"Estávamos focadas nas nossas vidas, não nos passava pela cabeça voltar"
As Just Girls já preparam o regresso aos palcos. Antes, falaram com o Fama ao Minuto.
© Tiago Cortez
Fama Just Girls
Carolina, Anabela, Xana e Alice. Assim se chamavam Diana Monteiro, Ana Maria Velez, Helga Posser e Kiara Timas, respetivamente, na série 'Morangos com Açúcar', e a 8 de junho irão recordar não só estas personagens, mas também as centenas de concertos que deram pelo país fora com o projeto Just Girls.
As quatro amigas da D. Sebastião, escola da temporada em que a banda se juntou, voltaram agora aos corredores em que em 2007 entraram pela primeira vez, quando ainda ninguém sabia quem eram. Foi lá que recentemente apresentaram o concerto que vão dar no Passeio Marítimo de Algés, ao lado de D'ZRT, 4Taste e FF, e aceitaram falar com o Fama ao Minuto sobre este reencontro.
Dão o arranque a este reencontro num sítio que vos é muito especial...
Helga Posser (HP): Quando o Cifrão nos disse que era aqui, nós nem queríamos acreditar que íamos voltar à D. Sebastião. Voltaram todas as memórias...
Até porque foi aqui que começou a vossa história...
Diana Monteiro (DM): Exatamente, foi esta a escola em que as Just Girls começaram a ter aulas de música. A nossa história começou aqui e recomeça aqui.
Vieram muitos jornalistas cá hoje que faziam parte do vosso grupo de fãs na altura. Acredito que também olhem para isso como algo curioso...
KT: É mesmo especial.
Estávamos focadas nas nossas vidas e nos nossos projetos, não nos passava pela cabeça voltarmos
Ana Maria Velez (AMV): É giro ver que as pessoas que eram fãs na altura continuam a ser fãs agora, já com filhos.
Mas já tinham a noção de que este fascínio nunca tinha desaparecido, apesar de estarem já separadas há vários anos?
DM: De alguma forma já tínhamos. Havia muitas pessoas que nos abordavam individualmente para nos pedirem que voltássemos. Nós estávamos focadas nas nossas vidas e nos nossos projetos, não nos passava pela cabeça voltarmos. Fazer isto hoje é especial e estamos a vivê-lo tão intensamente como quem nos vai ver.
E como estão a lidar com o facto de estarem novamente a receber muita atenção mediática? Sabemos que algumas de vós decidiram até deixar a música e que voltaram para o anonimato...
AMV: Eu não continuei na música, foi uma escolha minha. Voltei para Londres e estive a trabalhar na moda. Foi uma sensação estranha, mas fez-me bem desaparecer. Nem tinha redes sociais até há bem pouco tempo. Agora estou de volta como mulher, numa outra fase.
KT: Lembro-me que, no meu primeiro concerto sozinha, subi ao palco e, de repente, senti falta delas. Depois habituei-me a estar sozinha e agora, de novo com elas, foi como sentir que nunca saí de casa.
É engraçado também que os vossos fãs da época não se esqueceram das vossas músicas...
DM: As pessoas lembram-se das letras mais até do que nós. Claro que 'A Vida Te Espera' e 'Não Te Deixes Vencer' nunca se esquecem, mas tivemos de voltar a ouvir outros temas menos marcantes. Os fãs, no entanto, sabem tudo, do início ao fim. Para nós, é uma surpresa perceber que as pessoas nunca se esqueceram de nada do que fizemos.
HP: Passámos a ter a noção de que marcámos uma geração.
Os jovens assistiam aos 'Morangos' e viam quase o quotidiano deles ao espelhoMas há agora uma geração nova que se soma à que já tinham alcançado, uma geração que vos passou a conhecer mais recentemente em virtude das repetições dos 'Morangos' noutros canais...
DM: Sim, de miúdos que têm entre os seis e os 16 anos.
KT: Cheguei a receber mensagens de miúdos de seis anos a perguntar quando é que íamos dar um novo concerto. Até tinha pena e pensava: 'nós já não existimos'.
Há aqui um fenómeno associado aos 'Morangos com Açúcar' que parece que ninguém sabe justificar muito bem...
