No começo de 2021, reporta um artigo publicado pela BBC News, médicos do Hospital Infantil de Maimonides, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, olhavam com alívio para a diminuição de casos de Covid-19.
Mais ainda, devido às medidas de prevenção adotadas contra o coronavírus, nomeadamente o distanciamento social, uso de máscaras e lavagem regular das mãos, registava-se igualmente uma redução na incidência de outras infeções virais, como por exemplo a gripe comum.
Contudo, em março, os profissionais de saúde começaram a deparar-se com um número crescente de crianças e bebés que davam entrada no hospital com dificuldades do foro respiratório. Ora, os mais pequenos, haviam sido infetados com o VSR, uma infeção comum no inverno e que provoca danos nos pulmões.
Nos meses que se seguiram, casos de VSR fora da época considerada comum persistiram, sobretudo no verão um pouco por todo o mundo, desde no Reino Unido, sul dos EUA, Suíça ou Japão.
Os especialistas creem que o comportamento bizarro do vírus é uma consequência indireta da pandemia de Covid-19. Tendo em conta que em 2020, o isolamento social impediu a sua circulação, no entanto, consequentemente, milhares de crianças não criaram qualquer tipo de imunidade contra o patógeno.
De repente um vírus que era sazonal, tornou-se imprevisível. No momento em que as medidas de isolamento deixaram de estar em vigor ou de ser tão severas, o VSR 'atacou' uma vasta população de crianças suscetíveis, provocando surtos em qualquer estação.
"Os nossos cuidados intensivos voltaram a ficar sobrecarregados, desta vez não com Covid, mas com outro vírus", disse à BBC Rabia Agha, diretora do setor de doenças infeciosas pediátricas do Hospital Maimonides.
No pico do surto em Nova Iorque, no começo de abril, a maioria das crianças internadas nos cuidados intensivos estavam infetadas com o VSR.
Já noutras partes do mundo, o vírus avançou sobre populações de crianças que, até então, estavam havia meses protegidas de doenças infeciosas.
"Foi uma surpresa. Sabíamos que havia algo a ter em atenção, mas não sabíamos que seriam tantas (crianças doentes)", comentou Christoph Berger, chefe do departamento de doenças infeciosas e epidemiologia do Hospital Universitário Infantil de Zurique, na Suíça.
Conforme explica a BBC, a infeção pelo VSR, por si só, não é causa para preocupação. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC), a maioria das crianças é independentemente das circunstâncias infetada pelo agente viral antes dos dois anos. E regra geral, o quadro é semelhante ao de uma simples constipação, com coriza e tosse, e a recuperação ocorre naturalmente.
Todavia, em alguns bebés e crianças pequenas, o vírus pode causar bronquiolite, uma inflamação nos brônquios pulmonares, levando a dificuldades para comer e respirar.
Estima-se que entre 1% a 2% de bebés com menos de seis meses necessitem de internamento hospitalar e de serem tratados com suplementação de oxigénio por máscaras ou tubos nasais. Em casos mais graves, é necessário ainda necessária a colocação de uma sonda alimentar. Sendo que com essas intervenções, a maioria das crianças melhora em poucos dias.
Agora, os médicos questionam-se acerca de qual será o padrão do vírus para os próximos meses, uma vez que surtos no verão não necessariamente impedem ressurgimentos da doença nos meses mais frios.
"O VSR e a bronquiolite causada por este são, com certeza, o motivo da preparação dos hospitais infantis", mencionou à BBC News Sophia Varadkar, vice-diretora médica e neurologista pediátrica no Hospital Infantil Great Ormond Street, em Londres, no Reino Unido. Ali, os casos têm começado a subir, e a profissional prevê a chegada de mais pacientes nas próximas semanas.
Entretanto para os pais, o vírus sincicial respiratório pode tornar-se ainda mais preocupante do que o novo coronavírus, considera Varadkar.
"A Covid em crianças, de modo geral, não foi um problema significativo. Não adoeceu tantas. O VSR é potencialmente um mal maior, afetando mais crianças, e sabemos que pode adoecer os bebés pequenos", disse.
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