Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto desvendaram a estrutura de compostos naturais de cianobactérias com "grande potencial" para a saúde e para remover contaminantes metálicos do ambiente.
O estudo, publicado no Journal of the American Chemical Society, é o desfecho de uma investigação com 30 anos para desvendar a estrutura química de uma série de compostos produzidos por cianobactérias marinhas, afirma hoje, em comunicado, o centro.
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Em causa estão as leptochelinas, compostos produzidos por cianobactérias do género Leptothoe, que foram descobertas pela primeira vez em 1994 a partir de cianobactérias recolhidas numa ilha da Indonésia por investigadores da Califórnia.
"Dada a complexidade estrutural destas moléculas e os recursos analíticos disponíveis à época, as suas estruturas químicas permaneceram por elucidar", destaca o CIIMAR.
Estes compostos foram novamente identificados em 2007 numa estirpe de cianobactéria encontrada no Mar Vermelho por investigadores da College of Pharmacy, nos Estados Unidos da América.
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Em 2018 foi a vez dos investigadores do CIIMAR identificarem estes compostos em cianobactérias descobertas numa expedição à ilha de São Vicente, em Cabo Verde.
"As leptochelinas mantiveram a sua estrutura complexa e altamente conservada e inacessível, até agora", refere.
Segundo o CIIMAR, as três equipas de investigação uniram esforços e, recorrendo a técnicas avançadas de análise estrutural e genómica, conseguiram finalizar a estrutura química destas moléculas.
Além da estrutura molecular, a investigação permitiu também desvendar o "verdadeiro potencial biotecnológico", confirmando as propriedades citotóxicas destas moléculas, que permitem aplicações médicas no combate ao cancro.
Estas moléculas têm também "propriedades quelantes de metais", o que permitirá o seu uso na indústria farmacêutica, alimentar e em processos de biorremediação para remover contaminantes metálicos do ambiente.
As moléculas demonstraram uma "notável capacidade" de se ligarem a metais como o cobre, ferro, cobalto e zinco, salienta o centro.
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Citada no comunicado, a coautora do estudo e investigadora na equipa de biotecnologia azul, saúde e ambiente do CIIMAR, Mariana Reis, salienta que a utilização destas moléculas em processos de biorremediação "não só facilita a recuperação de metais valiosos, como o lítio, como também ajuda a reduzir o desperdício e a necessidade de mineração, promovendo uma economia mais circular e sustentável".
"A descoberta de novos produtos naturais frequentemente surge da necessidade de identificar novas estruturas químicas que possam ser desenvolvidas para melhorar a nossa qualidade de vida, incluindo medicamentos, tintas, cosméticos, entre outros", destaca Mariana Reis.
A investigadora refere ainda que a descoberta de novas moléculas de origem natural é crucial na proteção da biodiversidade e na conservação dos recursos naturais.
"Esta descoberta não só amplia o nosso entendimento sobre a biodiversidade marinha, mas também abre portas para a utilização sustentável de recursos naturais em benefício da saúde humana", acrescenta.
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