"Atualmente muitas pessoas estão a ter dificuldades com a alimentação e provavelmente de maneiras diferentes do que tinham antes", afirma a psicóloga clínica Cortney Warren num artigo publicado na BBC News. "Certamente, há uma grande quantidade de pesquisas que sugerem que, quando as pessoas estão perante uma situação de crise, quando estão stressadas, uma das primeiras coisas que mudam é o seu comportamento alimentar".
Existem razões fisiológicas para nos voltarmos para a comida quando o mundo está de 'pernas para o ar'. O corpo tende a desejar alimentos com alto teor calórico e alto teor de açúcar durante situações mais stressantes, isto porque esses alimentos fornecem cargas energéticas intensas - elevando dessa forma o humor, mesmo que a curto prazo.
Por sua vez o stress eleva vertiginosamente os índices de cortisol, que tendem a aumentar o apetite. E alimentos açucarados, explica a BBC, geram dopamina, o neurotransmissor associado à motivação e recompensa.
Como outros comportamentos, diz Warren, comer "pode ativar o centro de prazer do seu cérebro, mas também pode psicologicamente removê-lo da emoção negativa que está a sentir naquele momento".
Então como podemos manter um relacionamento saudável com a comida num momento em que estamos mais em casa e não temos grandes distrações?
A psicóloga referiu à BBC que existem várias estratégias às quais pode recorrer. Por exemplo sugere que continue a comemorar marcos como aniversários com comida. Isso pode envolver, por exemplo, a partilha de fotografias de bolos com pessoas que não podem se conectar pessoalmente, cozinhar a refeição favorita ou oferecer como presente vouchers de restaurantes para serem usados numa realidade pós Covid-19.
Entretanto no dia a dia, Warren salienta a relevância de manter uma rotina como forma de aumentar o bem-estar físico e mental. "É importante que as pessoas continuem com a sua rotina, tentando acordar em horários determinados e dormir em determinados horários", diz. "As pessoas não devem embarcar num estilo de vida caótico por causa da liberdade que advém de estar em casa".
Essas rotinas benéficas devem englobar sono, exercício físico, socialização, meditação/ oração/ terapia (para pessoas que as praticam) e, é claro, comida. É óbvio que uma dieta saudável deve incluir muitas frutas e legumes, mas existem outras regras básicas para nutrir a mente.
"As evidências sugerem que trabalhar em casa pode melhorar o que chamamos de sincronicidade na alimentação da família: fazer as refeições juntos", explica. Fazer três refeições em família por dia está associado a menos sintomas de depressão. E como uma dieta com pouca gordura pode estar associada a um risco de depressão, a adição de gorduras saudáveis pode ser útil.
Isso pode não ser viável para todos, incluindo pessoas temporariamente separadas dos seus familiares e pessoas com dificuldades financeiras. Warren admite "a enorme quantidade de privilégios de classe que significa poder seguir conselhos dietéticos específicos, e ainda mais durante estes tempos incertos. Algumas pessoas nem conseguem comer de forma consistente porque não têm dinheiro".
Warren aconselha ainda os indivíduos a encarar de frente as suas emoções, em vez de as 'enterrar' com comida.