Os investigadores trataram um conjunto de animais com isquémia crítica do membro inferior injetando células estaminais diretamente no músculo da perna afetada, tendo estes apresentado uma recuperação significativa da irrigação sanguínea comparativamente aos do grupo controlo, que apenas receberam solução salina.
Ambos os tipos de células estaminais testadas neste estudo - da medula óssea e do tecido do cordão umbilical - induziram melhorias significativas nos animais tratados, tendo as células do cordão umbilical apresentado eficácia superior, potencialmente devido à sua maior capacidade proliferativa, migratória e de indução da formação de vasos sanguíneos, tal como demonstrado em estudos in vitro.
Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, afirma que “esta terapia celular pode vir a representar uma esperança no tratamento de doença arterial periférica, sobretudo para doentes em estado grave".
"É fundamental dar continuidade a este trabalho, nomeadamente através da realização de ensaios clínicos, com o objetivo de avaliar a segurança e eficácia da terapia com células estaminais do tecido do cordão umbilical nestes doentes”, acrescenta a investigadora.
A doença arterial periférica é causada pelo estreitamento das artérias que irrigam o corpo, na maioria das vezes pela acumulação de placas de gordura nas paredes dos vasos (aterosclerose), caracterizando-se pelo aporte insuficiente de oxigénio aos membros afetados. Tem como principal sintoma dor nas pernas ao caminhar, que alivia com o repouso. Estima-se uma prevalência de 3-10%, com um aumento significativo para 15-20% na população com mais de 70 anos. A progressão desta doença pode levar à isquémia crítica dos membros, uma condição muito grave, em que a irrigação sanguínea está seriamente comprometida. Os doentes apresentam dor mesmo em repouso e feridas que não cicatrizam, podendo levar a consequências devastadoras, como a amputação dos membros afetados.
A abordagem terapêutica inicial inclui o controlo dos fatores de risco, como o tabagismo, hipertensão, diabetes e colesterol, e a realização de exercício físico. Outras medidas, farmacológicas e cirúrgicas, poderão ser tomadas em quadros mais graves da doença. Nos doentes acamados ou em cadeira de rodas, que não tenham a possibilidade de se levantar, está contraindicada a revascularização por via cirúrgica, deixando estes doentes sem alternativas terapêuticas e em risco de amputação.