Estima-se que, em todo o mundo, 200 milhões de pessoas vivam com algum distúrbio da tiroide, muitas vezes por diagnosticar. Por cá, prevê-se que um milhão de pessoas sofram de alterações da tiroide - a maioria são mulheres. Contudo, apesar dos números alarmantes, muitos indivíduos desconhecem a importância desta glândula endócrina, produtora de hormonas lançadas na corrente sanguínea que regulam o metabolismo, os batimentos cardíacos e a temperatura corporal.
Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, o médico endocrinologista Henrique Carmona Alexandrino, do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, afirma que "a tiroide desempenha um papel fundamental no funcionamento do organismo". Como tal, "é essencial estar ciente de qualquer sintoma incomum ou persistente e discuti-los com um médico especialista", recomenda o também membro do Conselho Consultivo/Científico da Associação das Doenças da Tiroide, a propósito do Dia Mundial da Tiroide, que se assinala esta quinta-feira, 25 de maio.
O especialista sublinha também que o diagnóstico precoce pode permitir um tratamento adequado e a recuperação de alguma da qualidade de vida perdida. "O diagnóstico precoce e o tratamento adequado das doenças da tiroide são fundamentais para minimizar complicações."
A tiroide pode ser afetada por diversas doenças, a maioria delas silenciosas
Em primeiro lugar, o que é a tiroide?
A tiroide é uma glândula endócrina, em forma de borboleta, localizada na parte anterior do pescoço, logo abaixo da maçã de adão. Faz parte do sistema endócrino e desempenha um papel fundamental na regulação do metabolismo do corpo humano.
© Henrique Carmona Alexandrino
Qual é exatamente a sua função? Para que serve e como funciona?
A principal função da tiroide é produzir hormonas tiroideias, designadas por T3 e T4. A tiroide é controlada através de outra glândula chamada hipófise que se localiza no centro do cérebro produzindo hormonas tiroideas. As hormonas tiroideias (T3 e T4) são libertadas na corrente sanguínea e afetam praticamente todas as células e tecidos do corpo. Ajudam o corpo a utilizar energia, a manter-se quente e a garantir o funcionamento adequado do cérebro, coração, músculos e outros órgãos. Têm ainda um papel fundamental, em idades mais jovens, no crescimento e desenvolvimento humano.
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Quais as principais patologias da tiroide?
A tiroide pode ser afetada por diversas doenças, a maioria delas silenciosas, que são muito comuns sobretudo em mulheres. A maioria das patologias da tiroide relaciona-se com a produção de hormonas ou com a sua estrutura. Quanto à produção, pode haver um excesso de hormonas (hipertiroidismo) ou um défice de hormonas (hipotiroidismo), detetados por análises de sangue. Quanto à estrutura, a tiroide pode desenvolver nódulos, que são estruturas que crescem na tiroide, a maior parte benignas, e que podem ser detetados na palpação do pescoço ou por ecografia.
Em Portugal, a principal causa do hipotiroidismo deve-se a uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a tiroide, destruindo-a, e que se chama tiroidite de Hashimoto
Como é que se manifestam? Quais os sintomas?
As manifestações e os sintomas das patologias da tiroide podem variar dependendo da doença específica. O hipotiroidismo (o mais comum) pode ocorrer com fadiga, ganho de peso, fraqueza, sensação de frio, pele seca, queda de cabelo, depressão e obstipação. Já o hipertiroidismo é o oposto, com perda de peso, aumento da frequência cardíaca, nervosismo, sudorese e sensibilidade ao calor, entre outros. A maioria dos nódulos da tiroide é assintomática e são habitualmente detetados em exames médicos. É importante ressalvar que os sintomas podem variar em intensidade e podem estar relacionados a outras condições de saúde pelo que, caso suspeite de qualquer doença da tiroide, deve consultar um endocrinologista.
E quanto a causas?
Apesar de ainda não serem conhecidas as causas exatas das doenças da tiroide, pensa-se que estas se encontram relacionadas com fatores geográficos (zonas mais interiores e longe do mar), genéticos (hereditários/familiares) e ainda dietéticos (consumo insuficiente ou excessivo de iodo, através do sal de cozinha), entre outros. Em Portugal, a principal causa do hipotiroidismo deve-se a uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a tiroide, destruindo-a, e que se chama tiroidite de Hashimoto. Outras causas incluem cirurgia à tiroide e ao défice de iodo, situação muito comum, por exemplo, na serra algarvia na década de 80. No caso do hipertiroidismo, a causa mais comum é a doença de graves, também uma doença autoimune, em que os anticorpos vão estimular a tiroide a produzir hormonas a mais. Outras causas incluem nódulos da tiroide hiperfuncionantes ou ainda inflamações transitórias da tiroide - por infeção, por exemplo - que se denominam genericamente por tiroidites.
