Numa carta enviada a quatro agências governamentais que atualmente desenvolvem tratamentos e vacinas para a Covid-19, um grupo de ativistas pediu que a farmacêutica Gilead Sciences desse início ao desenvolvimento de um medicamento que já se mostrou promissor na cura de gatos doentes, avança o Guardian esta terça-feira.
O medicamento em questão, chamado GS-441524, é semelhante ao remdesivir, um antiviral também fabricado pela Gilead, e um dos poucos tratamentos capazes de acelerar a recuperação em pacientes com Covid-19.
O GS-441524 chamou a atenção no tratamento da peritonite infecciosa felina (FIP) - uma doença fatal causada por um vírus comum chamado coronavírus felino. O medicamento é um tratamento não aprovado, à venda no mercado negro, uma vez que é considerado fatal para os gatos.
O grupo de ativistas também acusou a Gilead de optar por desenvolver o remdesivir, que está muito mais longe no processo de ensaios clínicos, do que o GS-441524, porque permaneceria sob patente por mais tempo e, portanto, produziria mais lucro. A Gilead é especializada em tratamentos antivirais e já recebeu críticas no passado pelas suas políticas de preços, nomeadamente no tratamento da hepatite C.
Mas nem todos concordam. Segundo o jornal britânico, o cientista Derek Lowe acredita que o remdesivir pode ser útil apenas por um curto período de tempo, se for encontrada uma vacina, e que a GS-441524 está anos atrás do remdesivir.
"Anticorpos e vacinas monoclonais são, a meu ver (e não só) a resposta para esta pandemia", disse Lowe citado pelo Guardian. À medida que esses tratamentos forem disponibilizados, antivirais baseados em moléculas, como o remdesivir e o GS-441524, tornar-se-ão menos valiosos.
Um porta-voz da Gilead explicou que a decisão de desenvolver o remdesivir foi tomada porque demonstrou ser mais eficaz" em certas áreas-chave que a GS-441524 e, portanto, uma melhor candidata ao tratamento da Covid-19.