Dez anos de Boko Haram, o grupo que considera "blasfémia" a educação

O grupo extremista islâmico Boko Haram ficou conhecido pela comunidade internacional há dez anos, após uma violenta repressão das forças estatais no nordeste da Nigéria, conduzindo o país a uma guerra civil.

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Lusa
27/07/2019 08:50 ‧ 27/07/2019 por Lusa

Mundo

Boko Haram

Em julho de 2009, as operações contra o Boko Haram, que então se dedicava principalmente à oração, mataram centenas de membros do grupo, incluindo o seu líder espiritual, Muhammed Yusuf, numa manobra que se baseou no receio de que a presença da al-Qaida pudesse empurrar os nigerianos muçulmanos para um caminho de violência.

Após a repressão pelas forças de segurança poucos esperavam o restabelecimento do grupo cujo nome significa "a educação ocidental é blasfémia".

Abubakar Shekau liderou esta reforma, alterando a dinâmica do grupo e transformando-o num grupo com uma ideologia extremista.

Desde então o Boko Haram cresceu e, de várias cidades nordestinas, expandiu-se para a região do lago Chade, tendo sido responsável, no último ano, por ataques na Nigéria, Camarões, Chade e Níger.

Desde 2009, o número de vítimas mortais provocadas pelo grupo ultrapassou os 30.000, com alguns observadores a estimarem mais de 70.000 mortos como consequência direta dos conflitos.

Segundo as Nações Unidas, as ofensivas do grupo provocaram ainda aproximadamente dois milhões de deslocados.

Em meados de 2011, os ataques perpetrados por bombistas suicidas tornaram-se iniciativas comuns do Boko Haram, com o grupo a realizar pelo menos 30 em cerca de ano e meio em cidades como Abuja, Kano, Kaduna e Jos.

O grupo alcançou maior reconhecimento internacional em 2014, com o rapto de 276 raparigas de escolas na cidade de Chibok, estado de Borno.

Atualmente, as estimativas contam para 6.000 militantes no grupo, que se encontra dividido em duas fações: uma maior e mais sofisticada, afiliada com o autoproclamado Estado Islâmico (EI), o Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP), e uma fação mais pequena e brutal, o Jama'at Ahl al-Sunnah li-l-Dawah wa-l-Jihad (JAS), esta última liderada por Shekau.

O JAS chegou a estar aliado ao ISWAP, adotando o nome deste, quando em março de 2015 Shekau declarou lealdade ao EI.

No entanto, a nomeação de Abu Musab al-Barnawi para a liderança do ISWAP, substituindo Shekau, levou a que este abandonasse o ISWAP, em conjunto com o JAS e regressasse ao estado do Borno.

Desde agosto de 2016 que o ISWAP e o JAS se apresentam como rivais, mas evitam atacar-se.

A porção territorial controlada por estes dois grupos é inferior à que estava sob o controlo do Boko Haram em 2014, quando Shekau declarou um "estado islâmico" na Nigéria.

Da mesma maneira, também a capacidade ofensiva das fações diminuiu, sendo que o grupo que em 2012 era capaz de realizar ataques em larga escala como à capital nigeriana, Abuja, e a um dos principais entrepostos comerciais do norte do país, Kano, deixou de o fazer.

Esta redução foi motivada principalmente pelos crescentes esforços das forças de segurança nigerianas -- que desmantelaram uma das principais células do Boko Haram, responsável pela construção de bombas -- e pela saída de vários membros.

Apesar de controlar uma área mais pequena, o Boko Haram consolidou a sua presença na região do lago Chade, coordenando os seus ataques e aumentando a sua componente estratégica, no entanto, a sua capacidade de atacar novas áreas e estabelecer postos de controlo diminuiu.

Dez anos depois da sua insurgência, o Boko Haram evoluiu e dividiu-se, mas continua uma potência perigosa que não deve ser ignorada, sendo que um potencial apoio por parte de uma das fações do EI em África (como o ISWAP ou o Estado Islâmico do Grande Saara - ISGS) pode ser fundamental para uma nova vida do grupo nigeriano.

 

 

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