Os filhos devem ser mimados, mas devem também ser chamados à atenção. Os filhos devem ser incentivados, mas devem também ser aconselhados. Os filhos devem ser parte ativa das conversas em casa… mas há que ter atenção ao que se diz.
É tudo uma questão de equilíbrio e, sobretudo, de peso nas palavras. Os pais devem ter uma especial atenção ao que dizem aos filhos, sob a pena da interpretação não ser a mais correta. A título de exemplo, como explica a psicóloga Maria Rueda ao El Mundo, os pais não devem dizer aos filhos a comum frase ‘aprende com o teu irmão’. As comparações não são saudáveis nem para as crianças, nem para os pais, uma vez que podem “gerar rivalidades na família”, algo que é prejudicial para todos os membros. Além disso, quando a comparação é depreciativa para uma das crianças, a probabilidade de afetar de forma negativa a auto-estima é grande.
‘Vais deixar-me louco/a’ é outra frase que os pais devem evitar dizer em frente aos filhos. Diz a especialista espanhola que colocar a culpa na criança por uma ‘explosão de emoções’ - que podem nada ter a ver com o menor e ser o resultado de uma série de fatores externos, como o trabalho ou o trânsito – tem um impacto muito nocivo na auto-estima e bem-estar da criança, pois esta não entende o porquê de ser a causa de tal fúria. A relação entre os pais e os filhos fica também a perder com o uso desta frase, assim como acontece quando o pai ou a mãe diz ‘estou farta de ti’. Estas duas frases são exemplos claros de como dizer algo ‘da boca para fora’ pode afetar muito a criança, deixando-a triste, ansiosa e pouco amada.
Mas não é apenas o fomentar de culpa que afeta a criança. Promover a vergonha é também um erro comum, especialmente quando as críticas não são fundamentadas nem tão pouco explicadas aos filhos. Assim, dizer ‘não tens vergonha disso?’ é um dos erros mais comuns e que pode ser facilmente evitado quando usadas as palavras corretas: ‘não deves fazer isto, porque não é correto’.
Ainda segundo a especialista Maria Rueda, os pais devem também evitar dizer ‘se não fizeres isto, vou castigar-te’ - assim como devem evitar recompensar com bens as boas ações. Tal como nos contou o psicólogo espanhol Álvaro Bilbao, “os castigos já se demonstraram pouco eficazes em muitos estudos”. “As crianças simplesmente não aprendem bem através do castigo. Além disso, gera-se ansiedade e baixa autoestima na criança. Existem outras alternativas mais eficazes, como estabelecer limites, normas ou consequências naturais. Não obrigo os meus filhos a comerem fruta e verduras, mas temos uma regra: não podem comer bolachas ou doces até que comam frutas e verduras”, diz o especialista.
‘És um menino mau’ e ‘não chores que não é para tanto’ são mais dois exemplos de frases que os pais não devem dizer aos filhos. Segundo a presidente em Espanha da Associação Internacional pelo Direito da Criança Brincar, Inma Marín, os pais tendem a desvalorizar os sentimentos do filhos, algo que pode dificultar a capacidade da criança em compreender os próprios sentimentos.
Não dar liberdade de escolha e ação pode ser igualmente penoso para as crianças. Deste modo, frases como ‘porque eu disse assim e ponto’ ou ‘deixa, agora faço eu’ podem fazer com que a criança não se sinta capaz e útil.
Por fim, mas não menos importante, o El Mundo destaca uma outra frase que os pais jamais devem dizer aos filhos. ‘És um preguiçoso e assim não vais ser ninguém na vida’ é uma das frases mais penosas para a auto-estima e bem-estar de uma criança ou até mesmo adolescente.