Os tempos mudaram e é hoje inegável que a presença ou ausência da figura paterna é um fator determinante no desenvolvimento infantil. A psicóloga clínica Débora Água-Doce, fundadora da Clínica da AutoEstima, confirma isso mesmo em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, frisando que "os pais não são secundários, não são opção, são essenciais".
Defende ainda que "precisamos de continuar a valorizar e a incentivar uma paternidade ativa, presente e envolvida. É através dela que se constrói um futuro emocionalmente mais equilibrado para as próximas gerações". "O pai não é um substituto, nem alguém que entra em cena quando a mãe precisa de descanso", insiste.
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Infelizmente, ainda persiste a ideia de que o pai tem um papel secundário, como se fosse um apoio à mãe e não uma presença fundamental na vida da criança
Antes de mais, pergunto-lhe qual a importância dos pais no desenvolvimento e equilíbrio das crianças?
A figura paterna é essencial na construção do mundo emocional da criança. O pai não é apenas um complemento à maternidade, mas um pilar fundamental no desenvolvimento da autoestima, da segurança e da forma como a criança se relaciona com os outros. Os pais não são secundários, não são opção, são essenciais. Precisamos de continuar a valorizar e a incentivar uma paternidade ativa, presente e envolvida, pois é através dela que se constrói um futuro emocionalmente mais equilibrado para as próximas gerações.
Débora Água-Doce, psicóloga clínica e fundadora da Clínica da AutoEstima
© Clínica da AutoEstima
A presença paterna proporciona um equilíbrio entre proteção e liberdade, promovendo a confiança para explorar o mundo. O envolvimento ativo do pai desde os primeiros anos da infância contribui para um crescimento mais seguro e harmonioso, ajudando a criança a desenvolver uma base emocional forte.
Considera que os pais são vistos como uma segunda figura?
Infelizmente, ainda persiste a ideia de que o pai tem um papel secundário, como se fosse um apoio à mãe e não uma presença fundamental na vida da criança. Esta visão precisa de ser desconstruída, pois reduz a importância da paternidade ao papel de ajudante. O pai não é um substituto, nem alguém que entra em cena quando a mãe precisa de descanso. É um pilar, um modelo e um porto seguro.
Como desmistificar esta ideia? Quer pormenorizar?
Há que reconhecer que a presença paterna tem um impacto real no desenvolvimento emocional e na forma como os filhos constroem a sua identidade e confiança.
A ausência do pai biológico pode ser um desafio, mas não precisa de ser uma lacuna insubstituível
Nos primeiros meses, a mãe acaba por ser o centro do mundo do bebé. Nessa fase, qual deve ser o papel dos pais?
Nos primeiros meses, é natural que a mãe seja a figura mais presente, especialmente devido à amamentação e à ligação criada na gestação. No entanto, isso não significa que o pai deva ficar em segundo plano. Pelo contrário. Este é o momento ideal para criar laços, através de pequenos gestos, como embalar o bebé, mudar fraldas, fazer pele com pele, cantar baixinho para adormecer, são formas de criar uma conexão forte.
Ainda neste sentido, o que pode o pai fazer para que o período de recuperação da mãe seja um momento mais leve?
O pai desempenha um papel essencial no apoio à mãe, ajudando-a a sentir-se amparada e compreendida. Cuidar da mãe também é cuidar do bebé, pois uma mãe emocionalmente equilibrada tem mais capacidade para dar amor e segurança ao seu filho.
E se, por algum motivo, o pai biológico não puder estar presente na vida da criança, crê que é importante que outra figura masculina, como um avô ou tio, ocupe esse lugar?
A ausência do pai biológico pode ser um desafio, mas não precisa de ser uma lacuna insubstituível. As crianças precisam de referências, de figuras que transmitam segurança, proteção e afeto. Um avô, um tio, um padrinho ou até um amigo próximo podem desempenhar esse papel, desde que a presença seja constante e significativa. O importante não é o rótulo, mas a relação que se constrói, a confiança que se estabelece e o amor que se manifesta nos pequenos momentos do dia a dia.
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