A polypill é eficaz na prevenção de episódios cardiovasculares decorrentes de um enfarte do miocárdio, diminuindo a mortalidade por causas cardiovasculares em 33%. É o que comprova o estudo SECURE, coordenado pelo CNIC de Espanha, apresentado esta sexta-feira, 26 de agosto, numa sessão Hot Line no Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2022) que tem lugar em Barcelona e cujos resultados foram publicados no The New England Journal of Medicine (NEJM).
"Os resultados do SECURE revelam, pela primeira vez, que a polypill que contém aspirina, atorvastatina e ramipril, permite reduções clinicamente relevantes nos episódios cardiovasculares recorrentes em doentes que tenham sofrido um enfarte do miocárdio", sublinha o investigador chefe do estudo SECURE, o Prof. Valentín Fuster, diretor-geral do CNIC, diretor do Mount Sinai Heart e diretor médico do Hospital Mount Sinai, em comunicado.
O SECURE incluiu 2.499 pacientes de sete países europeus (Espanha, Itália, Alemanha, República Checa, França, Polónia e Hungria), que já tinham sofrido um enfarte do miocárdio e que foram selecionados, de forma aleatória, para receberem um tratamento standard ou a polypill do CNIC. A idade média dos participantes foi de 76 anos, sendo 31% mulheres. Destes, 77,9% registavam hipertensão, 57,4% diabetes e 51,3% antecedentes de tabagismo.
O principal objetivo do estudo teve em conta os episódios cardiovasculares mais graves: morte por causas cardiovasculares, enfarte do miocárdio não mortal, AVC ou revascularização urgente. Os dados do estudo SECURE, que se basearam no acompanhamento médio de três anos destes pacientes, são conclusivos no que respeita a este objetivo. O estudo detetou uma diminuição do risco acumulado de manifestação destes quatro episódios em 24%, nos doentes que receberam polypill, em comparação com os que continuaram a tomar a medicação separadamente, como habitualmente.
Especialmente relevantes são os efeitos da polypill sobre uma das variáveis mais determinantes, a incidência de morte cardiovascular, que diminuiu em 33 %, passando de 71 doentes no grupo de tratamento habitual, para 48 no grupo de polypill.
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Além disso, os doentes do grupo da polypill apresentavam níveis mais altos de adesão, em comparação com os do grupo de tratamento habitual, confirmando assim os resultados obtidos no estudo FOCUS2, também financiado pela União Europeia (UE).
"A adesão ao tratamento depois de um enfarte do miocárdio agudo é essencial para uma prevenção secundária eficaz. A polypill, por ser uma estratégia muito simples que combina três dos tratamentos basilares neste tipo de pacientes, comprovou o seu valor, dado que o aumento da adesão implica que os pacientes estão a ser mais bem tratados e, por isso, têm um menor risco de sofrer episódios cardiovasculares", acrescenta José María Castellano, diretor científico da Fundación de Investigación HM Hospitales e primeiro autor da publicação.
De acordo com Oscar Pérez, chief marketing, market access and business development officer da Ferrer, "a redução em 33% da mortalidade cardiovascular demonstra a eficácia do tratamento com Trinomia3 em comparação com o tratamento padrão. Estes resultados corroboram o nosso propósito de gerar um impacto positivo na sociedade e representam um passo importante na nossa missão de aportar um valor significativo e diferenciador às pessoas que sofrem de doenças graves".
Valentín Fuster conclui: "As descobertas do estudo SECURE sugerem que a polypill poderia transformar-se numa parte integrante das estratégias de prevenção de episódios cardiovasculares em pacientes que sofreram um enfarte. Ao simplificar o tratamento e melhorar a adesão ao mesmo, esta abordagem tem o potencial de reduzir o risco de doença crónica e a morte cardiovascular à escala global".
O SECURE foi financiado pelo programa de investigação e inovação Horizonte 2020 da UE (identificação de estudo NCT02596126).
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