"Não vivo obcecado em estar em ascensão. Não sou fã de mim próprio"

João Pedro Pais prepara-se para regressar aos palcos com a sua estreia em duas grandes salas: o Campo Pequeno, em Lisboa, e a Super Bock Arena, no Porto. Nesta conversa com o Fama Ao Minuto, recordou os primeiros passos na música e falou da fase que vive, aos 50 anos, enquanto homem e músico.

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Rita Alves Correia
24/11/2021 09:10 ‧ 24/11/2021 por Rita Alves Correia

Fama

João Pedro Pais

João Pedro Pais está a poucos dias de subir aos palcos do Campo Pequeno, em Lisboa, e da Super Bock Arena, no Porto, naquele que será o seu regresso aos espetáculos após a pandemia.

Com o álbum 'Confidências' como ponto de partida, foram muitas as que fez nesta conversa com o Fama Ao Minuto, em que recordou os primeiros passos na música e falou da fase que vive, aos 50 anos, enquanto homem e músico.

Vai atuar em duas das salas mais emblemáticas do país. Sente-se nervoso com este regresso aos palcos?

Um bocado na expectativa. Vivemos ainda um período pandémico muito conturbado. Algumas pessoas ainda terão medo de ir aos concertos, mas a cultura é segura. Dos espetáculos que fui ver, teatro e música, houve sempre um grande cuidado dos produtores. É inevitável que algumas pessoas fiquem mais assustadas.

A nível da preparação dos concerto, que desafios lhe colocou?

Já fiz boas salas. É a primeira vez que atuo no Campo Pequeno e a Super Bock Arena, mas fiz os Coliseus, fiz o Pavilhão Atlântico - não em nome próprio, mas fiz a tournée com o Bryan Adams -, e tinha 18 mil pessoas à frente, em 2003 e 2005. Não é novidade para mim. Agora, em nome próprio acarreta mais responsabilidade. 

Que 'Confidências' faz neste álbum?

Escrevo sobre banalidades, as coisas simples que qualquer humano vive. Não invento nada, dou continuidade àquilo que me foi dado a ver e ouvir. 

Os espetáculos vão contar com convidados especiais?

Os Calema vão aparecer em Lisboa. A Fábia Rebordão aparecerá no Porto e eventualmente também em Lisboa. Depois tenho umas ideias… Não tenho ainda mesmo delineado. Pode dar-me na cabeça convidar este ou aquele.

A influência [do 'Chuva de Estrelas] não foi tão relevante. Em 1997, com o meu primeiro álbum, é que me dedico mais seriamente e dou continuidade ao que faço ainda hoje passados 24 anos 

É muito intuitivo nesse tipo de decisões?

Acho que sim. Acontece [ser quase de véspera]. Às vezes posso ter vontade no momento e depois… Há aquela ansiedade, faz sentido ou não faz. Há uma coisa que é certa: não convidar as pessoas pelo sucesso ou fama que possam ter no momento. Principalmente, tenho de me identificar com as pessoas.

Tendo iniciado a carreira musical no 'Chuva de Estrelas', de que forma o concurso influenciou o seu percurso? Alguma vez sentiu preconceito?

Fazia luta olímpica na Seleção Portuguesa ao mesmo tempo que participei no ‘Chuva’ em 1994. Ninguém me prometeu nada, por isso, também não estava à espera de resultados musicais e continuei a viajar com o desporto. Não tinha noção se iria continuar. A influência não foi tão relevante. Em 1997, com o meu primeiro álbum, é que me dedico mais seriamente e dou continuidade ao que faço ainda hoje passados 24 anos.

Pandemia? Não estive a olhar para o umbigo, foi um problema global. Os mais frágeis, os da cultura, ficas sem reação, é uma coisa que não depende de nós 

Como olha para os formatos semelhantes que existem atualmente?

Em todo o mundo, em programas de entretenimento musical, aparecerão sempre participantes compositores e bons cantores. Uns continuam, outros não.

Depois de mais de duas décadas de carreira, como continua a reinventar-se?

Tenho de ouvir os outros, os que aparecem aos milhares todos os anos, em todo o mundo. Acho que é daí que vou tirando as minhas influências. Claro que também tenho os meus ídolos.

Quem são?

Não posso nunca descartar o Sting, como não posso descartar o Rod Stewart. John Mayer é o meu preferido atualmente, Bon Iver. Isso acaba por refletir na minha música. Às vezes posso estar a gravar, há um músico que estou a ouvir e digo ao produtor ‘ouve o beat do John Mayer ou do Bon Iver’. Depois tentamos reformular para não copiar. Mas dá-nos ideias.

Não sou dependente do meu sucesso. Claro que tenho objetivos de chegar às pessoas, mas se não chegar, retiro-me como entrei, pelos pingos da chuva. Não vivo obcecado se vou estar em ascensão ou se vou estar menos visível, vou sentir quando as pessoas não tiverem paciência para me aturar

Para o setor da cultura, a pandemia foi particularmente custosa. Como viveu estes quase dois anos de restrições?

