Jovem chef português brilha na Suíça: "Vou tentar fazer ainda melhor"

João Pedro Coelho, de 25 anos, ganhou um dos prémios de culinária mais importantes da Suíça, o Goldene Koch. Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, o chef falou de como têm sido os últimos dias, do futuro e de quais as suas apostas para as novas estrelas Michelin em Portugal.

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© Goldene Koch

Adriano Guerreiro
19/02/2025 08:51 ‧ há 2 dias por Adriano Guerreiro

Lifestyle

Entrevista

O telefone de João Pedro Coelho não parou de tocar na última semana. Desde a passada segunda-feira, 10 de fevereiro, dia em que ganhou um dos prémios de culinária mais importantes da Suíça, o Goldene Koch, que são vários os amigos, conhecidos e familiares que têm querido dar-lhe os parabéns.

 

Aos 25 anos, o português natural de Fornelos, no concelho de Ponte de Lima, é subchefe de um dos melhores restaurantes do mundo, o Restaurant de l'Hôtel de Ville, em Crissier, na Suíça. Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, acredita que o prémio não irá mudar em nada o seu trabalho.

"As pessoas reconhecem o nosso trabalho, mas continuo a ser a mesma pessoa. Para mim, continua a ser tudo igual. Vou fazer o mesmo trabalho e tentar fazer ainda melhor."

O gosto pela cozinha foi algo que ganhou ao longo dos anos. Os pais não são da área, mas admite que sempre "cozinharam muito bem" e que nunca faltaram "momentos de partilha à mesa". O crescente interesse pela gastronomia fez com que ingressasse na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Regional de Ponte de Lima.

Mais tarde, em 2017, foi o vencedor do concurso nacional Jovem Talento da Gastronomia. Em 2025, voltou a ganhar uma grande competição e a ter uma "estátua nova", como explicou.

Notícias ao Minuto A prova durou mais de cinco horas © Goldene Koch

Esta final do Goldene Koch exigiu mais de 300 horas de preparação. Diante de vários jurados, teve de cozinhar duas travessas de tamanho considerável (para 12 pessoas) - a prova durou mais de cinco horas e meia no total. A par da dimensão, foi ainda necessário ter todo um cuidado na apresentação, já que falamos de pratos de 'fine dining'.

No futuro, conta ter um restaurante em nome próprio e não descarta uma passagem por Portugal, mas para já não quer apressar as coisas: "Tem de ser com calma e tem de ser algo pensado."

Era um sonho ganhar o Goldene Koch? Era um concurso que já conhecia?

Conheço este concurso há muitos anos. É um concurso por onde passaram grandes nomes da cozinha de hoje em dia. Sempre ambicionei participar para mostrar sobretudo aquilo que faço e aquilo que é a minha cozinha. Ganhar já era um objetivo que tinha. Quando entro em alguma coisa é para tentar ganhar.

Como têm sido estes últimos dias, como está a lidar com a vitória?

Continuo a ser a mesma pessoa e vou continuar a ser o mesmo. Não há aqui mudança em absolutamente nada. O telemóvel não para de tocar o dia todo e durante a noite. As pessoas não param de me enviar mensagens e de ligar. Isso é bastante bom, obviamente. Reconhecem o nosso trabalho, mas continuo a ser a mesma pessoa. Para mim, continua a ser tudo igual. Vou continuar a fazer o mesmo trabalho e a tentar fazer ainda melhor.

Sente que alguma coisa vai mudar com a conquista deste prémio?

Não vai mudar nada. Se calhar para as pessoas muda mais do que para mim. Antes deste concurso já tinha o curso que tinha, já tinha as responsabilidades que tinha. Não vai mudar nada. Continua a ser a mesma coisa. Tenho só uma estátua nova.

Em que consistiu esta prova na final? O que teve de fazer? 

A prova teve a duração de cinco horas e meia. Tínhamos todos um tema a respeitar, que soubemos logo assim passámos à final. No caso do peixe, tínhamos de usar lúcio e fazer dois pratos que depois eram servidos em grandes travessas para 12 pessoas. A ideia era fazer uma travessa de peixe e uma travessa de carne, que no caso era vazia.

Ninguém nasce a ser cozinheiro, na minha opinião. Ninguém nasce a querer ser cozinheiroComo é que se prepara uma prova de cozinha ao vivo que dura mais de cinco horas?

Exige muito treino, não é algo que se faça num dia. São mais de 300 horas de treino. Este dia é importante, mas todos aqueles em que estivemos a treinar, mas que ninguém vê também são muito importantes. É como quem vai aos Jogos Olímpicos. 

