Decifrar pessoas, ouvir o que dizem, olhar para o que fazem e ler o que pensam. A comunicação vai muito além das palavras e os gestos assumem-se como a forma mais fiel de espelhar o que realmente se está a sentir.
A linguagem corporal é um dos pilares da boa comunicação e o especialista Alexandre Monteiro, autor do livro ‘Os Segredos Que o Nosso Corpo Revela’ [Manuscrito], mostra como um simples gesto pode espelhar nervosismo, revelar que a pessoa não está a prestar a mínima atenção ao que está a ouvir´, que está nervosa a falar ou até mesmo denunciar uma mentira ou revelar um certo nojo.
“Entretanto, ensinar-lhe-ei como pode detetar a expressão facial de nojo num segundo”, disse-nos o especialista. “Olhe-se ao espelho e enrugue o nariz! Já está! Enrugar o nariz indica nojo, significa ‘não gosto’. Imagine que alguém lhe diz: ‘Gosto muito de ti’, ‘Adorei o vestido’, ‘Que bom encontrar-te’, e enruga o nariz. Na verdade, o que ele está a transmitir é que não gosta, o que poderá indicar uma probabilidade de mentira”.
“A leitura da linguagem corporal está acessível a todos e com a prática tornar-se-á mais fácil e natural, este é objetivo do livro ‘Segredos que o nosso corpo revela’, simplificar a compreensão e otimização da linguagem não verbal, para que todos a possamos utilizar em maior parte das situações da nossa vida, seja pessoal, profissional ou social”, explica.
Um espelho ou uma manipulação?
Para Alexandre Monteiro, que fez parte da sua formação lado a lado com especialistas do FBI, “a linguagem corporal pode ser usada por todos de forma simples para descobrir e detetar mais facilmente as mensagens silenciosas e mais secretas que as pessoas normalmente querem esconder”. Todos os “gestos, movimentos e expressões faciais” que dão vida à linguagem transmitida pelo corpo têm, diz, “origem num pensamento” e “saber o significado desses sinais aproxima-nos de uma leitura de pensamentos”. Mas quer isto, então, dizer que somos todos peritos em ler mentes? Não. “Temos de treinar tal como nas artes marciais, não precisa de saber mil técnicas ou diversos estilos, basta saber dez técnicas eficazes e treiná-las mil vezes”.
Contudo, o coach destaca que não é por se ser capaz de fazer uma leitura correta da linguagem corporal de alguém que se fica a saber tudo sobre essa pessoa. “Começo as minhas sessões de formação ou coaching com a premissa de que não devemos julgar, mas sim investigar mais. Observar e interpretar através de um só gesto pode dar uma leitura errada do que a outra pessoa sente ou tenciona, procure sempre observar um grupo de gestos (clusters), pelo menos um conjunto de três gestos ou posturas, para precisar um determinado comportamento, atitude ou intenção”, afirma, frisando que “temos de ter muita atenção para não criarmos falsos julgamentos ou perceções erradas”.
O poder da observação do sinais tem como objetivo ajudá-lo a reconhecer quais as possíveis sinais e interpretá-los e ajustá-los, o mais rapidamente possível, ao contexto ou à situação para depois alterar estratégias e assim alcançar os objetivos propostos.
Embora “grande parte do que fazemos é inconsciente: as decisões, os gestos, a maneira de falar, andar, as expressões faciais e a postura são-nos como ditadas pelo inconsciente e a sua influência está presente em tudo o que fazemos e como o fazemos”, é possível “treinar e usar a linguagem corporal a nosso favor, e atingir melhores resultados no seu dia a dia”.
Mas usar a linguagem a nosso fazer não é o mesmo do que manipular. Ao Lifestyle ao Minuto, o especialista explica que “saber compreender e otimizar não é manipular, enganar ou tornar-se outra pessoa, é, sim, aperfeiçoar, tal como quando aprende uma língua estrangeira, para ser percebido, perceber a outra pessoa e entregar a mensagem sem interferências, resistências ou barreiras. Saber otimizar a linguagem corporal é como uma faca, tanto serve para salvar uma vida, como prejudica-la, depende dos valores de cada pessoa”.
A linguagem corporal como pilar da comunicação
“As expressões faciais, os gestos, o tom de voz, a velocidade, o ritmo, o volume e o conjunto de movimentos são os elementos com maior responsabilidade na transmissão de uma mensagem, muito mais do que as palavras”.
Alexandre Monteiro não tem dúvidas quanto ao poder da linguagem corporal na comunicação entre pessoas, visto que “as palavras transmitem ideias” enquanto “os gestos, as posturas e as expressões faciais transmitem emoções”. Fala de um equilíbrio fundamental para que haja “congruência entre as ideias e as emoções”, até porque “mesmo ao telefone, as palavras que dizemos são o menos importante no impacto da mensagem, o tom de voz assume uma importância de 84%, é o corpo e o tom de voz que dão poder e validam as palavras”.
Para o especialista, “o sucesso de uma boa comunicação começa antes da mesma e saber dominar a linguagem corporal dá-lhe a possibilidade de ter um efeito poderoso sobre as pessoas e ainda de não ser percebido como ameaça ou indiferente”.
As mãos são, possivelmente, a parte do corpo mais usada na hora de argumentar e que mais poder tem na hora de levantar o véu sobre uma pessoa. Para o coach, “as mãos uma extensão do coração e da mente”, pois “é com as mãos que ilustramos o que dizemos e sentimos de uma forma mais honesta do que as próprias palavras”.
Os gestos e movimentos que fazemos com as mãos são os primeiros a ser observados pelo nosso cérebro, inconscientemente, de forma a perceber quais as intenções da pessoa com quem interagimos.
Diz o especialista que “as mãos refletem, de uma forma mágica, o que o coração sente e o que a mente pensa.”
“Palavras sem movimentos de mãos perdem o sentido, a força e a credibilidade. As mãos amplificam os sentimentos e as palavras, conduzem a interação e ajudam a influenciar”, destaca, concluindo que “o movimento das mãos reflete que o povo português é mais emocional”.