Atingiu o mundo todo, assustadoramente. Olhar à volta e parar para pensar que tocou a tanta gente, atingiu tantas áreas da cultura. E não só na cultura. Não estive a olhar para o umbigo, foi um problema global. Os mais frágeis, os da cultura, ficas sem reação, é uma coisa que não depende de nós.

É mais desafiante ser um artista em ascensão ou lutar por manter-se presente na memória do público?

A minha preocupação enquanto frontman é divertir-me e ser sério, chegar às pessoas. Não sou dependente do meu sucesso. Claro que tenho objetivos de chegar às pessoas, mas se não chegar, retiro-me como entrei, pelos pingos da chuva. Não vivo obcecado se vou estar em ascensão ou se vou estar menos visível, vou sentir quando as pessoas não tiverem paciência para me aturar. Quando é que se sente? Quando as televisões já não aceitam ou as rádios já não tocam. Vai-se até outro sítio. Não sou obcecado, não sou fã de mim próprio. Sou fã dos outros, dos meus colegas. Era fã do Zé Pedro dos ‘Xutos’, do Jorge Palma… Fazem com que tenha interesse em andar na música. 

Para escrever aquilo que escrevo, também escrevo sobre mim. Canto aquilo que posso contar, mas sem valer tudo. Não pode valer tudo 

Recentemente, numa entrevista, recordou o início de carreira e como nunca sentiu que teve o seu ‘momento’. O que é certo é que é dos artistas mais reconhecidos da sua geração…

Nunca tive sucesso imediato, acho que fiz uma coisa consistente, é diferente. Falar de mim é difícil. Nunca fui aquele ‘boom’, foi sempre muito vagaroso, até mais vagaroso do que eu queria para mim. Gravei um álbum em 1997, o primeiro, e acho que as pessoas só notaram em 2003, na tournée com o Bryan Adams.

Sente que faz parte de um ‘nicho’ de cantores que dificilmente será esquecido?

Tenho as minhas canções e as minhas canções é que são a minha identidade. É o que me descreve musicalmente. Não sei se vou pertencer a esse nicho, mas sei que as minhas canções é que me identificam. Para escrever aquilo que escrevo, também escrevo sobre mim. Canto aquilo que posso contar, mas sem valer tudo. Não pode valer tudo.

Cantar temas românticos torna-se mais fácil com a passagem do tempo?

Para mim é mais difícil escrever porque agora já não há tanta ingenuidade da minha parte.

Menos desilusões, também.

Exatamente. Se abordo o amor nas canções já é de uma forma mais adulta, mais ponderada.

O meu filho é um um rapaz de 22 anos que tem a sua personalidade e não quer ser abordado como eu fazia na adolescência, não me procura tanto como eu gostava que ele procurasse 

Aos 50 anos, que fase vive enquanto artista e homem?

Mais atento, mais ponderado, tenho mais certezas, sou mais seguro de mim próprio, como escritor das minhas canções e intérprete. Advém da experiência, é natural.

Como é o João Pedro Pais como pai? Companheiro ou mais rígido?

Ainda no outro dia fui filmar o Herman e alguém me dizia: ‘Andavas sempre com o teu filho’. Eu chegava a levá-lo, há 20 e tal anos, para os programas, sozinho. Dava-lhe o biberão, mudava-lhe a fralda. Hoje quero abraçar e ele já não se deixa abraçar. Mete o respeito dele. É um rapaz de 22 anos que tem a sua personalidade e não quer ser abordado como eu fazia na adolescência, não me procura tanto como eu gostava que ele procurasse. 

Está na fase em que precisa de voar.

Exatamente, é mesmo isso. O que nos custa a nós, pais, é doloroso mesmo. 

É também adepto de exercício físico. Preocupa-se em cuidar de si?

Treino desde sempre. Com sete anos comecei a fazer luta olímpica no colégio, fui treinando até chegar à seleção. Com 20 e tal anos fiquei em primeiro lugar, mas depois apareceu a música. Intercalava a música com o desporto o que não era muito correto. Antigamente fumava-se nos bares. Eu nunca fumei, mas muito tabaco inalei. O treinador incomodava-se comigo porque dizia que não era correto eu estar a treinar a nível internacional e andar a tocar nos bares. Tive de fazer uma opção e acho que fiz a opção correta. Mas continuo a treinar, vou ter com os meus colegas ao Jamor, de vez em quando faço judo com amigos meus.

2022 será o ano em que vai cantar no coreto do Jardim da Estrela?

Adorava. Acho que era do caraças. A minha infância foi toda no Jardim da Estrela. Tinha feito todo o sentido este ano, quando fiz os 50, termos feito um grande concerto gratuito. Tenho a certeza que ia ser brutal. A pandemia prejudicou muito esse meu sonho. Foi ali que vi as primeiras orquestras.

Com que olhos vê o futuro? O que é que lhe apetecia fazer?

Quero viajar, conhecer o que ainda não conheci. Ir ao Alasca, à Patagónia, à Austrália. Já viajei e conheci coisas muito interessantes. Ter estabilidade emocional. Que o meu filho tenha juízo e se desenrasque sozinho.

Leia Também: "Entrar no mundo das artes foi como uma boia de salvação"

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