Notícias ao Minuto Foi o grande vencedor da última edição dos Goldene Koch
© Goldene Koch
 

Foi a primeira vez que participou neste concurso?

Sim, foi a primeira vez e a última.

Porque não pode participar mais, é isso?

Agora não. Os vencedores não podem voltar a participar.

Como é que nasce este gosto pela cozinha?

Ninguém nasce a ser cozinheiro, na minha opinião. Ninguém nasce a querer ser cozinheiro. Os meus pais cozinham muito bem. Mesmo não estando no ramo sempre tivemos este momento de partilha à mesa e tudo. Acaba muito por vir daí. Comecei realmente a interessar-me e entrei numa escola profissional de cozinha [Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Regional de Ponte de Lima]. Fiz o meu primeiro concurso há 10 anos, em 2015, logo no primeiro ano de escola. Depois vários estágios em restaurantes com estrela Michelin, tanto em Portugal como fora do país.

Do que é que mais gosta neste trabalho?

Gosto sobretudo do rigor, da pressão e da precisão que fazemos todos os dias. É sobretudo disso que gosto.

Lembra-se de algum primeiro prato que tenha cozinhado na sua infância?

A minha mãe fazia várias vezes rissóis lá em casa. Um pouco em homenagem a ela, um dos pratos que fiz no concurso, no prato de carne, foi um mini-rissol mais elaborado para deixar aqui esta homenagem a Portugal. Os meus pais sempre cozinharam muito, por isso acabei sempre por ajudar em muitas coisas. Não é algo que me marque completamente, mas sempre comemos bem e sempre cozinhámos.

Como é que surgiu a hipótese de ir trabalhar para o Le Restaurant do Hôtel de Ville de Crissier, na Suíça? Era uma coisa em que já pensava, sair de portugal e ficar neste ramo?

O  restaurante já tem três estrelas Michelin há 30 anos e há muito tempo que está sempre no topo dos melhores restaurantes do mundo. Só por aí já era um motivo. Em 2006 percebi que o chef daqui [Benoit Violier] tinha-se suicidado por toda esta pressão. Achei isso qualquer coisa de... não de espetacular porque acaba por ser algo de complicado, mas acho incrível como é que alguém se pode dar tanto a esta área. 

De futuro, pensa em ter um espaço próprio, existe esse objetivo ou para já não pensa muito nisso?

Sim, um dia pode acabar por surgir, mais cedo ou tarde. Não sei dizer quando, espero e acho que muito provavelmente irá acontecer. Pode ser rápido ou demorar mais um bocadinho, mas mais dia menos dia irá acontecer.

Portugal e o nosso país, as nossa origens, nunca estão fora de questão em nadaSerá um processo natural pelo caminho que tem feito?

Por um lado, acho que não devemos apressar as coisas. Tem de ser com calma e tem de ser algo pensado.

Pensa que um futuro possa passar por Portugal ou isso está fora de questão?

Portugal, o nosso país e as nossas origens, nunca estão fora de questão em nada. É claro que estou muito bem e muito confortável na Suíça. Eventualmente, pode surgir algo que me faça mudar, sim. Está sempre em cima da mesa o nosso país.

E já que estamos a falar de Portugal, estamos a aproximar-nos da entrega de estrelas Michelin no país. Acompanha o panorama gastronómico nacional?

Acompanho sim, claro.

O que é que acha que podemos esperar este ano? Temos boas perspetivas? 

Temos uma cozinha incrível. Temos algo totalmente diferente de outros países. Temos produtos incríveis. Temos uma qualidade de peixe e de carne e legumes incrível. Se calhar, às vezes, não aproveitamos isso da melhor maneira. 

Há muitas pessoas que fazem um trabalho excecional que já deveriam ter sido mais reconhecidas pelo Guia Michelin. As estrelas importam, mas os clientes que vêm todos os dias é que são realmente importantes. Às vezes, damos muita importância ao Guia Michelin ou a alguns guias, a pessoas que vêm criticar o nosso trabalho que nem sequer sabem realmente o trabalho que dá e todo o processo que é feito. Nós, chefs, cada vez mais sentimos que somos dependentes disso. Acho que não é bom e acaba por prejudicar.

Este ano o Guia poderá olhar para o país e outra forma?

Acho que vai ser um bom ano para Portugal. O Guia Michelin está a começar a perceber que há muitas pessoas a fazer muito bom trabalho e a oferecer muito a Portugal. Acho que este ano vamos ter mais pessoas recompensadas, como já deveriam ter sido há alguns anos.

Percorra a galeria para conhecer alguns dos pratos que João Pedro Coelho preparou para a prova.

Leia Também: Após meses no 'forno', Jezzus abre segundo restaurante em Lisboa

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