Coronavírus: Como é possível sentir todos os sintomas sem estar infetado

A somatização do novo coronavírus ou Sars-coV-2, causador da doença da Covid-19, trata-se de um processo que se define como "a manifestação de sintomas físicos de um problema psicológico".

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Liliana Lopes Monteiro
07/04/2020 09:57 ‧ 07/04/2020 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle

Somatização do coronavírus

"Resultante do coronavírus, podemos sentir febre, dor de cabeça e até tossir sem ter a doença. Tudo é possível", afirmou em entrevista à BBC News Mundo Emiliano Villavicencio, psicólogo e professor na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de La Salle, na Cidade do México. 

O especialista explica que a somatização se trata de um processo mental definido pela "manifestação de sintomas físicos de um problema psicológico".

Segundo a BBC, o processo de somatização é reconhecido no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais publicado pela Associação Psiquiátrica Americana dos Estados Unidos.

Villavicencio salienta que perante a pandemia que vivemos e o medo e pânico que a situação incomum pode causar causar em certos indivíduos mais suscetíveis pode por sua vez provocar sintomas da Covid-19, mesmo não estando de todo doentes. 

O problema é que esses sintomas são de facto reais e têm a capacidade de confundir as pessoas que os experienciam, fazendo-as acreditar que contraíram a doença, alerta o psicólogo. Contudo, relativamente à somatização, o quadro clínico não é provocado pelo novo coronavírus, mas por um estado exacerbado de stress, ansiedade e preocupação.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os sintomas mais comuns da covid-19 são febre, tosse seca persistente e dor ou dificuldade ao respirar. Apesar de terem sido reportados sinais de doença como secreções nasais, problemas gástricos, perda de olfato, conuntivite, dores musculares, entre outros.

"Na somatização, se o paciente acredita que está com uma dor de cabeça, é porque realmente dói, só que a explicação para essa dor é psicológica", explica Villavicencio.

O especialista contou à BBC como é possível detetar a condição, diferenciá-la da hipocondria e evitá-la mesmo tendo em conta a "sobreexposição a notícias sobre o coronavírus".

Sintomas reais

Villavicencio afirma que recentemente detetou um aumento no número de pacientes com sintomas psicossomáticos que visitam o seu consultório na Cidade do México. 

"Pacientes completamente saudáveis podem sentir todos os sintomas do coronavírus, e tal é normal. Todavia nestes casos, tentamos tratar o medo psicológico que gera os sintomas, em vez de prescrever medicação", explica o especialista.

Em situações desse tipo, os especialistas primeiro descartam qualquer causa física à condição e depois procuram uma razão psicológica que explique os sintomas.

Muitas vezes a pessoa é diagnosticada como sendo hipocondríaca, condição que se caracteriza pelo medo irracional e exagerado de adoecer, que inúmeras vezes interfere negativamente com o dia-a-dia. 

Nesse caso, no entanto, Villavicencio pede para que seja diferenciado esse distúrbio do desenvolvimento de um quadro psicossomático.

Fatores externos

"A diferença entre uma pessoa hipocondríaca e um paciente que manifesta sinais psicossomáticos resulta da influência de um fator ambiental. O hipocondríaco não precisa desse elemento externo — neste caso a emergência de saúde — para desenvolver ansiedade e sentir os sintomas de uma doença", comenta Villavicencio.

A sobreexposição às notícias sobre o coronavírus está por trás do aparecimento de sintomas psicossomáticos. Por esse motivo, Villavicencio aconselha a cuidar não apenas da saúde física, mas também da saúde mental.

O psicólogo recomenda assim que os indivíduos consumam conteúdos noticiosos de fontes confiáveis notícias, saber o que implica de facto padecer do novo coronavírus, "cuja mortalidade geral não é assim tão elevada". 

"Alguém demasiado exposto pode construir facilmente fantasias catastróficas, distorcer a realidade e produzir um estado psicossomático. A partir das ideias e fantasias, o atendimento médico dos países pode ser prejudicado", alerta o especialista.

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