Doença coronária é "comum" e afeta "quase meio milhão" de portugueses

Assinala-se, a 14 de fevereiro, o Dia Nacional do Doente Coronário, por isso, a mais recente edição da rubrica Médico Explica foca-se nesta condição de saúde. Carlos Galvão Braga, cardiologista de intervenção no Hospital de Braga, explica o que é a doença coronária, os seus fatores de risco e consequências.

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Margarida Ribeiro
14/02/2023 08:50 ‧ 14/02/2023 por Margarida Ribeiro

Lifestyle

O Médico Explica

A 14 de fevereiro celebra-se o Dia dos Namorados, é verdade, mas também se assinala o Dia Nacional do Doente Coronário, uma forma de alertar para esta "doença crónica comum na sociedade moderna atingindo, em Portugal, quase meio milhão de pessoas", explica Carlos Galvão Braga, cardiologista de intervenção no Hospital de Braga, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto

Trata-se de uma condição que se desenvolve ao longo dos anos, "mas pode ter agudizações súbitas, como o enfarte agudo do miocárdio".

Além disso, está associada a inúmeros fatores de risco, sendo que alguns, como a idade e o sexo, não são modificáveis, mas outros, nomeadamente, o excesso de peso e o tabagismo são. 

Como é uma doença crónica e progressiva, não é curável, mas tratável. Isto é, com alguns tratamentos, assim como mudanças significativas no estilo de vida, é possível tratá-la. 

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O que é a doença coronária? 

A doença coronária caracteriza-se pela deposição de gordura e cálcio (aterosclerose) na parede dos vasos sanguíneos que irrigam o coração, as artérias coronárias, levando à sua obstrução progressiva e à consequente diminuição do fluxo de sangue rico em oxigénio e nutrientes necessários para o normal funcionamento do músculo cardíaco. Este processo é gradual ao longo de anos, mas pode ter agudizações súbitas, como o enfarte agudo do miocárdio. Ocorre também noutras artérias do corpo humano, sendo mais frequente em pessoas com um ou mais fatores de risco cardiovascular.

Notícias ao Minuto Carlos Galvão Braga© Hospital de Braga  

Quais são os fatores de risco? O género também é um fator? 

Há fatores de risco que não podem ser modificados, como a idade, o sexo masculino (embora a partir da menopausa o risco seja equivalente entre homens e mulheres) e o histórico familiar de doença coronária, mas há outros que são modificáveis e que podem ser controlados com alterações ao estilo de vida ou medicação, como o excesso de peso, o sedentarismo, o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e os níveis elevados de pressão arterial, colesterol e açúcar no sangue. Os fatores de risco potenciam-se uns aos outros (por exemplo, o excesso de peso aumenta a probabilidade de ter o colesterol e a pressão arterial elevados).

É algo comum? Afeta muitos portugueses? 

É uma doença crónica comum na sociedade moderna atingindo, em Portugal, quase meio milhão de pessoas. É importante relembrar que as doenças cardiovasculares, em particular a doença coronária e a doença vascular cerebral, continuam a ser a primeira causa de morte em Portugal, correspondendo a cerca de 30% de todas as mortes por ano.

A doença coronária também pode passar despercebida durante anos, manifestando-se mais tarde por sintomas de insuficiência cardíaca, como o cansaço fácil com o esforço

Quais são os sintomas associados à doença?

O principal sintoma associado à doença coronária é a angina de peito, uma sensação de aperto, queimadura ou opressão no meio (esterno) ou no lado esquerdo do peito (precórdio), podendo também atingir o pescoço, o queixo, as costas, os braços ou até mesmo o estômago, com duração habitualmente inferior a 10 minutos, sendo despoletada pelo esforço e aliviada pelo repouso.

Esta dor pode ser acompanhada de falta de ar/dificuldade em respirar, suores, náuseas, tonturas e mal-estar geral. No caso do enfarte agudo do miocárdio, os sintomas são semelhantes, mas geralmente mais intensos e de duração mais prolongada (superior a 20 minutos), podendo surgir de forma súbita, mesmo em repouso.

