Esta segunda-feira, dia 24 de agosto, cientistas da Universidade de Hong-Kong, na China, confirmaram pela primeira vez um caso de reinfeção pelo novo coronavírus. Trata-se de um homem de 33 anos, com nacionalidade chinesa, que teve alta após ter sido considerado curado da Covid-19 em abril passado, mas no início deste mês voltou a testar positivo depois de ter regressado de uma viagem a Espanha. O estudo de caso será publicado, em breve, no Clinical Infectious Diseases.
Como é que a ciência explica o caso?
O homem não apresentou sintomas na segunda infeção, sugerindo que, embora a exposição anterior não tenha impedido a reinfeção, o seu sistema imunitário foi capaz de manter o vírus sob controlo.
"A segunda infeção foi completamente assintomática - a sua resposta imunitária evitou que a doença piorasse", disse a imunologista da Universidade de Yale, Akiko Iwasaki, que não participou no relatório, mas reviu o manuscrito a pedido do The New York Times. “É uma espécie de exemplo clássico de como a imunidade deve funcionar”.
E as vacinas?
Este caso representa uma preocupação em relação às vacinas, mas os especialistas continuam a defendê-las. "A infeção natural criou imunidade que evitou a doença, mas não a reinfeção", justifica Iwasaki ao jornal americano. “Para conseguir a imunidade de grupo, é necessária uma vacina potente para induzir uma imunidade que previne a reinfecção e a doença”, explicou.
À BBC, o professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres Brendan Wren, explicou que este "é um exemplo muito raro de reinfeção e não deve diminuir o impulso global para desenvolver vacinas contra a Covid-19". "É de se esperar que o vírus mude naturalmente com o tempo".
Depois de vários casos de reinfeção presumida, como podemos ter a certeza?
Médicos em todo o mundo já relataram vários casos de reinfeção, mas nenhum desses casos foi confirmado com testes rigorosos - as pessoas recuperadas carregam fragmentos virais durante semanas, o que pode levar a resultados positivos no teste, mesmo na ausência de um vírus vivo.
Mas, neste caso particular, os investigadores de Hong Kong sequenciaram o vírus de ambas as infeções e encontraram diferenças significativas no RNA viral, sugerindo que o paciente havia sido infetado pela segunda vez. “Acredito que este seja o primeiro caso relatado que é confirmado pelo sequenciamento do genoma”, disse Kelvin Kai-Wang To, microbiologista clínico da Universidade de Hong Kong, citado pelo NY Times.