Uma empregada de um condomínio de luxo que é responsável por várias confusões. É esta a premissa de 'Trair e Coçar é só Começar', a peça que chega a Portugal depois de mais de 36 anos em cena no Brasil, onde o seu sucesso é inegável.
A obra, escrita por Marcos Caruso, 'aterra' no Casino Lisboa já a partir de hoje, dia 19 de outubro, onde vai estar até 29 de janeiro. Depois, o elenco segue para o Teatro Sá da Bandeira, no Porto, onde estará em cena cerca de um mês, até 19 de fevereiro.
Sara Barradas e José Raposo são dois dos atores que dão vida a esta adaptação portuguesa de 'Trair e Coçar é só Começar', um projeto que volta a unir em palco o casal. Ao Fama ao Minuto, os dois explicaram que a peça está envolta em muita expetativa e revelaram como é trabalharem juntos em teatro, uma área que os dois tanto respeitam.
Está a dar-me um gozo do caraças, é uma personagem fantástica
Como surgiu o convite para voltarem ao teatro, isto depois de terminadas as gravações das novelas 'Por Ti' e 'Quero É Viver', em que os dois participaram?
José Raposo: Surgiu há mais de um ano. A peça já esteve para vir para Portugal, mas foi agora possível. A Plano 6 [produtora], que tem ligações muito fortes com o Marcos Caruso, tem trazido as peças de atores brasileiros e mais tarde ou mais cedo isto iria acontecer. Todos os papéis são muito bons e a peça está muito bem escrita, o Marcos é um verdadeiro 'carpinteiro da comédia'.
A peça estreia hoje mas já a apresentaram em dois ensaios solidários. A reação do público foi a esperada?
Sara Barradas: A reação foi acima da que esperávamos. Já esperávamos que funcionasse porque esta comédia está extremamente bem escrita e é quase impossível fazê-la mal. No primeiro dia pensámos 'será que tivemos esta reação por causa deste público', mas no segundo dia percebemos que foi igual ou ainda mais efusiva. Percebemos, ali, que temos um possível êxito nas mãos.
A personagem 'Palmira', que é feita pelo José, não é interpretada por um homem no Brasil. Por que optaram que, cá em Portugal, não fosse feita por uma mulher?
RP: Quando me contactaram para fazer a peça, propuseram o papel de um dos homens mas eu, que já conhecia a peça, disse logo 'eu faço se for a Palmira, a criada'. É um papel fantástico e está a resultar muito bem. Está a dar-me um gozo do caraças, é uma personagem fantástica.
Não é uma troca de galhardetes, mas toda a gente sabe que a Sara é uma belíssima atriz
O elenco ainda é grande e composto por atores muito diferentes. Gostam deste grupo?
JR: O elenco é realmente fantástico, composto na sua maioria por pessoas que nunca tinham trabalhado juntas. Encontrámos uma união e uma cumplicidade incríveis. É daquelas coisas difíceis de explicar, são coisas do universo. Temos uma simbiose, uma ligação fantástica entre nós, e em cena isso nota-se.
O facto de o José ter uma experiência de vários anos de teatro em Portugal levou a que sugerisse alterações ao texto e sugestões para que ele pudesse resultar melhor no nosso país?
JR: A adaptação foi feita pelo Nuno Markl mas, de facto, demos uma série de ideias nos ensaios. O Carlos Areia [um dos atores da peça], tem uma grande experiência como autor de revista e um saber especial. Ajudou-nos muito com dicas que deu durante os ensaios.
SB: Sim, o texto adaptou-se para expressões tipicamente portuguesas, o que claramente difere de um texto escrito no Brasil. Agora está bem português.
E por que razão o projeto também interessou à Sara?
SB: Eu já conhecia a peça através do filme, no qual a Adriana Esteves faz de empregada, ou seja, a protagonista. Como sou muito fã dela já tinha visto o filme há muitos anos. Nem nunca tinha sonhado que iria fazer a peça. Na altura já tinha achado que era uma comédia muito exigente, certeira e que funcionaria. Portanto, não foi difícil de aceitar, ainda por cima sabendo que iria trabalhar com o José outra vez.
Não sendo a primeira vez que fazem teatro juntos, como se sentem ao partilhar o palco?
SB: Não é a primeira vez que estamos juntos em palco mas é a primeira vez que estamos apenas como atores e não como produtores também. Produzir é uma coisa que não gosto de fazer. Não gostei da experiência de, enquanto casal, produzir e trabalhar como atriz. Enquanto produtores há muito mais problemas para serem resolvidos. Assim dá outro prazer. Estamos ali só para 'brincar' e fazer o que sabemos fazer. A experiência é maravilhosa porque ele [José Raposo] é um ator muito completo, um dos mais versáteis do país, e é só ficar a ver para aprender um bocadinho.
JR: Não é uma troca de galhardetes, mas toda a gente sabe que a Sara é uma belíssima atriz. Embora seja uma 'moça', está nisto desde os 11 anos. Já tem uma experiência vasta, de cerca de 20 anos, e ela tem uma particularidade fantástica: gosta de aprender com quem sabe, com os mais velhos. Ela sempre esteve muito atenta com os atores mais velhos com quem trabalhou nas novelas. Está sempre a dizer que gostava de ter feito mais teatro e mais cedo, mas os caminhos que trilhamos não são sempre aqueles que queremos.
