"Ele nunca vai conseguir resolver o impasse do Brexit. Não pode forçar uma saída sem acordo, porque o parlamento vai bloqueá-lo. Não pode revogar o artigo 50, porque levaria à extinção do Partido Conservador. Não pode aprovar o Acordo de Saída. E não pode negociar um novo acordo porque a UE está cansada dos britânicos e quer que saiam", resume Russell Foster, académico da universidade King's College London, em declarações à agência Lusa.
Segundo este historiador e politólogo, o sucessor de Theresa May vai encontrar o país num "caos total", polarizado entre defensores e opositores à saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e marcado por uma grande falta de confiança dos eleitores nos políticos.
Porém, Foster acredita que Boris Johnson só vai tornar a situação pior porque "é um péssimo político", descrevendo-o como "narcisista, preguiçoso e obcecado pelo poder".
O professor e Diretor do Centro de Estudos sobre o Brexit da universidade de Birmingham, Alex de Ruyter, estima, mesmo assim, que o novo chefe de governo vai tentar uma operação de charme nas principais capitais europeias, Bruxelas, Paris e Berlim, para procurar convencer os líderes europeus a renegociar o acordo de saída e a solução para a Irlanda do Norte.
Durante a campanha para a eleição, Boris Johnson argumentou que a UE tem interesse numa saída ordenada e mostrou-se convicto de que seria capaz de demonstrar a existências de alternativas tecnológicas para evitar uma fronteira física com a Irlanda.
Porém, tal como Russell Foster, de Ruyter não acredita que os 27 cedam, pelo que Boris Johnson vai encontrar-se no mesmo labirinto que a antecessora, com dificuldade em passar um acordo de saída pelos eurocéticos mais radicais e os pró-europeus anti-Brexit.
"Se ele tentar avançar com uma saída sem acordo, provavelmente vai enfrentar uma moção de censura em setembro e vai perder, possivelmente precipitando uma eleição e uma mudança de governo", sugere o professor de Birmingham.
Também Foster considera inevitável que Boris Johnson, percebendo que não pode ir mais longe com o Brexit, convoque uma eleição geral.
"Mas as sondagens mostram que mais, uma vez não haverá maioria, para qualquer partido. Todo o trauma dos últimos três anos vai repetir-se de novo!", exclama.
Embora o carisma de Boris Johnson possa melhorar a popularidade do partido Conservador, é improvável que seja suficiente para obter uma maioria absoluta e existe o risco de perder umas eleições para o partido Trabalhista ou para o partido do Brexit, pelo que, para Alex de Ruyter, só existe uma outra alternativa.
"É mais provável que ele seja forçado a tomar o rumo de outro referendo e pedir à UE uma nova prorrogação para esse fim", conclui.
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