Células estaminais combatem declínio cognitivo causado por radioterapia

Estudo demonstra que células estaminais podem prevenir o declínio cognitivo decorrente de radioterapia.

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Liliana Lopes Monteiro
14/09/2019 14:00 ‧ 14/09/2019 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle

Radioterapia

Um estudo inovador, realizado em Espanha, demonstrou que é possível minimizar as lesões cerebrais provocadas por radioterapia usando células estaminais mesenquimais do tecido adiposo (gordura). O estudo, já publicado na revista científica 'Frontiers in Cellular Neuroscience', foi realizado em modelo animal e teve como objetivo encontrar uma solução terapêutica para os doentes com tumores cerebrais que, após serem submetidos a radioterapia para eliminação das células cancerígenas, acabam por sofrer danos neurológicos irreparáveis.

Durante a última década, o desenvolvimento de tratamentos cada vez mais eficazes no combate ao cancro tem permitido aumentar a esperança de vida dos doentes oncológicos. Contudo, estes tratamentos apresentam frequentemente efeitos adversos severos, que acabam por comprometer a qualidade de vida dos doentes de forma permanente. A radioterapia utilizada para erradicar tumores cerebrais provoca danos neurológicos que podem resultar, entre outros, em dificuldades de memória, aprendizagem, linguagem, atenção, coordenação motora e declínio intelectual global.

O que se pretende é que este problema, atualmente sem solução, possa ser resolvido, pelo menos em parte, recorrendo a terapia com células estaminais mesenquimais. Estas possuem importantes propriedades anti-inflamatórias e regenerativas, cuja aplicação terapêutica está já a ser explorada em várias doenças, com resultados promissores.

De forma a avaliar se as células estaminais mesenquimais poderiam prevenir os danos neurológicos provocados por radioterapia, os autores do estudo compararam três grupos de animais com tumores cerebrais: os que receberam radioterapia; os que receberam radioterapia e células estaminais; e os que receberam placebo (grupo controlo). Demonstrou-se que as células, administradas por via intranasal, chegaram ao cérebro dos animais, que foram, de seguida, sujeitos a um conjunto de testes comportamentais. Nos vários testes realizados para avaliar a coordenação motora, força muscular, olfato e capacidade cognitiva, observou-se que os animais tratados com células estaminais tiveram uma performance superior aos que não receberam células, o que indica que as células estaminais mesenquimais do tecido adiposo foram eficazes na prevenção de lesões neurológicas induzidas por radioterapia.

“O que este estudo vem demonstrar, é que as células estaminais mesenquimais do tecido adiposo são capazes de minimizar os danos neurológicos provocados por radioterapia em modelo animal, constituindo uma base importante para a realização de ensaios clínicos que testem esta metodologia em doentes oncológicos, com vista à melhoria da sua qualidade de vida”, refere Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal.

Os resultados apresentados indicam que as células estaminais ajudam a suprimir a inflamação e a morte de neurónios após radioterapia, o que pode estar na base da recuperação neurológica observada nos animais testados. Os autores deste estudo sublinham a necessidade de continuar a investigação nesta área para melhor compreender os mecanismos envolvidos e defendem que a administração intranasal é uma forma prática e minimamente invasiva de fazer chegar células diretamente ao cérebro, num curto espaço de tempo e de forma disseminada por todo o cérebro, de modo a poderem aí exercer o seu efeito terapêutico.

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