Mas será que consumir alimentos orgânicos, que não foram tratados com pesticidas, reduz o risco de contrair cancro? A nutricionista Monica Reinagel em declarações à publicação Hypescience explica que não é bem assim.
Em 2014, um estudo de dez anos com mais de meio milhão de mulheres britânicas descobriu que aquelas que comiam sempre alimentos orgânicos tinham essencialmente o mesmo risco de desenvolver tumores do que aquelas que nunca comiam.
Todavia, um estudo francês recente analisou as dietas de quase 70 mil pessoas e concluiu que “uma frequência maior de consumo de alimentos orgânicos estava associada a um risco reduzido de cancro”. Porém, a nutricionista salienta que este último estudo tem várias falhas.
Alimentos orgânicos – mas quais?
No passado, alguns estudos sugeriram que as pessoas que consumiam mais frutas e vegetais tinham menor incidência de cancro, mesmo quando esses alimentos estavam repletos de pesticidas.
Por exemplo, um estudo de longo prazo que envolveu quase 200 mil mulheres descobriu que aquelas que consumiam em média cinco ou mais porções de frutas e vegetais por dia tinham 10% menos risco de cancro da mama, comparativamente àquelas que comiam 2,5 doses por dia ou menos.
Outros estudos encontraram apenas uma fraca associação entre o consumo de frutas e verduras à probabilidade de desenvolver tumores , ou até nenhuma, o que pode ser surpreendente devido aos fitoquímicos que combatem a doença encontrados nestes alimentos.
Reinagel pensa que a ligação entre a ingestão de frutas e vegetais e o risco de cancro pode ser mais indireta – comer mais frutas e vegetais pode ajudá-lo a manter um peso corporal mais saudável, por exemplo, o que está inequivocamente associado ao menor risco de cancro.
Resultados complexos
A especialista aponta ainda que talvez as pessoas que consumam alimentos orgânicos com mais frequência tenham um risco menor de cancro por razões para além dos pesticidas.
Por exemplo, uma pontuação alta pode refletir uma maior capacidade financeira, maior consciência de saúde, mais idas ao médico ou o facto destas pessoas estarem mais educadas acerca de assuntos relacionados à alimentação e saúde, os quais podem por sua vez, estar associados a outros hábitos saudáveis.
Apesar do senso comum e do estudo francês, a nutricionista não crê que as evidências formem um argumento muito forte de que comer alimentos orgânicos reduz de facto o risco de cancro.
A melhor evidência até o momento indica que comer frutas e vegetais é (suavemente) vantajoso, independentemente de serem convencionais ou orgânicos.