Passou o ano inteiro a suspirar por aqueles dias de 'papo para o ar'. Mas, no fim das férias, surge aquela neura. Acontece que, em algumas pessoas, o regresso ao trabalho e a readaptação à rotina podem até despertar sintomas de depressão.
No limite, tudo isto pode resultar em 'depressão pós-férias'. "Alguns especialistas preferem chamar-lhe 'síndrome pós-férias' ou 'blues pós-férias', sublinhando que se trata de uma condição temporária e geralmente leve. Contudo, isso não diminui o impacto emocional que esta experiência pode ter, especialmente quando interfere com o bem-estar e a capacidade de retomar a vida quotidiana com a mesma vitalidade", afirma o neuropsicólogo e hipnoterapeuta Alberto Lopes, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
Para antecipar tudo isto, o ideal é 'jogar' por antecipação. O especialista recomenda "planear a transição de volta ao trabalho com antecedência". Contudo, deixa o recado: "Às vezes, esses sentimentos são um sinal de que mudanças maiores são necessárias".
Não sendo propriamente um diagnóstico clínico formal, a depressão pós-férias existe?
Embora a depressão pós-férias não esteja contemplada como um diagnóstico formal no DSM-5 [Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, APA], o termo é frequentemente utilizado para descrever um conjunto de sintomas que muitas pessoas experimentam após o retorno das férias. Estes sintomas incluem sentimentos de tristeza, desmotivação e dificuldade em voltar à rotina. Embora não seja uma depressão no sentido clínico, os efeitos de ressaca emocional são bem reais e podem limitar significativamente a qualidade de vida. É comum que as pessoas sintam cansaço ou falta de energia para enfrentar os problemas que foram ligeiramente adiados durante as férias.
Alberto Lopes, neuropsicólogo e hipnoterapeuta© Clínicas Dr. Alberto Lopes
E 'depressão pós-férias' é o melhor termo?
O conceito de 'depressão pós-férias' é amplamente reconhecido pelo público geral, mas alguns especialistas preferem chamar-lhe 'síndrome pós-férias' ou 'blues pós-férias', sublinhando que se trata de uma condição temporária e geralmente leve. Contudo, isso não diminui o impacto emocional que esta experiência pode ter, especialmente quando interfere com o bem-estar e a capacidade de retomar a vida quotidiana com a mesma vitalidade.
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É possível prevenir?
Sim. Ou, pelo menos, diminuir os seus efeitos.
O stress associado ao regresso ao trabalho também pode agravar problemas de saúde existentes, como hipertensão ou doenças cardíacas
De que forma?
Planear a transição de volta ao trabalho com antecedência, como regressar uns dias antes do início das atividades profissionais para se adaptar ao ritmo, é uma boa prática. Além disso, manter alguns aspetos positivos das férias, como momentos de lazer ou pequenas escapadelas no fim de semana, pode ajudar a manter o ânimo elevado. Em alguns casos, a prática de técnicas de relaxamento, como a hipnose clínica de regressão, pode ser muito útil para preparar a mente para esta transição, permitindo aceder a estados mais profundos do subconsciente e promover um maior equilíbrio emocional.
Enquanto especialista, encontra uma explicação para o facto de algumas pessoas ficarem afetadas com o regresso à rotina e ao trabalho?
Ficamos tristes com o regresso à rotina porque as férias representam uma pausa das responsabilidades e do stress do dia a dia. Durante este período, temos a oportunidade de descansar, socializar e explorar novos ambientes, o que aumenta os níveis de dopamina e reduz o stress. O regresso à rotina pode parecer monótono e exigir um reajuste físico e emocional. Além disso, se o ambiente de trabalho for desafiador ou insatisfatório, essa transição torna-se ainda mais difícil.
Este desânimo pode ter consequências físicas?
Sim. Os sintomas emocionais, como tristeza e desmotivação, podem manifestar-se fisicamente, resultando em fadiga, insónia, dores de cabeça e até problemas gastrointestinais. O stress associado ao regresso ao trabalho também pode agravar problemas de saúde existentes, como hipertensão ou doenças cardíacas. Por isso, é importante levar a sério os sinais de alerta e adotar medidas que promovam o bem-estar.
Como é que podemos aligeirar a readaptação ao ritmo do trabalho? Pode dar-nos algumas dicas práticas?
Se possível, comece a trabalhar a meio da semana para uma adaptação mais suave, continue a praticar atividades físicas e hobbies que lhe tragam prazer, mesmo durante a semana de trabalho, divida as tarefas em partes menores para evitar a sensação de sobrecarga e introduza pequenas mudanças ou desafios no trabalho para torná-lo mais interessante e evitar a monotonia.
Se o regresso ao trabalho desencadear um desconforto significativo, pode ser o momento de reavaliar a sua situação profissional. Pergunte a si mesmo se está satisfeito com o que faz e se o ambiente de trabalho é saudável
E como recuperar o ânimo?
No fundo, passa por integrar no seu dia a dia atividades que lhe dão prazer e significado. Estabeleça novas metas pessoais e profissionais que lhe tragam entusiasmo. Mantenha-se ligado aos amigos e familiares, pois o apoio social é fundamental para o bem-estar emocional. O autocuidado, como dormir bem, alimentar-se de forma equilibrada e praticar exercício, também é crucial para restaurar a energia e o bom humor. Se sentir que o desânimo persiste, a hipnose clínica de regressão pode ser uma ferramenta transformadora, ajudando a desbloquear emoções reprimidas e a reativar a motivação.
É normal sentirmos que precisamos de férias das férias?
Sim, é perfeitamente normal. Muitas vezes, as férias podem ser tão intensas, cheias de atividades e compromissos, que o regresso à rotina parece ser mais cansativo do que deveria. Este sentimento pode ser um sinal de que, embora as férias sejam um tempo de lazer, também é necessário incluir momentos de verdadeiro descanso e reflexão. A necessidade de "férias das férias" é um reflexo da falta de equilíbrio entre atividades de lazer e descanso real.
Em que casos pode ser necessário pedir ajuda ou reavaliar a situação profissional?
Se os sentimentos de tristeza, desmotivação ou ansiedade persistirem por várias semanas e interferirem com a nossa capacidade de funcionarmos normalmente, pode ser necessário ajuda profissional. Um psicólogo pode ajudar a identificar as causas desses sentimentos e a desenvolver estratégias para lidar com eles. A terapia cognitiva comportamental é especialmente útil para reestruturar padrões de pensamento negativos. Além disso, a hipnose clínica de regressão pode oferecer uma abordagem mais profunda, explorando a raiz dos sentimentos de insatisfação e facilitando a cura. Se o regresso ao trabalho desencadear um desconforto significativo, pode ser o momento de reavaliar a sua situação profissional. Pergunte a si mesmo se está satisfeito com o que faz e se o ambiente de trabalho é saudável. Às vezes, esses sentimentos são um sinal de que mudanças maiores são necessárias.
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Serviços telefónicos de apoio emocional em Portugal
SOS Voz Amiga (entre as 16 horas e as meia-noite) - 213 544 545 (número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660
Conversa Amiga (entre as 15 e as 22 horas) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159
SOS Estudante (entre as 20 horas e a uma da madrugada) - 239 484 020 - 915246060 - 969554545
Telefone da Esperança (entre as 20 e as 23 horas) - 222 080 707
Telefone da Amizade (entre as 16 e as 23 horas) – 228 323 535
Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.
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