'Mas andei consigo na escola para me tratar por tu? Respeitinho é bonito e eu gosto.' Esta é uma das frases clássicas que praticamente todos já ouvimos em algum momento da vida. De um lado da barricada, o trato por 'você' é visto como um 'não assunto', ou pior: um sinal de snobismo de certas elites que tem vindo a cair em desuso. Do outro, defende-se que é regra de boa educação. É um braço de ferro sem fim à vista.
Veja-se o caso de Inês Herédia, que reacendeu a discussão quando partilhou, através dos 'stories' do Instagram, uma conversa que teve com um dos filhos, de quatro anos. A atriz acabaria por ser surpreendida com uma grande onda de indignação coletiva. "Aquele momento em que eu penso 'ainda existe quem trate os filhos por você'" foi uma das muitas críticas que recebeu.
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"Fui educada a tratar os adultos por você e os meus pais sempre me trataram por você também. Há por aí uma ideia implantada nos cérebros de malta que vive na caverna do Platão, de que quem trata os pais/filhos por você não tem intimidade", afirmou a artista na rede social, sublinhando: "Em momento nenhum me faltou colo, mimo, proximidade, intimidade, antes pelo contrário".
Um relacionamento equilibrado e saudável entre pais e filhos cria-se, essencialmente, pela qualidade do tempo juntos, atenção, apoio, comunicação e carinho, não pelo tempo verbal com que se tratam
Respeito ou distanciamento?
A psicóloga Teresa Feijão explica, ao Lifestyle ao Minuto, que o tratamento por 'tu' ou 'você' se prende com questões nem sempre lineares. "Existe uma certa herança cultural em Portugal e em alguns países que dita que tratar o outro na terceira pessoa é um sinal de boa educação." Por outro lado, "optar pela terceira pessoa quando é de pais para filhos já causa estranheza e parece sinal de distanciamento. Acaba por ser entendido e interpretado à maneira de cada um. E, regra geral, é mal interpretado", diz.
© Teresa Feijão
O que é certo é que "quem o faz defende que é simplesmente um ato cultural e enraizado na própria educação da família". "Devemos explicar às crianças que normalmente tratam os familiares por 'você' que se trata de uma herança familiar. É uma escolha como tantas outras. Deve-se passar essa ideia também aos professores e, sobretudo, incutir o respeito desde a infância", lembra a psicóloga.
Teresa Feijão é perentória ao defender que o trato por 'você' de pais para filhos não afeta o vínculo. "Dizer que o tratamento na primeira ou na terceira pessoa está relacionado com respeito, educação e amor acaba por ser apenas um preconceito da sociedade. Um relacionamento equilibrado e saudável entre pais e filhos cria-se, essencialmente, pela qualidade do tempo juntos, atenção, apoio, comunicação e carinho, não pelo tempo verbal com que se tratam."
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