DM: Eu acho que consigo explicá-lo, pelo menos de certa forma. Nós fizemos parte de uma série que era a única em que os jovens se conseguiam rever. Eles assistiam aos 'Morangos' e viam quase o quotidiano deles ao espelho, era aquilo que eles viviam diariamente na escola. Éramos a única coisa que existia na televisão portuguesa que lhes dizia algo. Desde aí, nunca mais houve algo tão forte...
HP: Nós éramos alunas da escola, éramos 'popstars' na mesma mas as crianças identificavam-se connosco, não éramos inalcançáveis.
KT: Enquanto atores também passávamos muita pureza e inocência.
DM: Não tínhamos Internet e até nós, atores, vivíamos numa bolha. As pessoas só tinham acesso ao que fazíamos caso se cruzassem connosco na rua. Havia uma certa magia que hoje já não há. Como já não conseguimos voltar a essa magia, ela acaba por perdurar no tempo.
Vocês estiveram juntas num dos concertos de regresso dos D'ZRT. O que sentiram?
KT: Eu chorei e ri-me, fiz uma viagem ao passado.
AMV: Dia 8 é isso mesmo que queremos sentir.
DM: Queremos marcar as pessoas, queremos que elas sintam que viveram uma coisa irrepetível e que vão guardar isso para sempre.
Mas é mesmo irrepetível?
DM: Neste momento, não sabemos. Estamos concentradas neste concerto que vai ser muito grande. Ainda nem começámos a ensaiar e precisamos de viver primeiro esta experiência para sabermos o que queremos.
Durante este tempo separadas, nunca pensaram em voltar a juntar-se?
HP: Acho que as coisas acontecem quando têm de acontecer. Este era o momento perfeito para nos juntarmos novamente.
E o concerto e os ensaios encaixam facilmente na vida que vocês tinham agora?
HP: Há muitos ajustes. A Ana mora em Londres, eu moro em Paris...
DM: Há carreiras à parte a acontecer, que é o meu caso e o da Kiara. Deixámos os nossos projetos em espera.
AMV: No meu caso é uma viagem ao passado e são várias viagens [entre Lisboa e Londres] para fazer.
[Paulo Vintém interrompe e toca um acorde na viola]
Esta experiência também tem sido muito isto, reencontrar pessoas que já não viam há muito tempo...
DM: Completamente. Ainda por cima eles batem mal [da cabeça] como nós, como dá para perceber.
Sentem-se a recuperar a 'criança interior' que já tinham escondido entretanto?
DM: Não acho que seja tanto isso. Eu vou fazer 41 anos, já não sinto que esteja a ir buscar essa 'criança interior'. Sinto, sim, que vou viver coisas que [na altura] não tinha maturidade nem idade para aproveitar. Nós vivíamos 24 horas por dia juntas, a nossa vida era caótica. Passávamos os dias na estrada, em gravações e em concertos. Agora, queremos aproveitar o que não aproveitámos. Houve um ano em que demos 120 concertos...
KT: Tive uma semana em que não me conseguia lembrar do pin do cartão multibanco, o meu cérebro bloqueou!
DM: Arrendei uma casa durante um ano e só lá devo ter ido três vezes. Não passávamos tempo nenhum em casa.
Temos temas que as pessoas não conhecem tanto, queremos abordar esses também
Assusta-vos pensar na dimensão da plateia que vão encontrar no dia do concerto?
DM: Nós tivemos uma experiência assim no passado que acabámos por não aproveitar. Falo do Rock in Rio. Lembro-me muito pouco porque foi avassalador. Depois disso ainda fomos para outro concerto em Samora Correia.
Os fãs também gostavam muito de saber como seriam as músicas das Just Girls feitas na atualidade. Há alguma possibilidade de lançarem um novo tema enquanto esperam pelo grande dia?
DM: Há fãs que se recordam de coisas de que nem nós nos lembrávamos. Há fãs que sabem de cor os álbuns do início ao fim.
HP: A resposta é idêntica à que temos sobre darmos mais concertos: queremos reviver os nossos tempos. Estivemos a ouvir de novo os nossos álbuns e temos temas que as pessoas não conhecem tanto, queremos abordar esses também.
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