Doença de Carlos III. "A abdicação em Inglaterra é quase um tema tabu"

Depois de ter sido anunciado pelo Palácio de Buckingham que o rei tem cancro, falámos com Alberto Miranda, especialista em realeza, para percebermos as implicações que esta revelação poderá ter no futuro próximo da monarquia britânica.

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© Casa Real

Inês de Brito Martins
06/02/2024 08:40 ‧ 06/02/2024 por Inês de Brito Martins

Fama

Carlos III

Carlos III foi diagnosticado com cancro, um anúncio feito pelo Palácio de Buckingham na tarde de segunda-feira, dia 5 de fevereiro, data em que o rei começou os tratamentos.

Perante este inesperado cenário, o que é que se pode esperar do futuro da família real? Com Kate também em recuperação após uma intervenção cirúrgica e afastada da vida pública e William mais centrado na família, quem assumirá a 'linha da frente' da agenda?

O Fama Ao Minuto falou com Alberto Miranda, especialista em família reais e autor dos livros 'As Dez Monarquias da Europa', 'Isabel II - Rainha e Mulher' e o mais recente, 'De Plebeias a Princesas e Rainhas', para perceber o que poderá acontecer nos próximos tempos.

Por que razão terá havido a vontade por parte do rei de que a doença de que padece fosse do conhecimento público?

Há aqui uma transparência, mas há também uma certa opacidade nesta mensagem, porque não se especifica, diz-se apenas que [o cancro foi descoberto] na sequência do tratamento, da operação que ele fez à próstata, [a um problema] que era benigno. O que a Casa Real faz no comunicado é divulgar que o rei sofre de um cancro para evitar especulações.

Depois, faz aqui também um bocadinho de um apelo a uma consciência pública, dizendo que isto é uma esperança para a prevenção, ou seja, para quem sofre. Quanto mais depressa se descobre, maior será a eficácia do tratamento. Portanto, há aqui um alerta à consciência pública.

O que se espera do William é o que se espera de um príncipe herdeiro: Tem de aguardar

Perante a doença do pai, o que se pode esperar do papel do príncipe William? Poderá assumir uma função de regente?

Não. Tudo isto aqui é um pouco especulativo, porque não se sabe como evoluirá o estado de saúde do rei. William poderá vir a ter um papel mais ativo na corte. Ele já tem um papel bastante ativo. Sabemos que Carlos já informou os filhos e até se espera que Harry volte a Londres em breve, mas também informou os irmãos, porque eles, sobretudo a princesa Ana e o príncipe Eduardo, têm um papel muito ativo no seio da instituição, são membros ativos da família real.

O que se espera do William é o que se espera de um príncipe herdeiro: Tem de aguardar. Ele é o número um na linha de sucessão ao trono. Desde que nasceu foi educado para o lugar cimeiro da hierarquia.

Em teoria, os reis que são coroados não podem abdicar

Então, não deverá estar em cima da mesa uma possibilidade de abdicação?

[No que respeita à mudança de soberano] existe o cenário de abdicação ou o cenário de morte, porque Carlos III só deixará de ser rei se abdicar, que é um ato pessoal, mas com efeitos constitucionais, ou se morrer. [No entanto] nós não nos podemos esquecer que a Casa Real Inglesa é a única na Europa que coroa o monarca. E ao fazê-lo está implicitamente vedada a hipótese da abdicação, porque o rei é ungido e consagrado.

Portanto, a abdicação em Inglaterra é quase um tema tabu, que não tem só a ver com o facto de o tio de Isabel II [o rei Eduardo VIII] ter abdicado por amor, mas é também porque ele abdicou antes de ser coroado. Em teoria, os reis que são coroados não podem abdicar.

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