"Durante muito tempo, gritavam-me na rua: 'Olha para o meu pacote!'"

Entrevistámos Alan Tudyk e o ator acabou por recordar um episódio incomum que viveu num filme, confidenciou que acredita na vida extraterrestre e falou sobre Portugal. A conversa chega no âmbito da série 'Resident Alien', onde dá vida a Harry Vanderspeigle.

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© Getty Images

Marina Gonçalves
02/01/2023 09:00 ‧ 02/01/2023 por Marina Gonçalves

Fama

Alan Tudyk

Foi durante a sua viagem a Portugal que o Fama ao Minuto entrevistou Alan Tudyk. O ator - que dá vida à personagem principal da série 'Resident Alien', Harry Vanderspeigle, cuja segunda temporada passou no SYFY Portugal em outubro do ano passado - marcou presença na Comic Con Portugal. 

A série vai regressar este ano com novos episódios e foi precisamente sobre este projeto que começou a conversa, tendo o ator confessado ainda que acredita na vida extraterrestre.

Mas não ficámos por aqui e a entrevista levou Alan Tudyk a contar um episódio incomum que viveu durante o filme '28 Days', com Sandra Bullock. Além disso, acabou também por falar dos seus rituais no que à representação diz respeito, não esquecendo dos elogios a Portugal. 

O que mais o cativa ao interpretar a personagem Harry Vanderspeigle?

Acho que a dualidade desta personagem, que é algo que também está muito presente na na série – muitos elementos cómicos e outros sérios. Posso jogar nos dois lados, o que torna a comédia mais engraçada. Por exemplo, num momento estou a falar de matar toda a gente e destruir o planeta Terra, e no seguinte digo "então vamos lá comer uma fatia de pizza". Estas duas coisas juntas tornam a escuridão mais sombria e o engraçado mais engraçado.

Um dos desafios de fazer a série é o timing da televisão neste momento. Há tantas séries agora que é muito difícil encontrar uma que se destaque

O que pensa pessoalmente sobre a vida alienígena? Acredita na vida extraterrestre?

Sim, sim! Há tantas séries agora a que podemos assistir, com pessoas que tiram fotos a acontecimentos alienígenas e outras convencidas de que foram raptadas. E eu acredito. Mas não sou daquelas pessoas que quer que os aliens venham, não me parece uma boa ideia... Se eles nos pudessem ajudar, já o teriam feito, por isso... podem ir embora... Não quero nada disso.

Quais são os pontos fortes desta série e quais considera não tão fortes?

O nosso criador, o Chris Sheridan, é muito… Ele vem de um background de comédia e escreveu para a série 'Family Guy' durante muitos anos, então tem um sentido de humor estranho – por isso acho que um dos pontos fortes é mesmo ele, a forma como o seu cérebro funciona. Ele pensa de uma forma "partida", o que é muito útil para o Harry, porque o seu processo de pensamento geralmente também é assim. Ele chega a conclusões erradas sobre tudo. Por exemplo, há momentos em que ele só quer matar uma criança – é a primeira coisa em que ele pensa. Não é "deveria esconder-me", é "vamos a isto". Logo no início da série, quando fica bêbado pela primeira vez, ele pensa "bem, estou bêbado, e sabem que mais? Provavelmente deveria ir matar aquela criança agora. Agora que estou bêbado, estou a tomar decisões muito boas, então vou agir agora mesmo".

Por outro lado, acho que um dos desafios de fazer a série é o timing da televisão neste momento. Há tantas séries agora que é muito difícil encontrar uma que se destaque. E também temos um formato diferente, que também ele é "partido" – na primeira temporada fizemos 10 episódios, na segunda fizemos 16 e agora na seguinte vamos fazer 8. Tanto na narrativa como no espaço que isto ocupa na nossa vida, eu diria que é desafiante – mas sobretudo é um desafio para os nossos guionistas.

Tenho muitos rituais para uma peça de teatro, mas não muitos para televisão ou cinema

Como se prepara para uma personagem, tem algum método ou rotina?

Fui ensinado a usar o texto que nos dão... Aprendi numa escola que nos ensina sobre peças de teatro que o autor é a pessoa mais importante. Numa peça, se há uma vírgula, ela significa alguma coisa – há uma pausa ali, e temos de pensar no que essa pausa significa, e então usamos todas as notas como um guia para quem somos e o que sentimos numa peça. Ainda faço mais ou menos isso. Contudo, em televisão e cinema improvisar não é apenas divertido, como também bom para o projeto, pelo que querem sempre que nós improvisemos – e isso levou-me muito tempo a aprender.

Tem algum ritual antes de filmar?

