Conforme explica uma reportagem divulgada pela BBC, não é apenas o envelhecimento que que aumenta o risco de alguém desenvolver Covid-19, mas também sofrer de doenças crónicas debilitantes.
Este tipo de doenças enfraquece o sistema imunológico, reduzindo a capacidade de defesa do organismo contra vírus invasores, conta à BBC o médico Renato Grinbaum, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
"As doenças crónicas causam na maioria das vezes um desgaste do sistema imunitário, o que permite que o vírus se dissemine pelo sangue até chegar aos pulmões, gerando uma infecção nesse órgão", explica Grinbaum.
Diabetes e hipertensão
A diabetes e a hipertensão, debilitam os neutrófilos, o tipo de glóbulo branco mais numeroso no corpo humano e que atua como primeira linha de defesa perante ameaças, como bactérias e vírus.
A importância dos neutrófilos reside no facto que estes cercam e eliminam o invasor por meio da fagocitose, produzindo enzimas digestivas que o destroem. Já quando estão enfraquecidos, o organismo não consegue eliminar o novo coronavírus tão rapidamente quanto seria necessário.
"Quanto mais mal controladas e de longo prazo forem essas doenças, pior funcionam os neutrófilos, e o vírus dissemina-se mais e atinge órgãos que não afetaria, como o pulmão, onde se espalha e provoca uma pneumonia", afirma o infectologista.
Cancro e doenças cardiovasculares
Pelos mesmos motivos, os doentes oncológicos também estão mais vulneráveis ao Sars-Cov-2. Os tratamentos geralmente enfraquecem o sistema imunológico, mesmo muito tempo depois dos tumores desaparecem.
Outro motivo de preocupação para pacientes com covid-19 são as doenças cardiovasculares. A American Heart Association, explica que, quando pulmões são afetados pelo novo coronavírus, um coração já doente necessita de trabalhar ainda mais para bombear sangue oxigenado por todo o corpo.
Um estudo publicado em março na revista Springer Nature, que analisou 150 pacientes com covid-19 em Wuhan, cidade na China que é considerada o epicentro desta pandemia, aponta que "casos com doenças cardiovasculares têm um risco significativamente maior de morte ao contrair o novo coronavírus".
Problemas pulmonares e asma
A capacidade deste vírus afetar o pulmão também exige um cuidado especial com quem já tem esse órgão debilitado.
"Estas pessoas já têm uma capacidade pulmonar mais baixa. Quando o novo coronavírus agride o pulmão, favorece o surgimento de infecções bacterianas secundárias", afirma o infectologista.
Da mesma forma, alguns especialistas também argumentam que infecções respiratórias, como a provocada pelo Sars-Cov-2, podem desencadear e agravar sintomas de asma.
O envelhecimento e a redução da imunidade
A combinação da covid-19 com doenças crónicas em idosos é ainda mais grave porque, a partir dos 60 anos, o sistema imunológico tende deteriorar-se, processo este denominado de imunossenescência, o que prejudica ainda mais a resposta do organismo a vírus e bactérias.
Isso significa que o nosso corpo pode reagir não apenas de forma insuficiente e não conseguir combater um invasor, como também ter uma resposta exagerada, explica o infectologista Kleber Luz, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
"Um sistema imunológico prejudicado não consegue modular a resposta e gera uma inflamação descontrolada, que favorece uma desorganização do microambiente pulmonar, onde há bactérias que vivem em harmonia com o organismo e, diante da inflamação, podem se proliferar", afirma Luz. Mais ainda, as células do sistema imunológico que deveriam apenas matar as células infectadas acabam por atingir as que permanecem saudáveis, agravando ainda mais a saúde dos doentes de terceira idade.
Demência e outros problemas neurológicos
"Esse vírus gera a produção de uma grande quantidade de secreção respiratória, que se acumula na garganta. Normalmente, expelimos isso ao cuspir ou tossir. Mas pessoas com problemas neurológicos não percebem isso ou não têm força para cuspir ou tossir, e as secreções acabam por ser aspiradas para o pulmão e levam bactérias para o interior do órgão", afirma o infectologista Grinbaum.
As recomendações para impedir a infecção pelo novo coronavírus em idosos e pessoas devem ser redobradas por causa de sua maior vulnerabilidade ao vírus e maior risco de infeção e morte por Covid-19.
"O melhor é não sair à rua, e as pessoas que trabalham para alguém idoso ou com outras doenças não devem ir até às suas casas se tiverem qualquer sinal de contispação", conclui Grinbaum.