As férias deveriam ser sinónimo de relaxamento, descanso, divertimento. Mas quando se tem filhos pequenos, nem sempre isso acontece. Pensar nas férias pode ser também sinónimo de birras, choros, aborrecimento e disputas entre irmãos. Mas os pais não podem deixar o seu ânimo esmorecer!
É certo que um maior convívio entre toda a família, gera por si só, maiores possibilidades de, por vezes, as birras e os conflitos surgirem. Mas estas não têm de ser encaradas como um 'bicho de sete cabeças'.
Antes de pensar na melhor forma de lidar com elas, há que tentar prevenir as 'companheiras birras'. Em idade pré-escolar, o humor das crianças está mais fortemente associado ao sono e à alimentação. Por isso, para os mais pequenos, é importante manter algumas rotinas, como fazer uma sesta, não deitar demasiadamente tarde ou fazer as refeições em horários que respeitem as suas necessidades. Se eles estiverem com o sono e a fome em dia, tudo o resto corre muito melhor.
Mariana Saraiva e Prata© DR
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Quando a birra já deu a cara, há que ter em conta que faz parte de certas etapas do desenvolvimento infantil, sendo algo normativo. As crianças não nascem ensinadas a gerir as suas emoções, e as birras são apenas uma manifestação de frustração, raiva, tristeza e outras emoções mais desagradáveis, que as crianças ainda não conseguem regular. A função dos pais é precisamente a de ir ajudando os filhos a gerir as suas emoções, de modo a que vão aprendendo o que podem fazer, quando se sentirem dominados pela frustração, pela raiva, pela tristeza ou até pelo medo.
Como ajudar as crianças a gerir as suas emoções? Primeiro, tentando compreender o que despoletou a birra, pois esta surge sempre decorrente de uma necessidade da criança. Depois, há que mostrar ao seu filho, que num momento em que ele se encontra desregulado ao nível emocional, os pais estão lá para o ajudar, levando-o para um local mais calmo, abraçando-o se necessário, falando com ele e auxiliando-o a colocar por palavras as suas emoções e a resolver a situação. Assim, é através desta coregulação emocional entre pais e filhos que se dá a aprendizagem da gestão emocional, tão importante na formação das crianças.
Por vezes, não é a birra que surge mas um aborrecimento decorrente de acharem que não existe nada de interessante que possam fazer. Hoje em dia, muitas crianças, consideram que quando estão entre quatro paredes, a única coisa divertida que existe são os videojogos e jogos no telemóvel e tablet. Tente mostrar-lhes que podem fazer outras coisas igualmente divertidas. Neste campo, não há receitas mágicas para os pais. É pensarem nos vossos filhos, nos seus gostos e interesses e proporem alguns jogos em família. A opção ar livre, saindo para praia, piscina, parques é sempre muito importante e traz uma adesão mais fácil.
Conflitos entre irmãos… Socorro!
Nalgumas famílias com vários filhos, sobretudo com idades próximas, os conflitos também podem ser uma “visita” incontornável nas férias. A partir da idade escolar, é importante deixar que as crianças resolvam as suas questões, intervindo apenas quando necessário. Confie que elas já interiorizaram a grande maioria das regras de convívio social e sabem aquilo que é certo e errado, na maior parte das situações, que surgem nas brigas entre irmãos. Ajude apenas a que se ouçam e conversem, e eles encontrarão uma solução em conjunto.
Em idades mais precoces, as crianças precisam do adulto como mediador, pois ainda estão no início do desenvolvimento das suas competências sociais. E nada melhor do que desenvolvê-las no seio familiar. Nestes casos, os pais podem modelar como poderiam resolver determinada situação, por exemplo de partilha, dizendo: 'Agora brincas tu com a raquete e depois brinca o teu irmão' ou sugerindo 'Porque não brincam em conjunto com as raquetes?'.
Neste verão, aproveite para viver momentos especiais em família, criando memórias felizes para todos e não deixe que as birras dos mais novos alterem o seu humor.
*Artigo assinado por Mariana Saraiva e Prata, psicóloga no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Porto
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