Coroação 'modernizada' de Carlos III reflete evolução da sociedade
Cerimónia foi simplificada para refletir um novo contexto sociopolítico e económico.
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Práticas ancestrais, objetos simbólicos e jóias requintadas vão sobressair durante a coroação do Rei Carlos III, no sábado, mas a cerimónia foi modernizada e simplificada para refletir um novo contexto sociopolítico e económico.
O cortejo da coroação de Carlos III até à Abadia de Westminster será mais curto do que a rota feita por Isabel II em 1953, numa carruagem moderna e confortável, e a cerimónia religiosa também será mais breve e sóbria.
O percurso de dois quilómetros vai ficar aquém dos oito quilómetros que a mãe percorreu em 1953, juntamente com o pai, Príncipe Filipe, alongada para poder ser vista por mais pessoas.
Na altura, estima-se que três milhões de pessoas terão enchido as ruas de Londres para aclamar a jovem rainha de 27 anos, que circulou durante duas horas na emblemática Carruagem Dourada.
No ano passado, o cortejo fúnebre da monarca só terá atraído cerca de 250.000 pessoas, um sinal da queda do entusiasmo popular pela família real.
Numa sondagem para a empresa YouGov, 64% dos inquiridos disseram que tinham pouco ou nenhum interesse na coroação, enquanto apenas 9% disseram que davam muita importância.
A cerimónia da coroação de Isabel II, em 02 de junho de 1953, durou quase três horas e contou com mais de 8.000 convidados, representantes de 129 países e territórios.
Desta vez, a celebração deverá durar duas horas e a audiência na Abadia limitada a cerca de 2.000 pessoas.
O contingente de 6.000 militares envolvidos nos cortejos e celebrações também será substancialmente inferior aos 45.000 que participaram há 70 anos.
A redução na dimensão mostra sensibilidade para com "os tempos difíceis [da crise] do custo de vida", referiu Camilla Tominey, editora-adjunta do jornal Daily Telegraph e conhecedora da família real.
Londres, acrescentou, é agora uma "capital mais diversa", num país que também mudou não só a nível social, mas também económico, geopolítico, militar e religioso.
Para refletir esta multiculturalidade, no interior da Abadia de Westminster vão estar, entre dignitários e realeza, centenas de cidadãos comuns, selecionados pelas contribuições para a sociedade.
Numa bancada erigida para a ocasião em frente ao Palácio de Buckingham vão estar 3.800 veteranos militares e profissionais de saúde e apoio social.
O programa musical selecionado para a cerimónia de Carlos III também evidencia uma tentativa de inovar, combinando peças clássicas com temas criadas a pedido do monarca por compositores conhecidos pelo trabalho em cinema, televisão e teatro musical, como Debbie Wiseman e Andrew Lloyd-Webber.
A cerimónia da coroação em si deverá manter o protocolo estabelecido, reforçando a tradição, história e mística da família real britânica.
Carlos III fará o juramento obrigatório, será ungido com um óleo perfumado, produzido e consagrado em Jerusalém - e que desta vez prescindiu dos elementos de origem animal para ser 'vegan'.
Porém, na cerimónia ainda brilham as jóias da coroa, incluindo uma coroa de ouro maciço e decorada com mais de 400 pedras preciosas, incluindo rubis, granadas e safiras, que pesa mais de dois quilos.
Tominey vincou que houve um esforço para equilibrar o moderno e o tradicional, mas recorda que, em 1953, Isabel II e o príncipe Filipe eram um jovem casal numa "era romântica do pós-guerra".
Noutra rutura com o passado, Rei e rainha consorte vão sair do Palácio de Buckingham numa carruagem de alumínio e com suspensão hidráulica, mais cómoda para dois septuagenários.
Apesar de ser puxado a cavalos, o veículo tem aquecimento e ar condicionado, vidros elétricos e um sistema de suspensão hidráulica.
"Não creio que seja segredo que ambos têm problemas de costas e por vezes levam almofadas para eventos", adiantou a jornalista britânica.
Já o regresso será feito numa carruagem de madeira com 260 anos, utilizada em todas as coroações desde 1831, e que é conhecida por ser bastante rígida e desconfortável.
Isabel II descreveu a Carruagem de Estado Dourada como "horrível", a Rainha Vitória queixou-se da "oscilação preocupante".
Guilherme IV, conhecido como o "Rei Marinheiro", disse que era como "estar a bordo de um navio sacudido num mar agitado".
Com quatro toneladas, é tão pesada que só avança ao ritmo de caminhada. O que dará mais tempo às pessoas ao longo do percurso para verem o rei e a rainha recém-coroados.
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