De acordo com o INE, uma em cada quatro mortes em Portugal deve-se a tumores malignos. Segundo especialistas, num futuro não muito longínquo - 2050 - um em cada dois portugueses terá algum tipo de cancro e um em cada quatro morrerá dessa doença.
Mais ainda, não se trata de uma patologia que afeta só a população adulta. Infelizmente, muitos adolescentes e crianças veem-se igualmente obrigados a lutar contra o cancro, sendo esta uma das maiores causas de doença nesse grupo etário.
As condições oncológicas do sangue mais comuns são as leucemias, os linfomas e o mieloma. Todos os anos aparecem 60 a 100 novos casos de leucemia por cada milhão de indivíduos, 90% dos quais na idade adulta.
E foi esse enquadramento trágico que propiciou a criação do projeto Casa Porto Seguro, proposto pela APCL.
Em conversa com o Lifestyle ao Minuto, Carlos Horta e Costa expôs qual o impacto real que aquela 'casa solidária' terá na vida desses doentes e dos seus familiares e falou ainda sobre as iniciativas que estão a ser organizadas para que a construção desse abrigo - contra a doença implacável que não discrimina - seja possível.
A vida de um doente com cancro em Portugal prende-se num mundo de burocracias, uma doença que por si só já corróiComo surgiu a ideia para a construção da Casa Porto Seguro?
Vem desde o início da criação da associação, em 2002. No entanto, fomos ao longo dos anos recebendo alertas de doentes, cuidadores e profissionais de saúde sobre o quão importante seria que a casa de acolhimento para doentes hemato-oncológicos e familiares se tornasse uma realidade.
Para que tipo de doentes se destinará este apoio?
Doentes hemato-oncológicos em fase de tratamento e/ou transplante e para os seus familiares que se encontrem deslocados das suas zonas de residência. A casa de acolhimento será em Lisboa.
Como é que irá impactar na vida desses doentes e dos seus familiares?
O objetivo é dar qualidade de vida aos doentes e familiares que se encontram deslocados das suas zonas de residência, retirando-lhes a preocupação de procurar uma casa com as condições necessárias a acolher um doente hemato-oncológico e dando-lhes um ‘Lar’ onde poderão partilhar com outras famílias as suas dúvidas, expetativas e experiências. Os doentes hemato-oncológicos deslocados podem ter períodos de alta muito curtos que não lhes permite regressarem à sua casa, no entanto o doente deve poder sair do hospital, durante internamentos longos e ter uma casa que o possa acolher.
Além disso, acreditamos também que um doente mais focado na sua terapia, ou seja com menos problemas que o perturbem, é um doente com mais probabilidades de adesão à mesma.
Como é que os doentes e respetivos familiares serão selecionados?
Através dos serviços sociais dos hospitais.
Quantas pessoas conseguirá albergar de uma vez?
Serão oito quartos, cada quarto poderá receber o doente em questão e um familiar.
Que tipo de apoios irá disponibilizar?
A estadia é gratuita bem como todas as despesas gerais da casa, água, luz, gás, internet. Todos terão acesso a cozinha, sala de estar e jantar, espaço para crianças, lavandaria e jardim.
Que iniciativas estão a ser organizadas para que a construção da ‘Casa Porto Seguro’ seja possível?
Foi organizado um jantar solidário em julho. As receitas do projeto Rock’n’Law de 2018, que irá realizar-se dia 26 de outubro no Campo Pequeno serão exclusivamente para este projeto, poderão consultar o projeto em www.rocknlaw.pt.
No entanto, convidamos todos os que puderem a juntar-se a nós com iniciativas de angariação de fundos por todo o país. Podem contactar-nos para saber mais através do email geral@apcl.pt.
O que ainda falta para que a APCL consiga levar este projeto para a frente?
O contributo e ajuda de todos é importante. Falta-nos dinheiro para a realização da própria obra e podem ser feitos donativos em www.apcl.pt, mas será importante também recebermos bens em géneros, desde tintas, cimento, madeiras, climatização, elevadores, mobiliário, cozinha, loiças para as casas de banho, ou eletrodomésticos.
Há uma previsão para o início da construção deste espaço? E para a sua abertura?
A nossa previsão para o início de obra é para primeiro trimestre de 2019 e para o final da obra o fim do primeiro semestre de 2020.
O atual espaço que após o início e conclusão das obras dará lugar ao projeto 'Casa Porto Seguro'© Direito reservado
Como é a vida de um doente com cancro em Portugal? Quais são as maiores dificuldades que enfrenta?
A vida de um doente com cancro em Portugal prende-se num mundo de burocracias, uma doença que por si só já corrói, vem ainda associada a uma desorganização no que ao acesso de informação prática e de extrema importância diz respeito. Um doente de cancro sofre o estigma de ser doente de cancro ou de o ter sido, de cada vez que tenta comprar uma casa ou por exemplo concorrer a uma vaga de emprego. Há muitas coisas a mudar. Felizmente, temos cada vez mais doentes informados e com vontade de mudar esta realidade.
Qual é a expressão da leucemia e linfomas na sociedade portuguesa?
A APCL dedica-se a doentes com doenças do sangue, linfomas, leucemias, síndromes mielodisplásicas e mieloma múltiplo. De acordo com os dados que dispomos, podemos dizer que:
- As leucemias, linfomas e os neuroblastomas são os tumores mais frequentes na infância.
- Em 2014 registaram-se em Portugal continental 1.837 casos relativos a leucemias.
- Segundo os dados publicados pelo Globocan relativos ao ano de 2012, estima-se que em Portugal a incidência casos de leucemia seja de 1.124.
- Em 2012, a leucemia afetava em todo o mundo 352.000 pessoas e foi responsável por 265.000 mortes.
- Em cada ano aparecem 60 a 100 novos casos por cada milhão de indivíduos. Alguns tipos de leucemia são mais frequentes em determinados grupos etários: a LLA é mais frequente nas crianças e nos jovens; a LMA é mais comum nos adultos e as leucemias crónicas ocorrem geralmente entre os 40 e 70 anos.
- 90% dos casos de leucemia são diagnosticados em adultos, sendo os tipos mais comuns a leucemia mieloide aguda e a leucemia linfocítica crónica.