Indispensável para a vida, o sol tem um poder direto na saúde e no bem-estar das pessoas, contribuindo para uns ossos mais fortes, para um sistema imunitário mais protegido e para um estado de espírito mais alegre. Mas aquele que é um dos maiores aliados da vida humana pode ser igualmente um inimigo... especialmente para a pele.
"A energia solar pode ser deletéria para as células sobretudo se for em excesso e em pele pouco protegida. Pode promover o aparecimento de cancro cutâneo (melanoma - que mata), desencadear e/ou agravar diversas doenças virais como o herpes, o lúpus (uma doença auto-imune), a rosácea (uma doença inflamatória), causar alergias solares (urticária, reação polimorfa à luz) e envelhecer substancialmente a pele", começa por nos explicar a médica dermatologista Leonor Girão, da Clínica Dermatologia do Areeiro, em Lisboa.
O impacto nocivo dos raios solares é do conhecimento geral, mas as verdadeiras consequências são muitas vezes resumidas à patologia mais grave, o cancro, fazendo com que outras condições sejam ignoradas e desconhecidas para uma boa parte da população, como é o caso da alergia ao sol.
Este sábado celebra-se o Dia Mundial da Alergia o Lifestyle ao Minuto ouviu dois especialistas sobre esta condição.
O que é a alergia ao sol e quais os sintomas?
Comecemos pela definição. A lucite estival benigna (nome técnico para a alergia solar) é uma "fotodermatose", doença de pele que é desencadeada pelo sol, que "afeta cerca de 10% da população adulta, em especial as mulheres jovens. Em 86% dos casos ocorre em mulheres entre os 25 e os 40 anos", diz-nos Pedro da Mata, imunoalergologista do Instituto Clínico de Alergologia, em Lisboa, que destaca que "apesar de uma maior incidência no verão, pode ocorrer em qualquer estação do ano".
Mesmo sendo uma patologia comum, a alergia solar "não é uma doença grave", esclarece o médico.
Trata-se de uma reação imunoalérgica de causa desconhecida e que parece acontecer por alterações proteicas desencadeadas e induzidas pela exposição à luz solar. As radiações responsáveis são as ultravioletas, UVA (340 – 400 nanometros)
"Apesar de os mecanismos desta doença serem desconhecidos, a Medicina tenta encontrar formas de controlar estes doentes, sendo que a melhor forma é a prevenção", diz.
De acordo com a dermatologista Leonor Girão são as "pessoas com pele clara, com muito pouco pigmento (fototipos 1 e 2), as crianças, as pessoas a tomar medicamentos ou a fazer terapêuticas fotosensibilizantes (que tornam a pele mais sensível ao sol (como a quimioterapia, a toma de anti-inflamatórios, antibióticos, radioterapia), as pessoas com doenças auto-imunes e as pessoas com tendência forte a alergias" as mais vulneráveis aos efeitos nocivos dos raios solares.
No que diz respeito à alergia ao sol em si, esta é "relativamente frequente sobretudo em pessoas que fazem exposições súbitas e intensas após um período em que a pele esteve coberta (início do verão)", alerta.
Mesmo com a possibilidade de os sintomas variarem de pessoa para pessoa, é comum aparecerem "manchas e por vezes pápulas ou mesmo bolhas, após a exposição solar, sobretudo nas áreas descobertas, acompanhadas de coceira", afirma a médica. Os braços e o decote à volta do pescoço tendem a ser as partes do corpo mais afetadas, uma vez que passaram os meses mais frios tapadas, já a face "normalmente é poupada", atira Pedro da Mata.
Mais vale prevenir do que remediar
No que toca à saúde, prevenção é sempre a palavra de ordem e nos problemas de pele que são desencadeados por má proteção ou maus hábitos, mais vale mesmo prevenir do que remediar (o que nem sempre é remediável).
Para Pedro da Mata, a prevenção de uma alergia solar (e de qualquer outra patologia cutânea relacionada com o sol) passa "por utilizar um creme de proteção solar, de índice 50+ (UVB) e também UVA e por aplicar o creme escolhido cerca de 30 minutos antes da exposição solar e depois de quatro em quatro horas".
A exposição ao sol deve ser feita de forma progressiva, por exemplo: indução de tolerância nos primeiros 10 dias de exposição (no primeiro dia durante 15 minutos e acrescentar cinco minutos em cada dia) e evitar a exposição entre as 11h00 e as 16h00
Além disso, continua o especialista, "é também importante saber que existem alimentos e medicamentos que são fotosensibilisantes" e que, por isso, podem ser impulsionadores destas reações. Entre os alimentos que podem promover a alergia solar estão a lima, os figos, a salsa, a mostarda, a cenoura e o aipo; já no que diz respeito aos medicamentos, "alguns (e só alguns) antidepressivos, neuroléticos, antibióticos, diuréticos, hipoglicimiantes, anti-inflamatórios".
Quando a prevenção falha e a alergia solar já começa a dar os primeiros sinais, a dermatologista Leonor Girão aconselha a "eliminar a exposição solar e a aplicar um filtro solar em creme com índice alto de proteção (50+) e com cobertura UVB, UVA e desejavelmente também radiação visível nas áreas de pele exposta".
Tomar um antialérgico pode também ajudar a atenuar os sintomas de alergia ao sol, mas o aconselhamento médico, neste caso, é fundamental, até porque "em situações específicas é necessária mais terapêutica médica a avaliar pelo dermatologista".
Pedro da Mata aconselha ainda a "tomar banho com óleos que se dispersem em água, aplicar creme emoliente depois do banho, beber muita água e permanecer em ambientes frescos, utilizar vestuário adaptado (camisas largas de trama apertada, manga comprida, chapéu e calças largas) e evitar a expor-se mais ao sol durante a crise".
"Uma vez terminada a exposição solar, as lesões de fotosensibilidade atenuam-se progressivamente ao fim de cinco a 15 dias, mas uma nova exposição pode provocar de novo as lesões características", conclui o médico.