O barulho do trânsito, sirenes estridentes, vozes altas, e até de ruídos de fundo e constantes como de eletrodomésticos podem tornar-se avassaladores para a saúde mental dos individuos, mas ainda assim a ausência de som tem sido associada à solidão, ao tédio ou à tristeza, como reporta a BBC News.
"Vivemos na era do barulho. O silêncio está quase extinto", afirma o filósofo Erling Kagge, em declarações àquela publicação.
Erling explorou o poder do silêncio e tornou-se a primeira pessoa a alcançar os ‘três polos’ do norte, sul e o cume do Everest.
Mas por que precisamos de silêncio, como o perdemos e onde poderíamos encontrá-lo novamente?
1. Silêncio permite que nos sintamos 'presentes'
"A Antártida é o lugar mais sossegado onde já estive", diz Erling. "Ali, estava cada vez mais atento ao mundo do qual faço parte."
Ele explica como o silêncio que encontrou na sua expedição permitiu que se sentisse mais ‘presente’: "Eu não estava nem entediado nem interrompido. Eu estava sozinho com meus próprios pensamentos e ideias... Eu estava presente na minha própria vida".
Erling acredita que todos podemos encontrar nosso ‘silêncio interno e sugere "ficar de pé no chuveiro... sentado em frente a um fogo crepitante, nadar num lago na floresta, ou dar um passeio pelo campo".
"Todas essas podem ser experiências de quietude perfeita”.
2. O silêncio dá-nos espaço para pensar
O silêncio é "uma chave para desbloquear novas formas de pensar", diz Erling, e a ciência apoia a teoria do filósofo.
Mesmo sem o estímulo do som, o cérebro humano permanece ativo e dinâmico.
Um estudo de 2001 realizado por neurocientistas da Universidade de Washington descobriu que havia uma função cerebral ‘modo padrão’: concluindo que um cérebro ‘em repouso’ ainda está em ação, constantemente absorvendo e avaliando informações.
3. O silêncio é uma ferramenta poderosa de conversação
"O silêncio é uma das grandes artes da conversa", disse o famoso orador romano Cícero.
Na conversa ou no debate, é fácil esquecer o poder do silêncio - mas ficar quieto pode ser uma ferramenta muito eficaz, e é uma opção que todos temos à disposição.
Ao fazer uma pausa, pode falar com mais calma e sabedoria: o silêncio pode ser o espaço entre uma explosão inútil de sentimento e uma resposta ponderada.
Isso também mostra confiança em um argumento. "Nada fortalece mais a autoridade do que o silêncio", afirmou Leonardo da Vinci.
4. O silêncio é a cura para as redes sociais
"As notificações que surgem no computador ou no telemóvel podem ser viciantes", adverte o filósofo e aventureiro Erling Kagge.
"Quanto mais somos inundados, mais desejamos distrair-nos. Verificamos e voltamos a verificar os nossos telefones na tentativa inútil de obter satisfação."
Mas, em vez de encontrar satisfação, afirma que essa forma de ruído gera ansiedade e sentimentos negativos. "Podemos ficar viciados, mas isso não significa que estamos felizes."
"O silêncio", diz Erling, "é o oposto de tudo isso. É sobre entrar em contacto com o que está a fazer, e não viver através de outras pessoas e de outras coisas".
5. O silêncio ajuda a aliviar o stress
A enfermeira britânica Florence Nightingale escreveu que "o ruído desnecessário é a mais cruel ausência de cuidados que pode ser infligida a pessoas doentes”.
Ela argumentava que todo o som desnecessário poderia causar temor, angústia e perda de sono para pacientes em recuperação.
A pesquisa moderna apoia os pontos de vista da enfermeira que viveu no século XIX. Foram recentemente descobertas correlações entre pressão alta e ruído crónico - como o de autoestradas e aeroportos.
O ruído também pode resultar em níveis elevados de stress. Os cientistas creem que as ondas sonoras ativam a amígdala, que está associada à formação da memória e à emoção, causando uma libertação de hormonas do stress.
Esse processo pode ocorrer mesmo enquanto dormimos.
O silêncio, no entanto, tem o efeito oposto: ajuda a libertar a tensão no cérebro e no corpo.
Um estudo publicado na revista Heart descobriu que dois minutos de silêncio podem ter ainda um efeito mais calmante do que ouvir música calma.