A relação surpreendente e potencialmente mortífera entre o HERV-K e o novo coronavírus SARS-CoV-2 (causador da Covid-19) foi apresentada numa pesquisa levada a cabo pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Brasil, e pré-publicada no portal Research Square, destaca a revista Galileu.
A fundação aponta que o estudo inédito pode ajudar a entender o motivo por que alguns doentes graves internados nos cuidados intensivos e submetidos a ventilação mecânica recuperam, enquanto outros morrem devido à doença pandémica.
Os investigadores referem que o retrovírus HERV-K, proveniente da família viral K, pode agravar a Covid-19 e impulsionar a mortalidade em certos pacientes internados.
Para efeitos desta pesquisa, explica a Galileu, foram acompanhados 25 indivíduos em estado crítico e submetidos a ventilação mecânica, que permaneciam hospitalizadas no Instituto D’Or (ID’Or), em São Paulo, e no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemayer (IECPN), no Rio de Janeiro.
De acordo com os cientistas, os voluntários tinham em média 57 anos de idade e a evolução dos seus casos de infeção pelo novo coronavírus estava a ser relacionada predominantemente a condições como hipoxia (carência de oxigénio nos tecidos), incidência de inflamação descontrolada, e coagulopatia (distúrbios de coagulação e hemorragia).
Ao examinarem amostras da secreção da traqueia dos doentes, os investigadores detetaram a existência de indíces elevados do retrovírus HERV-K, comparativamente a amostras provenientes de pessoas que sofriam de casos ligeiros a moderados de Covid-19 ou que não haviam sido infetadas de todo pelo SARS-CoV-2.
Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), afirmou num comunicado emitido à imprensa: "verificamos a carga viral de uma população com uma altíssima gravidade, em que a taxa de mortalidade chega a 80% para ver se algum outro vírus estava a coinfetar esse paciente que está debilitado, imunossuprimido".
"A nossa surpresa foi encontrar esses altos níveis de retrovírus endógeno K. É o tipo de pesquisa que parte de uma abordagem completa não enviesada. Isso dá muita força, muita credibilidade à descoberta", acrescentou.
A ameaça vinda do passado
O HERV-K é um retrovírus endógeno, ou seja, infetava o genoma humano durante o processo de evolução, decorrido há milhões de anos - quando os seres humanos e chimpanzés ainda se estavam a separar.
Entretanto, os cientistas apuraram que o novo coronavírus SARS-CoV-2 tem reativado o agente infecioso ancestral, como se se tratasse do 'gatilho' de um revólver.
Perante as pesquisas realizadas até ao momento, os investigadores creem que o nível de mortandade em doentes graves com Covid-19 atinge os 50% entre aqueles que detêm índices elevados de HERV-K.