Com o Natal a aproximar-se a passos largos, surgiu-lhe a pergunta: "Que vinho devo comprar?". Na realidade, nem sempre o melhor vinho é o mais caro da garrafeira. E nem os brancos e tintos são piores ou melhores do que os rosés.
Com isso em mente, estivemos à conversa com Duarte Leal da Costa, diretor executivo da Ervideira, uma referência no mercado dos vinhos, e abandonámos a visão turva de que o tinto só casa com carne. Há muitos mais vinhos que nos podem fazer companhia à mesa nesta quadra festiva e que vão bem com um prato de bacalhau, cabrito e até opções vegetarianas.
Quais as regras de ouro da harmonização de vinhos?
Falar de harmonização é falar da procura pelo equilíbrio entre os sabores. É uma aventura em busca da perfeição, da surpresa e do prazer que sentimos em combinar uma bebida e uma comida e de poder partilhar esse momento com os amigos e a família. Sendo uma ciência em constante mutação, a harmonização será sempre caso de boa discussão, mas há uma base que me parece ser a mais consensual: para comidas apimentadas devemos optar por vinhos espumantes. Já quando temos sabores cítricos a aposta devem ser os vinhos brancos, enquanto as carnes de sabor intenso merecem ser acompanhadas por vinhos com taninos fortes. Por fim, para as carnes brancas e sem molhos podemos escolher vinhos brancos.
Duarte Leal da Costa (no meio) e filhos© DR
Como sabemos que vinho escolher para acompanhar determinado prato?
Devemos ter uma ideia da refeição que vamos ter e dos alimentos que a compõem. Toda esta informação será crucial para que a lista de opções se vá reduzindo às que realmente nos interessam naquele momento. Há, ainda assim, alguns truques fáceis de memorizar para conseguirmos um bom equilíbrio entre os sabores. Há quem siga as cores. Isto é, se o prato apresenta tons fortes ou escuros, pede um vinho de cor igualmente forte. No caso de um prato com cores suaves, o vinho deve seguir a mesma tendência.
Podemos também guiar-nos pelo paladar e fazer algumas experiências: acertar na melhor combinação entre doce e salgado. Um queijo, por exemplo, sugiro que seja combinado com um vinho mais leve. Mas perante um queijo mais forte, optaria por um vinho também mais forte.
Um prato de peixe só deve ser servido com vinho branco, por exemplo?
Não podemos ser rígidos a esse ponto. Se temos notado uma grande evolução na cozinha portuguesa - e aqui tiro o chapéu a todos os que trabalham diariamente para mostrar o valor do nosso país através das refeições que elaboram - também os vinhos têm evoluído para conseguirem uma ‘relação’ perfeita com a comida. Tentamos, ao mesmo tempo, surpreender os especialistas e agradar quem simplesmente gosta de apreciar um bom copo de vinho, mesmo que ocasionalmente. Mas, como base, indico mais vinhos brancos para peixes e tintos para carnes.
No entanto, para mostrar que um tinto também pode acompanhar peixe, sugerimos qualquer um dos vinhos Terras D’Ervideira, Vinha D’Ervideira ou o mais recente 100 Pés. São vinhos capazes de respeitar um prato de peixe e talvez mais indicados para um bacalhau, cataplana, polvo á lagareiro.
A pensar no Natal, que vinhos sugere?
O nosso Natal é, tradicionalmente, rico em pratos fortes, pelo que iria, sem dúvida, para um tinto de caracter ou um branco com fermentação e estágio em barrica.
E para pratos vegetarianos? É diferente harmonizar vinho?
Tal como há fatores a ter em conta na hora de escolher o vinho para um prato de carne ou peixe, também a comida vegetariana merece especial atenção. Assim, para pratos que tendem a ser mais leves, devemos optar por vinhos elegantes e aromáticos, como o rosé, por ser mais frutado.
Também para uma salada, queijo ou abacate, as pessoas não têm de abdicar do vinho só por ser uma refeição mais leve. Sugiro um vinho branco mais encorpado - aqui o Alentejo é uma aposta segura. Mas se a sua preferência são os tintos e não quer deixar de apreciar um prato vegetariano, então a comida em questão deve contar com uma textura mais vincada. O objetivo é encontrar um bom equilíbrio com os taninos, para que um não se sobreponha ao outro.
Num prato à base de salada com vegetais frescos, abro também uma exceção para espumantes. É uma excelente forma de reforçar a sensação de frescura que é transmitida aos nossos sentidos.
Leia Também: 12 curiosidades sobre vinho que (muito provavelmente) desconhece