Do estigma aos atrasos no diagnóstico, tudo sobre incontinência urinária
O tabu é um dos maiores obstáculos no acesso ao tratamento da doença, cada vez mais comum e subtratada. A propósito da Semana Mundial da Incontinência Urinária, entre os dias 12 e 18 de março, o Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com a presidente do Movimento Pela Continência e Disfunção Pélvica, com um urologista e com uma instrutora de pilates e personal trainer.
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Lifestyle Entrevista
Identificada pela Organização Mundial de Saúde como um problema de saúde pública, a incontinência urinária foi classificada como uma patologia de baixa prioridade durante a pandemia de Covid-19. Atualmente, a Associação Portuguesa de Urologia estima que haja 600 mil casos em Portugal e um dos principais fatores que contribui para estes números é o envelhecimento da população. No entanto, há ainda quem tenha vergonha de falar no assunto.
As mulheres, especialmente entre os 45 e 65 anos, são as mais afetadas pela perda involuntária de urina. A realização de partos vaginais e as alterações hormonais resultantes da gravidez e menopausa são fatores de risco. Contudo, muitas pessoas consideram que este problema é 'normal' a partir de determinada idade e assumem que nada há a fazer. Outras hesitam em pedir ajuda, o que contribui para perpetuar a vergonha e o estigma.
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O urologista Ricardo Pereira e Silva admite, ao Lifestyle ao Minuto, que esta é uma doença "socialmente mal aceite". "Existe muita incompreensão para com as pessoas incontinentes", considera. "Por vezes, os doentes procuram gerir a situação, mesmo que de forma inconsciente, diminuindo a ingestão de água e deixando de realizar as atividades que levam à perda de urina. (...) Sofrem em silêncio, passam mais tempo em casa e evitam estar com outras pessoas", afirma, sublinhando que este comportamento "tem consequências devastadoras" para as suas vidas.
Um dos desafios é precisamente o facto de os doentes procurarem ajuda médica bastante tarde, com incontinência grave a necessitar de fralda e já com um impacto devastador no seu quotidiano
O especialista recorda "doentes que deixaram de ir a casa de outras pessoas, mesmo dos seus familiares, por receio de estarem a cheirar a urina". O que muitos não sabem é que há tratamento para 85% dos casos, quer seja medicamentoso ou cirúrgico. "Existe tratamento adaptado para oferecer em cada caso."
Ricardo Pereira e Silva alerta para importância do diagnóstico precoce e tratamentos atempados. "Um dos desafios é precisamente o facto de os doentes procurarem ajuda médica bastante tarde, com incontinência grave a necessitar de fralda e já com um impacto devastador no seu quotidiano."
Ricardo Pereira e Silva, urologista, Joana Oliveira, presidente do Movimento Pela Continência e Disfunção Pélvica, e Alexandra Loureiro, instrutora de pilates e personal trainer no Level Health Club Almada© Ricardo Pereira e Silva, Joana Oliveira e Alexandra Loureiro
Já do lado dos doentes, uma das principais queixas é a demora no diagnóstico. "Estas patologias demoram, em média cerca de sete a nove anos a serem diagnosticadas", revela Joana Oliveira, presidente do Movimento Pela Continência e Disfunção Pélvica, que destaca também a "falta de informação por parte dos profissionais de saúde". "É um problema", lamenta.
Podemos e devemos aconselhar os doentes com incontinência a perder peso, deixar de fumar, praticar exercício físico e evitar substâncias irritantes da bexigaMédicos e doentes também reclamam a comparticipação de medicamentos, pensos e fraldas. "É urgente dar mais visibilidade aos problemas associados à continência e disfunção do pavimento pélvico. Encorajar o debate público e aberto e a quebra de estigma e tabus associados a estas doenças são os principais objetivos do Movimento", defende Joana Oliveira. Aos decisores políticos apela "à alteração da lei de incapacidade".
Para já, "podemos e devemos aconselhar os doentes com incontinência a perder peso, deixar de fumar, praticar exercício físico e evitar substâncias irritantes da bexiga, principalmente quando consumidas em excesso, como o café, chá, álcool, bebidas gaseificadas e comidas condimentadas", diz Ricardo Pereira e Silva. No entanto, o especialista adverte que estas medidas servem "apenas para mitigar o problema", uma vez que "não substituem uma avaliação por um urologista dedicado ao tratamento da incontinência".
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Neste sentido, Alexandra Loureiro, instrutora de pilates e personal trainer no Level Health Club Almada, refere que praticar regularmente exercícios de fortalecimento do pavimento pélvico "permite dar suporte aos órgãos internos, nomeadamente à bexiga, bem como impedir perdas de urina". Embora considere que "a reversão dos casos de incontinência urinária deve ser objeto de análise casuística", faz questão de frisar que "existem evidências de grandes retrocessos no processo após a prática consistente dos exercícios de reforço do soalho pélvico".
"Através da consciencialização e promoção de atividades como pilates, os ginásios podem desempenhar um papel de alerta", remata.
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