Um novo artigo publicado na revista científica Blood revela como os anticorpos produzidos pelo corpo humano como forma de proteção contra a Covid-19 estão simultaneamente a provocar um aumento da função das plaquetas, que podem por sua vez estar a causar o aparecimento de coágulos sanguíneos fatais em pacientes com quadros graves da patologia pandémica.
As plaquetas são pequenas células encontradas no sangue que formam coágulos para parar ou evitar hemorragias, porém quando as plaquetas não funcionam corretamente tal pode levar a preocupações sérias de saúde, como derrames e ataques cardíacos.
O estudo analisou anticorpos produzidos para combater a proteína 'spike' do coronavírus, de pessoas com infeções graves de Covid-19, e clonou-os num laboratório com o intuito de os examinar a fundo.
A equipa descobriu que pequenos açúcares detetados na superfície desses anticorpos eram diferentes dos anticorpos de indivíduos saudáveis, e quando esses anticorpos clonados foram introduzidos em laboratório em células sanguíneas retiradas de dadores saudáveis, registou-se um aumento da atividade plaquetária.
Os investigadores envolvidos na pesquisa apuraram igualmente que era possível reduzir ou deter as plaquetas de responder desse modo no laboratório, tratando o sangue com ingredientes ativos de diferentes medicamentos conhecidos por inibir as funções das plaquetas ou respostas imunes.
Os resultados sugerem que pode ser possível que certos fármacos que são atualmente utilizados para tratar problemas do sistema imunológico consigam reduzir ou impedir que as células produzam uma resposta plaquetária exagerada.
Atualmente um ensaio clínico conduzido pelo Imperial College London e pelo Imperial College Healthcare NHS Trust - chamado MATIS - já está a testar esses medicamentos em ensaios clínicos com pacientes em hospitais no Reino Unido, de forma a averiguar a sua capacidade para reduzir a coagulação grave em doentes internados com Covid-19.
O professor Jon Gibbins, diretor do Instituto de Pesquisa Cardiovascular e Metabólico da Universidade de Reading, disse: "até agora, só tínhamos suposições sobre por que motivo as plaquetas envolvidas na coagulação estavam a ser ativadas durante a infeção pela Covid-19".
"Uma maneira de pensar no que acontece é que a resposta imune que é projetada para protegê-lo da infeção em alguns casos, particularmente em pacientes gravemente doentes, na verdade causa mais danos. Neste caso, os anticorpos que são produzidos para parar a Covid-19 de espalhar células infetadas para induzir a atividade plaquetária que causa a coagulação, mesmo que não haja nenhuma ferida que necessita de ser curada".
"Estamos particularmente entusiasmados porque os nossos estudos de plaquetas em laboratório estabelecem mecanismos importantes que explicam como e porquê que coágulos sanguíneos perigosos podem ocorrer em pacientes gravemente doentes com Covid-19, e, importante, também fornece pistas sobre como isso pode ser evitado", concluiu Gibbins.
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