A doença coronária também pode passar despercebida durante anos, manifestando-se mais tarde por sintomas de insuficiência cardíaca, como o cansaço fácil com o esforço.

Que efeitos tem esta doença na qualidade de vida das pessoas? 

Esta patologia tem um impacto negativo significativo na qualidade de vida das pessoas, não só pelo aumento das hospitalizações e da mortalidade, mas também por se associar à diminuição do bem-estar físico e mental, ao reduzir a capacidade de realizar as tarefas do dia-a-dia e se associar a maiores níveis de ansiedade e depressão.

Aumenta o risco de enfarte? Porquê? 

Sim, uma vez que o enfarte agudo do miocárdio se caracteriza pela rotura súbita de uma placa de aterosclerose numa das artérias coronárias, com consequente formação de um coágulo sanguíneo à sua superfície que vai obstruir completamente o fluxo sanguíneo.

Que outro tipo de complicações pode causar? 

Pode causar também insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas e morte súbita.

Como é feito o diagnóstico? 

O diagnóstico baseia-se na história clínica do doente, na sua observação e na realização de alguns exames complementares de diagnóstico, como o eletrocardiograma (registo dos impulsos elétricos do coração que pode mostrar indicações de uma artéria bloqueada), o ecocardiograma (visualização da estrutura e funcionamento do coração com recurso aos ultrassons) e um teste para visualização das obstruções coronárias (angiografia coronária por TAC) ou avaliação da sua relação com os sintomas, como a prova de esforço em tapete rolante ou o ecocardiograma de esforço, entre outros. Pode ser necessário ainda fazer um cateterismo cardíaco/angiografia coronária invasiva para confirmar a lesão das artérias coronárias.

A doença coronária é crónica e progressiva, pelo que não é curável, mas tratável

Quais são os tratamentos utilizados? 

Os objetivos principais dos tratamentos da doença coronária são o controlo dos fatores de risco para evitar a sua progressão, o alívio dos sintomas e a redução das suas complicações, especialmente, o enfarte do miocárdio. Podem incluir alterações ao estilo de vida (por exemplo parar de fumar, praticar exercício físico, ter uma alimentação equilibrada, controlar a pressão arterial), medicação ou, em casos mais graves, intervenções minimamente invasivas, como a angioplastia coronária, que consiste na desobstrução da artéria coronária afetada com colocação de um 'stent', uma rede em forma de tubo que mantém o vaso aberto.

É algo curável ou que simplesmente passível de se controlar? 

A doença coronária é crónica e progressiva, pelo que não é curável, mas tratável. Assim, uma vez diagnosticada, é fundamental que se instituam medidas eficazes para corrigir os fatores de risco e evitar as possíveis complicações.

É possível prevenir a doença? Como? 

A melhor maneira de prevenir a doença coronária é combater os fatores de risco cardiovascular e adotar um estilo de vida saudável, incluindo: (1) realizar exercício físico de intensidade moderada de forma regular (pelo menos 30 minutos por dia, cinco dias por semana), o que além de melhorar a saúde cardiovascular ainda tem o benefício de manter o bem-estar físico e psíquico; (2) ter uma alimentação equilibrada (por exemplo dieta mediterrânica ou similar, limitando o consumo de sal para <5 g/dia, de gorduras para <30% do total de calorias por dia e de gorduras saturadas e açúcares simples para <10% do total de calorias); (3) controlar o peso (índice de massa corporal ideal < 25 kg/m2); (4) não fumar (o tabaco é responsável por 50% das mortes evitáveis em fumadores); (5) limitar o consumo de álcool. De forma sinérgica e quando necessária, a utilização de medicação apropriada para o controlo da pressão arterial, do colesterol e dos níveis de açúcar elevados (diabetes) pode minimizar o risco de uma doença cardiovascular aguda potencialmente fatal. 

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