Portugal comemora, anualmente, a 1 de junho, o Dia Mundial da Criança. Este dia, estabelecido oficialmente em 1950, tem, entre outros objetivos, sensibilizar para os direitos das crianças e para a necessidade de promover uma melhoria das condições de vida, tendo em vista o seu pleno desenvolvimento.
Frequentemente, esta data celebra-se com a dádiva de bens materiais, importantes para um bem-estar (embora, frequentemente, efémero) emocional da criança, mas que em pouco contribuem para o desenvolvimento da criança. É verdade, que as efemérides servem para chamar à atenção de uma determinada causa, sendo por isso, aproveitadas para o 'extraordinário', para o 'espetáculo', para o consumismo.
No entanto, e enquanto nutricionista, penso que deveríamos olhar para a data para refletirmos sobre o objetivo do dia: promover uma melhoria das condições de vida das crianças. E, nesta perspetiva, faz todo o sentido a celebração de outra efeméride, esta criada em 2001 por iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) – o Dia Mundial do Leite, para assinalar a importância do leite como alimento global.
Rui Matias Lima
Nesta feliz coincidência das datas devemos todos olhar para um alimento que apresenta características que o tornam praticamente único. A sua riqueza nutricional, as suas características organoléticas, a sua versatilidade que o permite consumir de diferentes formas, o seu potencial como fonte para outros produtos, faz com que este alimento deva integrar a dieta de todos, mas sobretudo de crianças.
Algumas tendências, referem que podemos viver sem consumir produtos lácteos. Claro que podemos, mas não é a mesma coisa. Pessoalmente, colocaria a questão de outra forma. Por que haveríamos de excluir os produtos lácteos dos nossos hábitos de consumo? Haverá alguma evidência científica que leve à rejeição do leite? Desconheço e acredito sinceramente que se tal houvesse, a FAO não teria avançado com a proposta de comemoração deste dia.
Para além de possuir Proteínas de Alto Valor Biológico, o leite tem um perfil nutricional único. Tem um potencial de promoção da saúde de extrema importância. Não podemos, por exemplo, deixar que os níveis de iodo das crianças (e é reconhecida a importância do iodo para o desenvolvimento cognitivo das crianças) se tornem cada vez mais reduzidos, ou que haja comprometimento da massa óssea no futuro, ambas as situações associadas e uma progressiva redução do consumo de leite.
Portugal tem há cerca de 50 anos, desenvolvido políticas que visam a promoção do consumo de leite em meio escolar. Foi, durante muitos anos, um exemplo de como desenvolver uma estratégia de educação alimentar de resposta eficiente a carências alimentares e necessidades alimentares de crianças. Os Ministérios da Educação, da Agricultura e da Saúde tudo têm feito para que os hábitos de consumo de leite, por crianças do Pré-Escolar e do 1.º ciclo se mantenham, mas novos desafios surgem. Atualmente, temos de contar com o apoio e envolvimento dos Municípios.
Acredito que todos, com responsabilidades políticas, queiram o melhor para o que de melhor há no mundo, as crianças. E se queremos o melhor para elas, há que lhes dar o alimento mais interessante.
Finalmente, uma palavra para pais, mães, educadores/as. Não é por acaso que o leite, seja ele proveniente de qualquer espécie animal, bovina, caprina, ou qualquer outra, dependendo da origem geográfica da população consumidora, está tão amplamente e há tantos milhares de anos integrada nos hábitos alimentares dos seres humanos.
Os lacticínios devem sempre integrar, diariamente, a dieta de cada um. Seja leite em espécie, branco ou aromatizado, magro ou meio-gordo, sob a forma de iogurte, de queijo, de requeijão… Há que colocar a capacidade inventiva para diversificar as formas de consumo para variar, sobretudo ao pequeno almoço e ao lanche, mas sobretudo brindar, não só no dia 1 de junho, mas todos os dias, as crianças com um dos melhores alimentos que a natureza nos prendou. Brindemos, com leite, ao futuro da humanidade, as crianças.
Declaro não ter qualquer conflito de interesse, não tendo qualquer compromisso com a indústria alimentar, sendo a opinião expressa, uma mera reflexão pessoal sobre a temática.
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