Quarta causa de morte por cancro a nível mundial, é e será cada vez mais uma doença crónica, com tratamentos que aumentam o tempo e a qualidade de vida dos doentes. A propósito do Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, que se assinala esta quinta-feira, dia 16 de novembro, é importante destacar que há múltiplos estudos sobre o cancro do pâncreas com resultados que permitem que exista cada vez mais esperança para o doente.
O que é o cancro do pâncreas?
O pâncreas localiza-se no abdómen e funciona como uma glândula, produzindo hormonas e enzimas fundamentais para o bom funcionamento do nosso organismo. Ora, o cancro do pâncreas é o aparecimento de células malignas precisamente com origem no pâncreas. Existem essencialmente dois tipos: os tumores neuroendócrinos, que se desenvolvem nas células que produzem hormonas e que são raros, representando 5% dos cancros do pâncreas - e o cancro que surge nas células que revestem os canais pancreáticos, que representa os restantes 95%. Destes, 90% são chamados adenocarcinomas.
Manuela Machado, oncologista e coordenadora da unidade de tumores gastrointestinais do Hospital CUF Porto e diretora do serviço de oncologia médica do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga
© CUF
Falar em cancro do pâncreas é falar em adenocarcinoma do pâncreas. Embora represente apenas 2,5% de todos os tipos de cancros, é atualmente a quarta causa de morte por esse motivo a nível mundial - e dado o aumento do número de casos prevê-se que em 2030 seja a segunda causa de morte por cancro no Ocidente.
Quais são os sintomas mais comuns?
Sendo habitualmente uma doença silenciosa, muitas vezes não existem sintomas ou queixas até a uma fase avançada. De acordo com a localização, as queixas mais frequentes são perda de peso, icterícia, o tom amarelado da pele e olhos, dor na região superior do abdómen ou lombar, fadiga, ou o diagnóstico de diabetes, entre outros.
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Existem fatores de risco associados ao desenvolvimento desta doença?
Existem múltiplos fatores de risco, nomeadamente, a idade - e quanto mais anos tiver, maior o risco - o tabaco, o álcool, a inflamação do pâncreas, a diabetes, a obesidade, o sedentarismo, uma dieta rica em gorduras, carnes processadas ou vermelhas e pobre em vegetais e fruta, entre outros. A história familiar também é fator de risco, mesmo na ausência de doenças hereditárias: quem tem parentes de primeiro grau com a doença tem um risco superior de desenvolver a doença.
Como é feito o diagnóstico desta doença?
É fundamental relembrar que o diagnóstico desta doença é ainda a data de hoje um desafio, com mais de 80% dos doentes a serem diagnosticados numa fase avançada da doença. Não existe um exame único para o diagnóstico, mas sim vários exames que em associação são realizados e nos dão o diagnóstico e a fase em que a doença se encontra.
É fundamental um exame físico minucioso realizado pelo médico, que posteriormente irá solicitar os exames que considera pertinentes, sendo que frequentemente os primeiros são uma ecografia abdominal e um estudo analítico que engloba um marcador tumoral. A TAC abdominal é o exame que mais vezes é realizado, sendo que em alguns doentes é necessário a realização de uma ressonância magnética, entre outros.
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O cancro do pâncreas tem cura? Quais são as opções de tratamento disponíveis?
É importante dizer que o cancro do pâncreas tem cura. Envolve sempre cirurgia, mas se o doente for apenas operado, em 80% dos casos a doença recorre, motivo pelo qual é realizado tratamento adjuvante, para diminuir o risco de a doença reaparecer, com quimioterapia ou, muito mais raramente, com quimioterapia associada à radioterapia. Contudo, apenas 10 a 20 % dos doentes são operáveis aquando do diagnóstico. Uma percentagem elevada de doentes necessita de realizar tratamento neoadjuvante de quimioterapia, realizada com objetivo de tornar a cirurgia mais fácil ou mesmo de a tornar possível.
Infelizmente, a maioria dos doentes tem doença metastática na altura do diagnóstico e o tratamento é efetuado através de quimioterapia, que é escolhida de acordo com as características do tumor, com os objetivos do tratamento e as condições físicas do doente. Esta escolha deve ser sempre um ato partilhado entre o doente e o médico oncologista.
O cancro do pâncreas é hereditário?
A síndrome do cancro do pâncreas hereditária existe, havendo mutações genéticas específicas transmitidas, que aumentam o risco de vários membros da mesma família desenvolverem a doença. Além disso alguns síndromes genéticos podem aumentar o risco, como é o caso da Síndrome de Lynch - uma doença hereditária em que ocorre a mutação de um dos genes de reparação do ADN, aumentando o risco de desenvolver vários tipos de cancro -, e a Peutz- Jeghers, doença hereditária rara, em que surgem múltiplos pólipos e manchas na pele e mucosas. Contudo, é muito importante enfatizar que apenas cinco a 10% dos casos estão associados à hereditariedade, sendo a maioria dos casos esporádicos.
É possível prevenir o cancro do pâncreas?
Atualmente não existem métodos de prevenção garantidos. Sabendo que existem fatores de risco que não podem ser modificados, como o envelhecimento e a hereditariedade, é muito importante sublinhar que hábitos de vida saudáveis, com uma dieta equilibrada e a prática de exercício físico, evitando o consumo de álcool em excesso e o tabaco, diminuem o risco da doença.
É importante estar alerta quanto surgem novas queixas, assim como realizar um acompanhamento médico regular. Relativamente às pessoas com história familiar ou portadores de síndromes hereditários devem ser orientados em consulta especializada e podem requerer uma vigilância específica.
Que avanços têm ocorrido no tratamento?
O cancro do pâncreas é um dos mais letais, mas alguns avanços têm ocorrido no tratamento desta doença, mesmo na metastática, quando a doença está espalhada por vários órgãos, que nos permitem já hoje afirmar que, em alguns doentes, que se pretendem que sejam cada vez mais, esta é e será cada vez mais uma doença crónica, com um continuum de tratamentos que aumentam o tempo e a qualidade de vida dos doentes.
Reforço ainda que decorrem atualmente múltiplos estudos em que se utilizam novas moléculas ou combinações de diferentes fármacos já existentes, com resultados que permitem afirmar que existe cada vez mais esperança para o doente.
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