EUA deverão abandonar tratado de desarmamento nuclear a partir de domingo
Os EUA deverão iniciar no domingo o processo de saída do tratado sobre armas nucleares de médio alcance, assinado em 1987, por considerarem que a Rússia não o respeita, mas Moscovo já pediu a reabertura de negociações.
© Reuters
Mundo assinado em 1987
Na quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, voltou a pedir aos EUA para retomarem as negociações sobre o tratado (conhecido pela sigla inglesa INF -- Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty) - que foi assinado em 1987 e que os EUA ameaçam abandonar a partir de domingo, por considerarem que a Rússia não o tem respeitado.
Este tratado é considerado uma pedra angular no controlo de uma nova corrida às armas nucleares e o seu abandono constituiu uma ameaça que preocupa várias organizações internacionais.
Em outubro de 2018, o Presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou rasgar o tratado INF se a Rússia não destruísse o míssil Novator - que, segundo a NATO, viola o acordo de desarmamento nuclear.
Moscovo responde que esta exigência dos EUA é "inaceitável", alegando que o Novator tem um alcance de apenas 480 quilómetros, pelo que não viola o tratado INF (que se aplica a mísseis com alcance entre 500 e 5000 quilómetros).
A Rússia diz que nunca desrespeitou o tratado e que, pelo contrário, foram os EUA que infringiram as regras do acordo, ao produzirem uma nova ogiva nuclear para equipar mísseis intercontinentais para submarinos atómicos, que, na perspetiva de Moscovo, "aumenta o risco de uma guerra nuclear".
Esta semana, as cinco maiores potências mundiais (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França) reuniram-se em Pequim para discutir a política nuclear e a não proliferação de armas atómicas, tendo discutido a questão do INF.
Durante esse encontro, a vice-secretária de Estado dos EUA encarregada do controlo de armas e de segurança internacional disse existir falta de transparência por parte da China e dos EUA sobre os seus planos nucleares.
Em resposta, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, disse que o governo chinês está "comprometido com o progresso das negociações" à volta dos tratados de desarmamento nuclear.
O vice-ministro dos Negócios estrangeiros russo, Sergey Riabkov, disse que o seu governo está igualmente empenhado em travar a guerra ao armamento e que "muitas questões permanecem sem solução apenas devido à falta de vontade política", considerando que os EUA não têm tido uma atitude correta perante os parceiros de acordo.
Mas a perceção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) é diferente, apontando o dedo a Moscovo, por não se empenhar em encontrar saídas para o impasse negocial à volta do tratado INF.
"Não houve nenhum progresso real, porque a Rússia não mostrou vontade de mudar a sua posição", afirmou esta semana o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenbert, no final de uma reunião de embaixadores, em Bruxelas, para discutir as divergências da organização com o governo russo.
Mas se na véspera do prazo estipulado por Washington para os EUA abandonarem o tratado INF o impasse negocial parece manter-se, as esperanças de todas as partes deslocam-se agora para as conversações que se prevê que aconteçam nos próximos meses.
O processo de retirada dos EUA do tratado começa no domingo, mas durará seis meses, período durante o qual novas soluções podem ser encontradas.
O tratado INF foi assinado em Washington entre os EUA e a União Soviética, em 1987, e entrou em vigor em 1988, estipulando a eliminação de todos os mísseis convencionais e nucleares com alcance entre 500 e 5.000 quilómetros.
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