"As probabilidades de ser primeiro-ministro são as mesmas de encontrar Elvis em Marte, ou de eu reencarnar como uma azeitona", gracejou há quinze anos, quando lhe perguntaram sobre as aspirações ao poder.
Porém, depois de ganhar confortavelmente todas as voltas da primeira fase da eleição, limitada aos deputados conservadores, era quase inevitável que triunfasse na votação dos militantes de base devido ao carisma e popularidade que faltam ao adversário, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt.
A notoriedade foi ganha graças ao feitio jocoso e provocador, como quando sugeriu que o presidente turco Recep Erdogan teria um interesse sexual em cabras, ou quando chamou ao ex-presidente norte-americano George W. Bush "texano belicista estrábico", ou ainda quando descreveu como "caixas de correio" as mulheres muçulmanas que usam o 'niqab'.
Alexander Boris de Pfeffel Johnson nasceu em 1964 em Nova Iorque e viveu em Bruxelas, mas estudou em Inglaterra, primeiro no colégio interno de Eton, que educou muitos primeiros-ministros, aristocratas e membros da realeza britânicos, e depois na universidade de Oxford.
Antes de entrar para a política, foi jornalista do diário conservador The Times, do qual foi despedido por ter inventado uma citação, e depois do Daily Telegraph, onde se destacou como correspondente em Bruxelas devido aos artigos críticos das instituições europeias.
O antigo editor no Times Martin Fletcher escreveu na revista New Statesman que Boris Johnson tinha como missão inflamar o euroceticismo e "desacreditar a UE a cada oportunidade".
Durante quatro anos acumulou a direção da revista The Spectator com as funções de deputado pelo círculo de Henley, onde foi eleito em 2001, herdando o lugar deixado vago por Michael Heseltine, hoje um dos principais opositores do Brexit.
Em 2008, destronou o trabalhista Ken Livingstone de mayor e foi reeleito em 2012, reivindicando o sucesso dos Jogos Olímpicos de Londres.
Porém, do seu legado fazem parte o erro de design dos novos autocarros, que aqueciam demasiado por as janelas não abrirem, ou um projeto irrealista para uma "ponte jardim" sobre o rio Tamisa, resultando em milhões de euros de prejuízos para os cofres da autarquia.
Um ano depois da reeleição para o parlamento, Boris Johnson divergiu da maioria das principais figuras do partido Conservador e do primeiro-ministro de então, David Cameron, e optou por fazer campanha para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
"Esta é a única oportunidade que vamos ter para mostrar que nos preocupamos com a autonomia. Um voto na Permanência será visto em Bruxelas como sinal verde para mais federalismo e para a erosão da democracia", argumentou na altura.
Durante a campanha, usou várias premissas falsas, como, por exemplo, que a UE estava a preparar-se para deixar entrar a Turquia, aludindo para o risco de mais imigração, algo que recentemente tentou desmentir, apesar de as suas declarações estarem documentadas.
Falhou na tentativa de suceder a Cameron após o referendo devido à traição de Michael Gove, que lhe retirou o apoio e anunciou a sua própria candidatura ao dizer que Johnson não conseguia "fornecer a liderança ou construir uma equipa para a tarefa" de primeiro-ministro.
Surpreendentemente, foi escolhido por Theresa May para ministro dos Negócios Estrangeiros, mas o curto mandato foi manchado por vários episódios, em particular quando afirmou erroneamente que a anglo-iraniana Nazanin Zaghari-Ratcliffe, detida pelas autoridades iranianas, tinha ido ao país dar aulas de jornalismo, o que terá contribuído para agravar a sentença de prisão.
Demitiu-se um ano depois, em desacordo com a estratégia da primeira-ministra para o Brexit, e passou a intervir no debate político através das crónicas semanais no Daily Telegraph, que lhe paga cerca de 5.300 libras (5.900 euros) por cada texto.
Apesar da aversão causada em muitos dos conservadores e eleitores moderados, pelo menos uma sondagem indicou que, com ele à frente, o partido Conservador seria capaz de vencer eleições legislativas.
Boris Johnson tem repetido a determinação em implementar o Brexit até ao prazo de 31 de outubro, não excluindo uma saída sem acordo, alertando para o risco de o partido ser ultrapassado pelo partido Trabalhista ou pelo Partido do Brexit, de Nigel Farage.
"Existe uma escolha real entre implementar o Brexit ou a potencial extinção deste partido. Eu acredito que sou o mais bem colocado para erguer este partido, vencer Jeremy Corbyn e colocar Farage de novo na caixa", resumiu, quando lançou a campanha para suceder a Theresa May.
Nas últimas semanas, reiterou que "querer é poder" e mostrou-se confiante de que vai conseguir negociar alterações ao acordo de saída negociado por May com Bruxelas, substituindo a solução para a Irlanda do Norte por alternativas tecnológicas, ignorando a recusa dos líderes europeus em modificar o documento.
Num estilo próprio, entre ironia e provocação, invocou o 50.º aniversário da viagem de astronautas norte-americanos à Lua para simplificar o problema que colocou o Reino Unido numa crise constitucional.
"Se eles conseguiram usar programação de computador tricotada à mão para conseguir uma reentrada sem atritos na atmosfera da Terra em 1969, nós podemos resolver o problema do comércio sem atritos na fronteira da Irlanda do Norte", disse.
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