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Pode ser um problema hereditário?
As patologias da tiroide podem ter uma predisposição hereditária ou genética, o que significa que a probabilidade de desenvolver a doença é maior nestes casos. No entanto, é importante salientar que a predisposição genética não garante que uma pessoa desenvolverá a doença, nem a ausência de história familiar significa que a pessoa não esteja em risco de desenvolver uma doença da tiroide.
É possível prevenir doenças da tiroide?
Embora nem todas as patologias da tiroide possam ser totalmente prevenidas, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco ou a minimizar os sintomas associados. Manter uma dieta equilibrada rica em nutrientes essenciais (iodo, selénio e zinco), evitar o défice de iodo e ainda evitar fumar são medidas simples, mas eficazes.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito pela história clínica, ou seja, os sintomas, exame físico (palpação cervical), análises de sangue (doseamento das hormonas tiroideias e anticorpos específicos da tiroide) e ainda por alguns métodos de imagem e de diagnóstico, se necessário. Estes métodos de imagem são, sobretudo, a ecografia cervical. Os métodos de diagnóstico podem incluir biopsia no pescoço (citologia por agulha fina) no contexto de nódulos da tiroide que sejam suspeitos.
Em que consiste o tratamento?
O tratamento vai depender da doença em causa. O hipotiroidismo é essencialmente tratado com reposição hormonal, ou seja, com comprimidos que contêm levotiroxina (a hormona T4). O hipertiroidismo pode ser tratado com comprimidos que inibem produção de hormonas tiroideias (anti-tiroideus de síntese), iodo radioativo (que apenas afeta a tiróide) ou ainda por cirurgia. Os nódulos, habitualmente não precisam de tratamento, mas quando dão problemas por serem grandes (compressão das estruturas à volta do pescoço e desconforto local) ou malignos na biópsia, pode ser necessário serem submetidos a cirurgia.
Com o tratamento apropriado, muitas pessoas conseguem controlar as suas condições da tiroide e levar uma vida normal
Em Portugal, quantas pessoas são afetadas por distúrbios da tiroide?
Em Portugal cerca de 10% da população sofre de alguma doença da tiróide. No caso particular do cancro da tiróide, surgem, por ano, mais de 400 novos casos.
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Quais os impactos no dia a dia?
As patologias da tiróide podem ter impactos significativos no dia-a-dia de uma pessoa. Esses impactos variam dependendo do tipo e da gravidade da condição, bem como da resposta individual ao tratamento. É importante ressaltar que cada pessoa pode vivenciar esses impactos de maneira diferente e que o tratamento adequado e o acompanhamento médico regular são fundamentais para minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Com o tratamento apropriado, muitas pessoas conseguem controlar as suas condições da tiroide e levar uma vida normal.
Com que frequência devem ser feitas consultas de endocrinologia?
A frequência das consultas de endocrinologia para doentes com doenças da tiroide pode variar, dependendo da gravidade da condição, do estádio do tratamento e das necessidades individuais de cada doente. Em geral, é recomendado um acompanhamento regular com um médico endocrinologista, para vigiar a função da tiroide e o progresso do tratamento. A vigilância pode ir dos dois em dois meses para pessoas com problemas de hipertiroidismo ou hipotiroidismo que não está compensado, a anual ou de dois em dois anos para pessoas com hipotiroidismo controlado com medicação ou nódulos estáveis, habitualmente em seguimento pelo médico de família, ou cancro da tiroide estável, habitualmente com seguimento hospitalar.
Que cuidados devem ter as pessoas com doenças da tiroide?
É fundamental seguir as recomendações do médico e isso inclui tomar a medicação conforme prescrição médica, não se devendo interromper o uso de medicação sem orientação médica. O doente deve manter acompanhamento médico regular para monitorizar o tratamento.
E, em geral, como devemos zelar pela saúde da tiroide?
As medidas preventivas a adotar no nosso dia a dia deverão ser as mesmas adotadas para a prevenir qualquer outra doença de outro órgão. Recomenda-se a adoção de estilos de vida saudáveis, manter uma alimentação saudável e equilibrada e evitar fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Acresce apenas a necessidade de assegurar um aporte adequado de iodo conseguido simplesmente com uma alimentação equilibrada que inclui peixe, alimentos do mar, vegetais e uma ingestão adequada de água (pelo menos um litro e meio). A tiroide desempenha um papel fundamental no funcionamento do organismo e, portanto, é essencial estar ciente de qualquer sintoma incomum ou persistente e discuti-los com um médico especialista. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado das doenças da tiroide são fundamentais para minimizar complicações e garantir uma boa qualidade de vida.
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