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"Até parar de exigir de si e dos outros, não será uma pessoa sã e feliz"

O renomado psicólogo catalão Rafael Santandreu esteve à conversa com o Notícias ao Minuto sobre o seu livro 'O Método para Viver Sem Medo', que conta com várias histórias reais de superação.

"Até parar de exigir de si e dos outros, não será uma pessoa sã e feliz"
Notícias ao Minuto

08:00 - 26/08/24 por Natacha Nunes Costa

Lifestyle Livros

Rafael Santandreu é um psicólogo catalão autor de vários best-sellers e de muitos livros de autoajuda, entre os quais 'O Método para Viver Sem Medo', que conta com histórias reais de superação.

 

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, por e-mail, o profissional, que se dedica também a formar médicos e psicólogos, realça que o aumento da competição, da procura desenfreada da felicidade, e da exigência (com os próprios e com os outros) faz com que cada vez mais pessoas sofram de distúrbios emocionais.

Para superar medos, a ansiedade e até um Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Rafael Santandreu recomenda o método de quatro passos, já presente em vários dos seus livros. Para ser feliz, é necessário "reeducar-nos mentalmente, mudar a filosofia de vida".

Método de 4 passos é o mais comprovado para superar o medo agudo: ataques de pânico, TOC ou hipocondria

O livro 'O Método para Viver Sem Medo' conta histórias reais de superação de pessoas que sofrem de ansiedade, TOC ou hipocondria. Na sua opinião ainda se fala pouco sobre estes problemas? As pessoas ainda têm medo e vergonha de dizer que sofrem de um transtorno mental? Ainda há preconceito?

Há cada vez menos preconceito graças a pessoas de sucesso que explicam como superaram distúrbios graves e agora estão mais fortes e felizes. No meu livro isso é explicado por uma atriz, um jogador de futebol profissional, um grande empresário e dois médicos que trabalharam comigo.

Os testemunhos que constam do seu livro usaram um método de quatro passos. Em que consta este método?

É o método mais comprovado para superar o medo agudo: ataques de pânico, TOC ou hipocondria. É expor-se diariamente ao que mais teme, de forma intensa e com total aceitação. Há pessoas que sofreram ataques de pânico diários durante quarenta anos completamente curadas, sem medicação.

Acredita que com perseverança, é possível ultrapassar sempre um transtorno mental?

Não. Depende muito de qual transtorno estamos a falar. Mas a grande maioria daqueles que têm a ver com o medo - ataques de pânico, TOC ou hipocondria – conseguirão superá-lo. Cerca de 80%. E para fazer isso, sim: é preciso ter muita perseverança. Mas depois de fazer isso, eles se sentirão fortes, orgulhosos e ansiosos para conquistar o mundo.

Há 30 anos já sabíamos que os distúrbios emocionais iriam aumentar. Mas ninguém imaginava quanto. É hora de fazer uma nova previsão: vão aumentar muito mais

O seu livro mostra também que este tipo de situações acontece com qualquer tipo de pessoas, jovens, idosos, de diversas profissões. Até com médicos e empresários. Acha que há cada vez mais pessoas a sofrer de transtornos mentais? Porquê?

Há 30 anos já sabíamos que os distúrbios emocionais iriam aumentar. Mas ninguém imaginava quanto. É hora de fazer uma nova previsão: vão aumentar muito mais. É inevitável, um fenómeno que corre paralelo à degradação ambiental. Tem a ver com o nosso modo de vida moderno e cada vez mais exigente. De forma coletiva não há nada a fazer. Individualmente, sim, cada um de nós pode-se salvar. Mas para fazer isso é preciso reeducar mentalmente. Mudar a filosofia de vida. É algo que explico nos meus outros livros, que falam da psicologia cognitiva.

Acreditamos que devemos fazer tudo certo ou seremos um tremendo falhanço. Ou que todos nos devem tratar bem a toda a hora ou são uns nojentos insuportáveis

Como é que a vida atual, a correria do dia a dia, as redes sociais e os telemóveis influenciam estes problemas?

Mais do que a Internet, o problema é a filosofia de vida que quase todas as pessoas defendem. Acreditamos que devemos fazer tudo certo ou seremos um tremendo falhanço. Ou que todos nos devem tratar bem a toda a hora ou são uns nojentos insuportáveis. E tudo deve acontecer conforme planeado: o empregado de mesa tem de nos atender de forma rápida e os comboios têm de chegar todos a horas. Um mundo louco e cheio de exigências. Até parar de exigir a si e aos outros, não será uma pessoa sã e feliz.

E quem são as pessoas mais afetadas?

Quanto mais jovem for, pior. Porque essas demandas estão a aumentar. Quando eu era pequeno, em Espanha não existia a expressão 'looser' [falhado, em português] ou 'frikie' [agarrado aos estudos, estudos]. Ninguém era um falhado. Agora os jovens são avaliados num mundo louco onde aos 10 anos se é 'bem sucedido' ou um 'fracasso'. Como raio se pode ser um fracasso nesta idade? A solução é educar-se e perceber que a vida é para curtir, amar, compartilhar, ajudar, aprender, fazer coisas boas, contemplar e brincar. Não para competir ou provar alguma coisa.

Mas também há adultos a serem afetados por essa 'super' exigência, certo?

Sim! Um dos exemplos é que há milhares de pessoas agora a fazer competições 'ultra'. Correm 100 quilómetros nas montanhas, às vezes, no deserto. E dão-lhes nomes giros mas, na verdade, é a mesma loucura: 'Tenho de me destacar de alguma forma, mesmo que isso signifique destruir os meus joelhos prematuramente'.

Em vez de falar sobre doenças, devíamos difundir a boa saúde mental, ensinar o caminho da sanidade desde tenra idade

Devíamos a falar de saúde mental mais cedo? A partir de que idade devemos começar a falar disso com as crianças?

Em vez de falar sobre doenças, devíamos difundir a boa saúde mental, ensinar o caminho da sanidade desde tenra idade. Por exemplo, metade das disciplinas nas escolas poderiam ser sobre relações pessoais, competências sociais, amor e cooperação, honestidade, brincadeiras colaborativas, espiritualidade e religião, meditação e ioga, desporto e diversão, sexualidade honesta e aberta, nutrição e cozinha saudável, conversa e descanso, atenção e cuidado com os amigos, perigo das adições (como o álcool), perdão aos outros, assertividade e direitos humanos, democracia, abertura ao diferente, tolerância ao discurso alheio, descanso e desaceleração, cuidado com o corpo, respeito pela natureza... e muitas outras coisas realmente boas.

Leia Também: JO e saúde mental? "Precisamos de mais Simones no desporto"

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