Analistas políticos no Reino Unido consideram que o novo Governo espanhol poderá ser mais flexível nas negociações do 'Brexit', dando menos prioridade à questão de Gibraltar do que o executivo anterior para focar-se na política interna.
"Gibraltar voltar a ser espanhol não será uma prioridade na agenda espanhola do novo Governo", considera Jose Olivas-Osuna, professor convidado na universidade London School of Economics.
Embora não exista ainda uma posição oficial sobre o assunto, a impressão do académico é que o líder do PSOE "vai evitar confrontos com o Governo britânico sobre a questão de Gibraltar, que não será de todo uma prioridade. Não estará no topo da agenda da política externa".
Na sua opinião, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, também terá uma palavra a dizer e o assunto não vai desaparecer da agenda do 'Brexit', mas acrescenta: "Numa potencial negociação, este Governo poderá ser mais flexível se houver cedências do Governo britânico para abrir as fronteiras com Gibraltar".
Fernando Bertoa, professor de Política e Relações Internacionais na Universidade de Nottingham, concorda na análise de que Sánchez é menos intransigente e deverá concordar em manter a situação atual.
"Os socialistas querem uma solução negociada e têm colocado menos pressão do que o PP na questão de Gibraltar, que ameaçava fechar fronteiras depois do 'Brexit'. Mas em Espanha a questão é menos importante do que no Reino Unido, mesmo se não existe posição oficial", referiu.
O diagnóstico dos politólogos coincide com o do ministro-chefe de Gibraltar, Fabián Picardo, que disse esta semana em Nova Iorque que espera que a mudança de Governo em Espanha facilite a cooperação e alcance acordos benéficos para todas as partes, acusando o anterior executivo do Partido Popular (PP) de violar acordos e usar "falsas calúnias" contra Gibraltar.
Reiterando a posição de que "Gibraltar nunca será espanhol", Picardo quer uma relação de amizade e cooperação com Madrid que, durante o Governo de Mariano Rajoy, tinha como política exigir o regresso da "única colónia existente na Europa" à administração espanhola.
O pequeno enclave de sete quilómetros quadrados, com 32.000 habitantes, situado junto da costa marítima no sul de Espanha é território britânico e tem sido um tema controverso nas negociações do 'Brexit' porque Madrid reteve o direito de veto num acordo entre a UE e Reino Unido que envolva Gibraltar.
Logo a 04 de junho, a primeira-ministra britânica, Theresa May, telefonou para felicitar Sánchez pela sua eleição, realçando as relações bilaterais históricas e a importância de proteger os direitos dos 116 mil cidadãos espanhóis no Reino Unido e dos 300 mil britânicos que residem em Espanha.
Sobre Gibraltar, May defendeu a necessidade de "negociações construtivas" com o Governo regional e com Madrid para resolver a questão do 'Brexit', marcando encontro para o Conselho Europeu de 28 e 29 de junho em Bruxelas.
O executivo presidido pelo líder do Partido Popular (PP), Mariano Rajoy, foi derrubado a 01 de junho por uma moção de censura construtiva, depois de Sánchez, presidente do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), ter reunido os apoios necessários no parlamento espanhol.