"Dermatite Atópica: só quem sente na pele é que a valoriza?"
Um artigo escrito por Joana Camilo, presidente da Associação Dermatite Atópica Portugal (ADERMAP).
© Shutter Stock
Lifestyle Opinião
"A Dermatite Atópica (DA) afeta cerca de mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Número globais, mas que espelham a realidade nacional. Referindo que a maioria destes doentes não convive ou conhece alguém que tenha DA.
A DA, também conhecida como eczema atópico (EA), é o tipo de eczema mais frequente e é a doença crónica inflamatória da pele mais comum, atingindo cerca de 4,4 % da população europeia, com maior prevalência nas crianças (15-25%), mas pode surgir em qualquer idade. Na maior parte dos casos assume uma forma ligeira, contudo, pode manifestar-se de forma mais grave.
Sendo uma doença dermatológica, as pessoas vêem os seus efeitos na pele – vermelhidão, edema (inchaço), prurido (comichão), xerose (secura cutânea), fissuras, lesões descamativas, crostas e exsudação. A comichão é o sintoma mais impactante e pode ser sentido 24h por dia, sobretudo nas formas moderadas-a-graves não controladas, comprometendo extensamente o dia-a-dia e a qualidade de vida.
Para compreendermos o impacto global da DA (não controlada), temos de “ver” também a parte invisível do "Iceberg DA", a comichão persistente, por vezes incapacitante, a dor e ardor, a privação do sono, a falta de concentração que decorre do cansaço, as infeções cutâneas recorrentes e também a baixa auto-estima pela natureza visível da doença, a frustração e a depressão, que cumulativamente interferem significativamente na vida das pessoas com DA, e na de quem as rodeia e delas cuida.
A Dermatite Atópica (DA) é uma das doenças da pele mais prevalentes, mas é também uma das mais menos reconhecidas. É frequentemente considerada como uma “simples doença da pele” e é frequentemente invisível e silenciada pela falta de conhecimento e compreensão sobre a mesma, provocando um sentimento de solidão e de desvalorização que pesa em quem (con)vive com a doença.
A Dermatite Atópica é uma doença inflamatória da pele complexa, não contagiosa e multifactorial!
Não há apenas uma causa para a DA e até hoje ainda não existe uma cura, mas hoje em dia contamos com novas soluções, sobretudo para as formas moderadas-a-graves da DA, que demonstram maior segurança e eficácia e cujos testemunhos de vida revelam que podem ser transformadoras. Hoje podemos ajudar a dar a esperança de uma vida melhor, com qualidade, que permita acreditar e ter mais confiança e tranquilidade no futuro das crianças, adolescentes e adultos com DA. Dar esperança aos que são portadores e cuidadores (todos sofredores) das formas mais graves. Em que os doentes com DA esperam que a esperança, a investigação e a inovação médica se traduza em formas de vida sustentável, equitativa e justa, onde e quando precisam, através dos sistemas público e privado de saúde, conforme já é possível para outras doenças inflamatórias autoimunes, ou imunomediadas como a DA.
Por ocasião do 4º Dia Mundial da Dermatite Atópica, celebrado a 14 de setembro, temos de ecoar ainda mais alto que a Dermatite Atópica é uma doença visível, que afeta o próprio, a sua família e a sociedade, que pode ter impactos físicos, psicológicos, emocionais e sócio-económicos significativos que precisam, que têm de ser amplamente reconhecidos e valorizados. As necessidades das pessoas que vivem com DA precisam de ser devidamente compreendidas, valorizadas e respondidas, de forma mais personalizada e holística, mais justa, mais humanista e empática.
As pessoas que vivem e cuidam de alguém com Dermatite Atópica precisam de sentir que não estão sozinhas na valorização da doença e dos seus impactos, precisam de sentir que não são apenas os que sentem na pele (ou no coração) que valorizam."
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