Café. É estranho, tenho muitos rituais para uma peça de teatro, mas não muitos para televisão ou cinema. Por exemplo, numa peça, eu medito, deito-me, tenho todo um ritual pelo qual passo, faço exercícios de voz para me preparar, faço alongamentos, tudo. Mas para gravar sou muito mais casual, do género "segura aí o meu café que eu já volto".

Acabaram por colocar isso no filme. E durante muito tempo depois disso, as pessoas gritavam-me na rua: "Olha para o meu pacote!"

Quem é a sua maior inspiração?

Quando era mais novo, gostava muito do Gene Wilder. Adorava como ele podia ser, a forma como ele falava – tinha quase um tremor na voz e conseguia imediatamente começar a gritar [Alan imita Gene Wilder] ou estar num momento de choro [Alan imita de novo], vivia ali na linha da histeria. Adorava isso, adorava quando ele parecia enlouquecer.

Nas gravações, tem algum episódio incomum que tenha acontecido e que possa partilhar connosco?

Uau, hum... uau! Isto talvez seja inapropriado. Foi num filme, um dos primeiros que fiz, chamado '28 Days', com a Sandra Bullock. A realizadora, a Betty Thomas, fez-nos escrever uma coisa sobre "este é quem eu sou, estamos em reabilitação, somos todos alcoólicos e drogados em reabilitação, como chegámos aqui?", e então todos escrevemos estas coisas que nós mesmos inventámos. Escrevi que era um stripper masculino e estava drogado, e fiz uma dança de stripper que seria só para brincar - era mais para a equipa, onde eu apenas apontava para a minha virilha [risos] e era uma dança terrível... Mas fiz essa cena com a Sandra, estávamos em cima de cordas e eu tinha um arnês colocado há tanto tempo que o sangue desceu todo para... enfim [risos]. Estava com umas calças muito finas e a Betty Thomas gritou "corta!". Depois de fazermos a cena, eu disse "ai meu Deus, olhem para o meu pacote!", e apontei para ele com os movimentos que faziam parte da dança. Todos riram, mas não pararam de filmar e acabaram por colocar isso no filme. E durante muito tempo depois disso, as pessoas gritavam-me na rua: "Olha para o meu pacote!". Foi muito giro saber que as marcou, apesar da frase que me diziam.

Estava a comer frango – e comi ossos, comi muitos ossos, porque ele era um alienígena, mastigava os ossos. E foi o que eu fiz

E em Resident Alien, já lhe aconteceu algo assim?

Ainda não. Há uma cena da primeira temporada em que eu estou a comer uma galinha e a tentar sentar-me numa cadeira e caio, e essas são todas primeiras vezes do Harry, quando está a tentar aprender a ser um humano. E nós só tínhamos 20 minutos naquele dia, tipo "o dia acabou e faltam 20 minutos. Temos uma galinha, achamos que a poderias comer e fazer qualquer coisa". Eu estava do género "ok, deixem-me pegar esta cadeira e vou fazer isto onde me tento sentar e depois caio na direção errada". E eles dizem "oh, espera, não podes, estás com a mesma roupa que estavas a usar", porque tínhamos acabado de filmar outra cena. Então, tirei as minhas calças, a camisa, e estava só com uma camisola interior e umas cuecas, e filmámos.

Quando o dia terminou, eles disseram "tudo bem, corta, corta, corta! O dia acabou". E foi isso. É divertido dizer às pessoas que sou um alien, mas no set não há nada. Estava a comer frango – e comi ossos, comi muitos ossos, porque ele era um alienígena, mastigava os ossos. E foi o que eu fiz.

Adoro as pedras da rua e das calçadas, é lindo. Adoro quando há elementos artísticos numa cidade

Uma vez que é a sua primeira vez em Portugal, do que está a gostar até agora? O que destaca do nosso país?

Só estou aqui há um dia, mas a comida é fantástica, as pessoas são muito simpáticas e, como não falo português, é ótimo que tantas pessoas entendam inglês. Sinto-me péssimo por não falar... mas por outro lado, sim, é ótimo. Também adoro as pedras da rua e das calçadas, é lindo. Adoro quando há elementos artísticos numa cidade, que não têm de ser verdadeiramente artísticos, mas são uma escolha, uma expressão das pessoas e da cultura. É muito mais fácil fazer cimento cinzento – tenho a certeza que é mais barato, mais rápido e tudo mais, mas aqui não é isso que se faz. É design, é arte.

Já tinha ouvido falar do nosso país antes?

Eu sabia que Portugal tem uma grande influência no Brasil, e que tiveram a maior marinha do mundo num determinado momento da História. Eram uma enorme força militar e depois disseram "eh, ficamos por aqui, já não precisamos de fazer isto, fiquem vocês com as coisas".

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