now' (como jurada), no 'The Voice', os singles que tenho lançado, tudo tem trazido muitos fãs novos. Da minha idade, mais novos, tenho muitos jovens também. Por isso é que para mim é tão importante passar uma mensagem positiva, as coisas que são mais negativas prefiro guardar para mim. As pessoas seguem-me não só pela música mas também por tudo aquilo que vou publicando e divulgando.
Dizia há pouco que quando pedem para cantar alguns dos seus temas antigos já não se identifica muito com eles, nesse sentido, pergunto-lhe o que mudou na Diana Lucas enquanto artista com o passar dos anos?
Cresci, estamos a falar dos meus 18 anos. Naquela altura apetecia-me dizer 'oh, oh, desaparece', são temas que neste momento não fazem sentido para mim. Tenho músicas novas, mas sempre que as pessoas pedem para cantar eu canto. Nos concertos faço sempre uma espécie de um medley onde reúno todos esses temas mais antigos. Eu própria, às vezes, fico surpreendida por perceber que algumas pessoas ainda sabem as letras todas. É gratificante.
Falemos do futuro, há novidades a serem preparadas?
Estou a fazer novos singles, para além disso trabalho com a minha agência, gerida por mim e pelo meu pai, e neste momento estamos a agenciar cantores como o Rui Andrade, o Leandro e muitos outros. Paralelamente, nos próximos tempos vou estar ligada a marcas com as quais me identifico noutras áreas.
O importante é estar cá, acreditar e fazer acontecer, seja em que área for.
E o que é que ainda falta fazer?
Ainda me faltam fazer muitos concertos, ainda me falta estar no número um das tendências do YouTube, que já estive, durante três dias, com o vídeo da minha prova cega no 'The Voice'. Quero um tema meu em que consiga isso, ou pelo menos entrar nas 10 tendências. Neste momento sinto que as pessoas reconhecem o meu trabalho e gostam das minhas músicas, mas ainda me falta um tema que marque tanto como o 'Desculpa Lá'.
Leia também a entrevista de Ivo Lucas ao Fama Ao Minuto, em abril de 2020: "A minha personagem nos 'Morangos Com Açúcar' marcou uma geração"
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