O que é a Síndrome de Münchhausen? Psiquiatra esclarece todas as dúvidas

Trata-se de uma condição rara e relativamente desconhecida, mas, em 2015, ganhou destaque graças ao caso de Gypsy Rose Blanchard que, com a ajuda do namorado, assassinou a mãe, Clauddine Blanchard, que sofria da Síndrome de Münchhausen. Falámos com a psiquiatra Maria Moreno, que esclareceu todas as dúvidas sobre esta síndrome.

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© Shutterstock / Lifestyle ao Minuto

Margarida Ribeiro
06/02/2024 08:55 ‧ 06/02/2024 por Margarida Ribeiro

Lifestyle

O Médico Explica

Foi em 2015, nos Estados Unidos, que Gypsy Rose Blanchard, com a ajuda do namorado, Nicholas Godejohn, levou a cabo um plano para assassinar a mãe, Clauddine Blanchard, após anos de abusos, em que foi submetida a inúmeros tratamentos médico sem estar doente. Tornou-se, rapidamente, um caso muito mediático e, em 2019, foi lançada uma série televisiva baseada nesta história. Concluiu-se que a mãe sofria da Síndrome de Münchhausen por procuração. Mas que é isto? 

Agora, nove anos depois, Gypsy Rose foi libertada após cumprir sete dos 10 anos de prisão a que foi condenada e o nome desta condição apareceu novamente nos cabeçalhos e títulos de muitas notícias. Tendo isto em conta, o Lifestyle ao Minuto falou com a psiquiatra Maria Moreno e tentou esclarecer todas as dúvidas. 

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O que é a Síndrome de Münchhausen?

Inventar sintomas, provocar lesões, submeter-se a procedimentos médicos ou cirúrgicos sem necessidade. Com que fim? Fingir estar doente. Trata-se de uma dependência de médicos e hospitais e uma necessidade inconsciente, ainda que voluntária, de chamar a atenção.

1951 foi o ano em que Richard Asher usa pela primeira vez este termo para descrever aquilo que viríamos a conhecer hoje como um tipo de perturbação factícia, lembrando-se do Barão de Münchhausen que entretinha os amigos com histórias (muito) embelezadas das suas aventuras de guerra.

Notícias ao Minuto É psiquiatra da Fisiogaspar © Maria Moreno  

Quais são as principais diferenças entre Síndrome de Münchhausen e hipocondria? 

Na Síndrome de Münchhausen a pessoa produz os seus sintomas de modo intencional; na hipocondria não - há um receio imenso destes sintomas - eles surgem (involuntariamente) mas as pessoas querem fugir deles. Se há sofrimento? Há, em ambas as doenças.

Existe ainda Síndrome de Münchhausen por procuração. O que é? 

A mãe que adoece a filha, repetidamente - este é o exemplo mais comum. O cuidador provoca intencionalmente sintomas e pede ajuda médica de forma a chamar a atenção para si. O risco? Enorme. Embora os médicos, muitas vezes, não consigam identificar a causa específica da doença, eles podem não suspeitar que os cuidadores tenham feito algo para prejudicar a criança ou idoso. Na verdade, têm à frente um cuidador atencioso, preocupado e extremamente perturbado com o que está a acontecer. 

Trata-se de algo mais comum entre pais e filhos? Ou pode acontecer com qualquer tipo de relação de proximidade?

Estes comportamentos podem ocorrer em qualquer relação próxima e que implique cuidado, não se limitando apenas a pais e filhos. Idosos ou pessoas com deficiência mental ou física que sejam dependentes de terceiros também podem ser vítimas.  

Quais são as possíveis causas destes distúrbios? Que outras doenças e distúrbios podem estar associados?

O sofrimento. O sofrimento e a necessidade imperiosa de procurar atenção, compaixão ou um alívio temporário destas emoções que não sabem atender de outra forma.

Muitas vezes, são pessoas que têm dificuldade em lidar com o stress, a ansiedade e as emoções de maneira saudável ou têm outras patologias não tratadas, como depressão, ansiedade ou perturbação da personalidade. Criam sintomas fictícios ou exageram as suas queixas como forma de garantir a atenção dos outros ou sentir que dominam as diferentes situações do dia a dia.

A valorização excessiva do papel de doente na educação ou no meio da pessoa também pode conduzir ao desenvolvimento desta doença devido à busca constante por atenção médica como uma tentativa de atender a uma expectativa. Podem ter visto uma mãe ou uma avó exagerar também nas suas queixas ou ter sofrido abusos durante a infância por parte dos cuidadores. Pode existir uma infância ou adolescência marcada por doenças médicas que levaram a tratamentos de longo prazo e hospitalizações ou ressentimento com profissionais de saúde. A experiência ou atividade na área da saúde também é comum na história das pessoas que desenvolvem esta patologia.

É possível identificar alguém com este problema? Quais são os sinais? 

Identificar alguém com este problema é um desafio, para o médico e para todos. 

Os relatos inconsistentes de sintomas, o historial médico longo e pouco claro e a falta de cooperação ou resistência a avaliações médicas detalhadas são alguns dos pontos que nos podem colocar de sobreaviso.

Quando afeta outros pode ser considerado uma forma de abuso? 

Sem dúvida. 

É possível tratar este distúrbio? 

O tratamento é difícil mas envolve muita psicoterapia e cuidados médicos, para o próprio ou para as vítimas de abuso, que nos permita ultrapassar a principal razão que leva a isto – o sofrimento que estas pessoas sentem.

É um diagnóstico comum em Portugal?

É um diagnóstico raro mas que existe e é importante estarmos alerta. 

Notícias ao Minuto Gypsy Rose Blanchard e Clauddine Blanchard© Greene County Sheriff's Office

O caso mais mediático relacionado com esta síndrome foi o de Clauddine Blanchard e, consequentemente, de Gypsy Rose Blanchard. Terminou de uma forma trágica, com a morte da mãe. O que terá levado a este desfecho? É comum entre pessoas que sofrem ou são vítimas da Síndrome de Münchhausen por procuração? Como podemos ajudar para prevenir este tipo de cenários?

Gypsy Rose Blanchard, filha de Claudin, também conhecida como Dee Dee, levou uma vida difícil. Foi levada a crer que sofria de uma série de doenças graves, submetida a numerosos tratamentos médicos e procedimentos cirúrgicos desnecessários e foi forçada a usar cadeira de rodas embora fosse perfeitamente capaz de andar.

O caso ganhou notoriedade quando, em 2015, Gypsy planeou o assassinato de sua mãe, acreditando que esta era a única maneira de escapar do abuso e controlo excessivo da sua mãe. Este caso é único mas é um exemplo extremo do desespero de alguém que sofre este tipo de abuso durante toda a sua infância. 

Estar alerta, para identificarmos estas situações o quanto antes, e dar apoio, ao doente e à vítima, são pontos essenciais para prevenirmos este tipo de desfecho.

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