Felizmente, temos um apoio familiar grande que nos permite estarmos descansados quando não podemos estar em casa à noite
A peça estreia em Lisboa e vai estar cerca de um mês no Porto. Encontram diferenças entre o público que vos vê na capital e aquele com que se cruzam no Norte?
JR: Sim, o público do Porto é muito mais efusivo, exteriorizam de uma forma mais audível o que sentem, tanto para o bem como para o mal. Dizem-no de boca aberta e de coração, são muito sinceros. Adoro o público do Porto e lá já me aconteceram situações, até em cena, de pessoas que interagiram e disseram coisas. São muito expressivos.
SB: Também adoro, digo sempre que o Porto é das minhas cidades preferidas do mundo. De todas as cidades que conheço, o Porto está no meu top 3. Gosto muito de lá ir e das vezes em que lá trabalhei foi sempre maravilhoso. Adoro a comida, a cidade, a história e as pessoas, que são mais efusivas e genuínas, talvez.
Ao estarem na mesma peça têm os mesmos horários e as mesmas disponibilidades, sendo que a peça vai estar em cena à noite. Como conseguem acompanhar a vossa filha, a pequena Lua?
SB: Na fase de ensaios foi mais difícil, porque são mais dias por semana e mais horas por dia. Quando estrearmos diminuem o número de noites que passamos fora de casa e tudo será mais fácil. Felizmente, temos um apoio familiar grande que nos permite estarmos descansados quando não podemos estar em casa à noite. Como não estamos, atualmente, a fazer televisão, temos os dias mais disponíveis para irmos gerindo e compensando a ausência.
Ela já compreende o motivo dessa ausência, já sabe que os pais são atores?
JR: Que somos atores ainda não, mas as ausências sim. Ela sente, como qualquer criança que está longe dos pais, essa ausência e quando nos vê tem sempre uma reação efusiva. Temos a hipótese de ir buscá-la, por exemplo, à escola mais cedo do que as pessoas que trabalham até às 19h. Quando estamos a fazer novela não é possível.
SB: Ela sabe e entende que vamos trabalhar. Já o diz. Tem três anos e meio, já conversa sobre tudo e sabe que, quando saímos à noite, voltamos quando ela já está a dormir. Entende essas coisas todas.
Não somos daqueles atores que dizem 'não quero que o meu filho não o seja', que os filhos fujam desta profissão de artista por ser muito instável
E já viu os pais em palco?
SR: Não, porque ainda é muito pequena e as peças que temos feito não são propriamente para crianças. Fiz recentemente o espetáculo 'Perfeitos Desconhecidos' e o José fez o 'Chicago', não eram peças fáceis para ela entender. Gostaríamos que ela espreitasse esta, pelo menos, mas sabemos que não é fácil porque o espetáculo vai estar no Casino Lisboa e, por ser no casino, há regras diferentes dos outros teatros, mas vamos tentar que ela vá aos bastidores para espreitar.
Já a levei às gravações da novela e o José também, em dias tranquilos, para ela ver. Ela já entende qualquer coisa, não sabe o que significa a palavra 'ator', mas sabe que fazemos teatro e que entramos na televisão.
Com pais artistas, podemos esperar que ela siga uma carreira semelhante?
JR: Ela tem uma noção rítmica fantástica. Quando se põe a cantarolar acerta no tom e não desafina. Nunca se sabe e logo se verá se ela tem talento ou não, mas que é uma dramática, é [risos]!
SB: Sabemos que há genes que se transmitem, como é óbvio, para algumas aptidões. O que vai ser ainda não sabemos, o que quero mesmo é que ela seja aquilo que quiser ser. Não somos daqueles atores que dizem 'não quero que o meu filho não o seja', que os filhos fujam desta profissão de artista por ser muito instável. Nós sabemos que é instável, se somos atores e gostamos de o ser, se ela tiver talento, quiser e trabalhar para isso, não somos nós que lhe vamos dizer para não o ser. O talento vai perceber-se daqui para a frente mas é como o Zé dizia, ela é muito dramática, se for atriz será de drama... e canta bem! Tem uma grande noção de ritmo e improviso.
Tendo o José participado em várias séries de grande qualidade nos últimos anos, esta era uma área que também a Sara gostaria de explorar?
SB: Claro que sim. Sabemos que o tempo de preparação e o cuidado para uma série são diferentes e é aliciante fazer uma série, é mais ao estilo do cinema. Gostava, mas isso não depende só daquilo que eu gosto, depende das oportunidades que surgem e espero que surjam oportunidades para experimentar outras coisas, mesmo dentro da ficção.
Conseguem desfrutar da vossa filha como gostariam, mesmo com tanto trabalho e em projetos onde estão os dois, em simultâneo?
SB: Sim, adaptamo-nos facilmente às situações, à realidade.
JR: A vida de ator é isto. Nunca se sabe se há um grande volume de trabalho ou não, e nós já tivemos essa experiência ao longo da vida e sabemos que é assim.
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